Testemunhos Seletos - Volume 1

CAPÍTULO 4

Guardador do Irmão

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Em 20 de novembro de 1885, enquanto me achava em oração, o Espírito do Senhor veio súbita e poderosamente sobre mim, e fui arrebatada em visão.

Vi que o Espírito do Senhor tem estado a extinguir-Se na igreja. Os servos de Deus têm confiado demasiado na força do argumento, e não têm mantido em Deus aquela firme confiança que deveriam ter. Vi que a mera discussão sobre a verdade não levará as almas a decidir colocar-se ao lado dos remanescentes; pois a verdade é impopular. Os servos de Deus devem ter a verdade na alma. Disse o anjo: "Eles a devem receber com o calor da glória, levá-la no próprio seio, e derramá-la com calor e zelo de alma para os que a ouvem." Uns poucos, que são conscienciosos, estão prontos a decidir segundo o peso da evidência; mas é impossível mover a muitos por meio de uma simples teoria da verdade. Preciso é que ela seja acompanhada de poder, um testemunho vivo a impulsioná-los.

Vi que o inimigo está ocupado em destruir almas. A exaltação tem penetrado nas fileiras; importa que haja mais humildade. Há demasiada condescendência com a independência de espírito entre os mensageiros. Isto tem que ser posto de lado, e cumpre que os servos de Deus se unam mais uns aos outros. Tem havido muito do espírito que indaga: "Sou eu guardador do meu irmão?" Gên. 4:9. Disse o anjo: "Sim, tu és o guardador de teu irmão. Deves ter por teu irmão vigilante cuidado, estar interessado em seu bem-estar, e nutrir para com ele um bom e amorável espírito. Avançai juntos, avançai juntos." É desígnio de Deus que os homens tenham o coração aberto e sincero, sem presunção, manso e humilde, com simplicidade.


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Esse é o princípio do Céu; assim o ordenou Deus. Mas o homem, frágil e pobre, buscou algo diferente - seguir seu próprio caminho, e atender cuidadosamente a seu próprio interesse.

Indaguei do anjo por que a simplicidade fora excluída da igreja, e nela haviam penetrado o orgulho e a exaltação. Vi que esta foi a razão de quase havermos sido entregues à mão do inimigo. Disse o anjo: "Olha e vê que predomina este sentimento: Sou eu guardador do meu irmão?" E outra vez ele disse: "Tu és o guardador do teu irmão. Tua profissão, tua fé, exige que te negues a ti mesmo e sacrifiques a Deus, ou serás indigno da vida eterna; pois muito caro foi ela para ti comprada, isto é, pela angústia, os sofrimentos e o sangue do amado Filho de Deus."

Algemados por Posses Terrenas

Vi que muitos, em vários lugares, no leste e no oeste, estavam ajuntando sítio a sítio, e terra a terra, e casa a casa, fazendo da causa de Deus uma desculpa, dizendo que assim fazem para que possam ajudar a causa. Algemam-se a si mesmos de maneira que não podem ser senão de pouco préstimo à causa de Deus. Alguns compram um pedaço de terra, e trabalham com todas as suas forças para pagá-lo. Seu tempo é tão ocupado, pouco é o que dele podem reservar para oração, e servir a Deus, e dele obter forças a fim de vencer suas tentações. Acham-se endividados, e quando a causa necessita de seu auxílio, não a podem ajudar; pois devem livrar-se primeiro da dívida. Mas tão depressa se vêem livres de uma dívida, estão mais longe de ajudar a causa do que antes: pois novamente se envolvem num acréscimo de sua propriedade. Lisonjeiam-se a si mesmos de que esta orientação é correta, de que empregarão o proveito na causa, quando na realidade estão é ajuntando tesouros aqui. Amam a verdade em palavras, mas não por obra. Amam a obra apenas tanto quanto suas obras o demonstram. Amam mais o mundo, e menos a causa de Deus; a atração do terrestre se fortalece, enquanto a do Céu enfraquece. O coração deles está com seu tesouro. Por seu exemplo dizem aos que os rodeiam que pretendem


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demorar-se aqui, que a Terra é a sua pátria. Disse o anjo: "Tu és o guardador do teu irmão."

Muitos se têm envolvido em despesas desnecessárias, unicamente para satisfazer os sentimentos, o gosto e os olhos, quando a causa precisava dos próprios recursos que eles usavam, e quando alguns dos servos de Deus andavam mal trajados, e tinham o seu trabalho entravado por falta de recursos. Disse o anjo: "Em breve passará o seu tempo de ação. Suas obras mostram que o próprio eu é seu ídolo, e a ele sacrificam." O próprio eu precisa ser satisfeito em primeiro lugar; seu sentimento é: "Sou eu guardador do meu irmão?" Gên. 4:9. Muitos têm recebido advertência após advertência, mas não deram ouvidos. O eu é o objeto principal, e diante dele tudo se deve curvar.

Vi que a igreja tem quase perdido o espírito de abnegação e sacrifício; fazem do eu e do interesse próprio a primeira coisa, e então fazem pela obra o que julgam que podem, seja sim ou seja não. Tal sacrifício, vi, é defeituoso, e não aceitável por Deus. Todos devem estar interessados em fazer o máximo para levar avante a causa. Vi que os que não têm propriedade mas possuem forças físicas, são perante Deus responsáveis por elas. Devem ser diligentes no trabalho e de espírito fervoroso; não devem deixar que os que têm posses façam todo o sacrifício. Vi que eles podem sacrificar, e que é seu dever fazê-lo, da mesma maneira que os que possuem propriedades. Muitas vezes, porém, os que não possuem bens não compreendem que se podem negar a si mesmos de muitas maneiras, podem gastar menos consigo mesmos e satisfazer menos seus gostos e apetites, e encontrar muito em que poupar para a causa, ajuntando assim tesouros no Céu. Vi que há amabilidade e beleza na verdade; mas tire-se o poder de Deus, e ela ficará impotente.

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