Primeiros Escritos

CAPÍTULO 21

O Sonho Sobre Guilherme Miller

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levantei-me. O olhar amorável de Jesus ainda estava sobre mim, e Seu sorriso me enchia de alegria a alma. Sua presença despertou em mim uma santa reverência e um amor inexprimível.

Meu guia abriu então a porta, e nós ambos saímos. Mandou-me tomar de novo todas as coisas que havia deixado fora. Isto feito, entregou-me um fio verde muito bem enovelado. Este ele me disse que colocasse perto do coração, e quando quisesse ver a Jesus, que o tirasse do seio e o estirasse inteiramente. Preveniu-me de que o não deixasse ficar enrolado durante muito tempo, para que não se embaraçasse e fosse difícil desemaranhar. Coloquei o fio junto ao coração, e cheia de alegria desci a estreita escada, louvando ao Senhor, e dizendo a todos com quem me encontrava onde poderiam encontrar Jesus. Este sonho deu-me esperança. O fio verde representava ao meu espírito a fé; e a beleza e simplicidade de confiar em Deus me começaram a raiar na alma.

O Sonho Sobre Guilherme Miller

Sonhei que Deus, por uma mão invisível, enviou-me um cofrinho admiravelmente trabalhado, cujo tamanho era de mais ou menos 15 cm de comprimento por 25 cm de largura, feito de ébano e curiosamente marchetado de pérolas. Presa ao pequeno cofre havia uma chave. Imediatamente tomei a chave e abri o cofre quando, para minha surpresa, encontrei-o cheio de jóias de toda espécie e tamanho, diamantes, pedras preciosas e moedas de prata e ouro e de todo tamanho e valor, lindamente arranjadas em seus diferentes lugares no cofre; e assim arranjadas elas refletiam luz e glória só igualadas pelo Sol.

Achei que eu não devia desfrutar esta maravilhosa visão sozinha, embora o meu coração estivesse mais que jubiloso ante


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o brilho, beleza e valor do seu conteúdo. Assim coloquei-o em uma mesa de centro, em minha sala, e anunciei que todos os que tivessem vontade podiam vir e contemplar a mais gloriosa e fulgurante visão nunca antes vista pelo homem nesta vida.

O povo começou a entrar, de início poucos em número, mas aumentou até tornar-se uma multidão. Quando no princípio olharam para dentro do cofre, exclamaram de alegria. Mas quando os espectadores aumentaram, cada um começou a mexer nas jóias, tirando-as do cofre e espalhando-as na mesa.

Comecei a pensar que o dono reivindicaria outra vez o cofre e as jóias de minhas mãos; e se eu permitisse que fossem espalhadas, jamais conseguiria colocá-las de novo em seus lugares no cofre como estavam antes; e senti que eu nunca poderia fazer face ao custo, pois seria imenso. Comecei então a apelar ao povo para que não as manuseasse, não as tirasse do cofre; mas quanto mais eu pedia, mais as espalhavam; e agora pareciam espalhá-las todas sobre o assoalho, pelo piso e sobre toda peça de mobiliário na sala.

Vi então que entre as pedras genuínas e moedas, eles haviam espalhado uma quantidade inumerável de jóias ilegítimas e moedas falsas. Senti-me profundamente revoltada com seu baixo procedimento e ingratidão, e reprovei-os e censurei-os por isso; mas quanto mais eu os reprovava, mais eles espalhavam as jóias e moedas falsas entre as genuínas.

Fiquei revoltada e comecei a usar a força física para expulsá-los do aposento; mas enquanto eu estava empurrando um para fora, três entravam e traziam para dentro sujeira, cisco, areia e toda espécie de lixo, até que cobriram cada uma das verdadeiras jóias, diamantes e moedas, ficando tudo fora de vista. Partiram também em pedaços o meu cofre e


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espalharam-no entre o lixo. Pensei que homem algum se incomodava com minha tristeza ou minha ira. Fiquei inteiramente desanimada e desencorajada, e assentei-me e chorei.

Enquanto eu estava assim chorando e lamentando a minha grande perda e responsabilidade, lembrei-me de Deus, e ferventemente orei para que Ele me enviasse auxílio.

Imediatamente a porta se abriu e um homem entrou na sala, quando todas as pessoas se haviam retirado; e esse homem, tendo na mão uma vassoura, abriu as janelas, começando a varrer a sujeira e o lixo da sala.

Pedi-lhe que desistisse, pois havia algumas jóias preciosas espalhadas entre o lixo.

Disse-me ele para "não temer", pois "tomaria cuidado delas".

Então, enquanto ele varria o lixo e a sujeira, jóias e moedas falsas, tudo saiu pela janela como uma nuvem, sendo levados pelo vento para longe. Na agitação eu fechei os olhos por um momento; quando os abri o lixo tinha desaparecido. As jóias preciosas, os diamantes, as moedas de ouro e de prata, continuavam espalhadas em profusão por todo o recinto.

Ele colocou então sobre a mesa um cofre, muito maior e mais belo que o anterior, e ajuntou as jóias, os diamantes, as moedas, e lançou-as dentro do cofre, até não ficar uma só, embora alguns dos diamantes não fossem maiores que a ponta de um alfinete.

Então ele me chamou: "Vem e vê."

Olhei para dentro do cofre, mas os meus olhos estavam deslumbrados com a visão. Elas brilhavam com glória dez vezes maior que a anterior. Pensei que tivessem sido esfregadas contra a areia pelos pés das pessoas ímpias que as haviam espalhado e sobre elas pisado contra a poeira. Elas estavam arrumadas em bela ordem no cofre, cada uma no seu devido lugar, sem qualquer visível esforço da parte do homem que as pusera ali. Soltei uma exclamação de verdadeira satisfação, e esse grito despertou-me.

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