Primeiros Escritos

CAPÍTULO 37

O Primeiro Advento de Cristo

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Quando o vi, apoiava o queixo sobre a mão esquerda. Parecia estar em profundos pensamentos. Tinha um sorriso no rosto, o qual me fez tremer, tão cheio de maldade e dissimulação satânica era ele. Este sorriso é o que ele tem precisamente antes de segurar sua vítima; e, ao fixá-la em sua cilada, tal sorriso se torna horrível.

O Primeiro Advento de Cristo

Fui conduzida ao tempo em que Jesus devia assumir a natureza humana, humilhar-Se como homem e sofrer as tentações de Satanás.

Seu nascimento foi destituído de grandeza mundana. Ele nasceu em um estábulo, e teve por berço uma manjedoura; contudo, Seu nascimento foi muito mais honrado do que o de qualquer dos filhos dos homens. Anjos celestiais informaram os pastores do advento de Jesus, e luz e glória de Deus acompanharam seu testemunho. O exército celestial tocou suas harpas e glorificou a Deus. Triunfantemente anunciaram o advento do Filho de Deus a um mundo caído a fim de cumprir a obra da redenção e trazer paz, felicidade e vida eterna ao homem, mediante Sua morte. Deus honrou o advento de Seu Filho. Os anjos O adoraram.

Anjos de Deus pairaram sobre a cena de Seu batismo; o Espírito Santo desceu sob a forma de uma pomba e resplandeceu sobre Ele; e, ficando o povo grandemente admirado, com os olhos fixos nEle, ouviu-se do Céu a voz do Pai, dizendo: "Tu és o Meu Filho amado, em quem Me comprazo." Mar. 1:11.

João não estava certo de que era o Salvador que viera para ser por ele batizado no Jordão. Mas Deus lhe prometera um sinal pelo qual conheceria o Cordeiro de Deus. Aquele sinal foi dado ao repousar sobre Jesus a pomba celestial, e a glória de Deus


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resplandeceu em redor dEle. João estendeu a mão, apontando para Jesus, e com grande voz exclamou: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." João 1:29.

João informou seus discípulos de que Jesus era o Messias prometido, o Salvador do mundo. Quando sua obra estava a terminar-se, ensinou seus discípulos a olharem para Jesus, e segui-Lo como o grande Mestre. A vida de João foi triste e abnegada. Ele anunciou o primeiro advento de Cristo, mas não lhe foi prometido testemunhar Seus milagres e as manifestações de Seu poder. João sabia que, quando Jesus Se estabelecesse como Ensinador, ele, João, deveria morrer. Sua voz raras vezes era ouvida, exceto no deserto. Sua vida era solitária. Não se apegou à família de seu pai, para desfrutar de sua companhia, mas deixou-a para cumprir sua missão. Multidões abandonavam as atarefadas cidades e aldeias e arrebanhavam-se no deserto para ouvirem as palavras do maravilhoso profeta. João punha o machado à raiz da árvore. Reprovava o pecado, sem temer as conseqüências, e preparava o caminho para o Cordeiro de Deus.

Herodes sentiu-se afetado ao ouvir os poderosos, diretos testemunhos de João, e com profundo interesse indagou o que precisava fazer para tornar-se seu discípulo. João estava familiarizado com o fato de que ele estava prestes a casar-se com a mulher de seu irmão, estando o marido ainda vivo, e fielmente declarou a Herodes que isto não era lícito. Herodes não estava disposto a fazer qualquer sacrifício. Casou-se com a esposa de seu irmão, e por sua influência apoderou-se de João e o aprisionou, com o propósito, porém, de libertá-lo. Enquanto confinado na prisão, João ouviu por intermédio de seus discípulos, a respeito das poderosas obras de Jesus. Ele não podia ouvir Suas graciosas palavras; mas os discípulos informavam-no e confortavam-no com o que ouviam. Logo foi decapitado por influência da esposa de Herodes. Os mais humildes discípulos


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que seguiam a Jesus, testemunhavam Seus milagres e ouviam as confortadoras palavras que caíam de Seus lábios, eram maiores do que João Batista; isto é, foram mais exaltados e honrados, e tiveram mais privilégios na vida.

João viera no espírito e virtude de Elias, para proclamar o primeiro advento de Jesus. Representava os que sairiam no espírito e virtude de Elias, para anunciar o dia da ira, e o segundo advento de Jesus.

Depois do batismo de Jesus no Jordão, foi Ele conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. O Espírito Santo O havia preparado para aquela cena especial de atrozes tentações. Quarenta dias foi tentado por Satanás, e nesses dias nada comeu. Tudo em redor dEle era desagradável e de modo a fazer a natureza humana recuar. Ele estava com as feras e com o diabo, em um lugar desolado, solitário. O Filho de Deus estava pálido e enfraquecido, pelo jejum e sofrimento. Seu caminho, porém, estava traçado, e Ele deveria cumprir a obra que viera fazer.

Satanás tirou vantagens dos sofrimentos do Filho de Deus, e preparou-se para assediá-Lo com múltiplas tentações, esperando obter vitória sobre Ele, porque Se humilhara como um homem. Satanás chegou-se com esta tentação: "Se Tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães." Mat. 4:3. Ele tentou Jesus a condescender em dar-lhe prova de ser Ele o Messias, exercendo o Seu poder divino. Jesus brandamente lhe respondeu: "Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus." Mat. 4:4.

Satanás estava a procurar discussão com Jesus quanto a ser Ele o Filho de Deus. Referiu-se à Sua condição fraca e


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sofredora, e orgulhosamente afirmou que era mais forte do que Jesus. Mas a palavra, do Céu falada: "Tu és Meu Filho amado, em Ti Me tenho comprazido" (Luc. 3:22), foi suficiente para alentar a Jesus através de todos os Seus sofrimentos. Vi que Jesus nada tinha a fazer quanto a convencer Satanás acerca de Seu poder, ou de ser Ele o Salvador do mundo. Satanás tinha prova suficiente da posição exaltada e da autoridade do Filho de Deus. Sua indisposição para render-se à autoridade de Cristo, excluíra-o do Céu.

Satanás, para manifestar o seu poder, levou Jesus a Jerusalém, e pô-Lo no pináculo do templo, e ali O tentou para dar prova de ser o Filho de Deus, lançando-Se abaixo daquela altura vertiginosa. Satanás chegou-se com as palavras da inspiração: "Porque está escrito: Mandará aos Seus anjos, acerca de ti, que te guardem, e que eles te sustenham nas mãos, para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra." Luc. 4:10 e 11. Jesus, respondendo-lhe, disse: "Dito está: Não tentarás ao Senhor teu Deus." Luc. 4:12. Satanás quis fazer Jesus vangloriar-Se com a misericórdia de Seu Pai, e arriscar Sua vida antes do cumprimento de Sua missão. Ele tinha esperado que o plano da salvação fracassasse; mas este plano estava muito profundamente estabelecido para que fosse subvertido ou prejudicado por Satanás.

Cristo é o exemplo para todos os cristãos. Quando eles são tentados, ou são discutidos os seus direitos, deveriam suportá-lo pacientemente. Não deveriam entender que têm direito de apelar para o Senhor a fim de ostentar Seu poder, para conseguirem alcançar vitória sobre os seus inimigos, a menos que possa Deus ser diretamente honrado e glorificado por meio disso. Se Jesus Se houvesse lançado do pináculo do templo, não teria glorificado Seu Pai; pois ninguém teria testemunhado o ato a não ser Satanás e os anjos de Deus. E teria sido tentar ao Senhor o ostentar Seu poder ao Seu pior adversário. Isto


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teria sido condescender com aquele a quem Jesus viera para vencer.

"E o diabo, levando-O a um alto monte, mostrou-Lhe, num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-Lhe o diabo: Dar-Te-ei a Ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero; eu quiser; portanto, se Tu me adorares, tudo será Teu. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus, e só a Ele servirás." Luc. 4:5-8.

Satanás apresentou diante de Jesus os reinos do mundo sob o mais atraente aspecto. Se Jesus o adorasse ali, oferecer-se-ia para abandonar suas pretensões a posses na Terra. Se o plano da salvação fosse executado, e Jesus morresse para remir o homem, sabia Satanás que seu poder deveria limitar-se e finalmente ser tirado, e que ele seria destruído. Portanto, foi seu meditado plano impedir, sendo possível, o cumprimento da grande obra que havia sido começada pelo Filho de Deus. Se o plano da redenção humana falhasse, Satanás conservaria o reino a que tinha pretensões. E, sendo ele bem-sucedido, lisonjeava-se de que reinaria em oposição ao Deus do Céu.

Satanás exultou quando Jesus depôs Seu poder e glória e deixou o Céu. Achou que o Filho de Deus estava então colocado sob o seu poder. A tentação fora tão vitoriosa com o santo par no Éden que ele esperou pelo seu poder e engano satânicos derrotar mesmo o Filho de Deus, salvando por esse meio sua própria vida e reino. Se ele pudesse tentar Jesus a afastar-Se da vontade do Pai, seu objetivo estaria ganho. Mas Jesus defrontou o tentador com a repreensão: "Vai-te, Satanás." Mat. 4:10. Ele deveria curvar-Se unicamente ante Seu Pai. Satanás pretendia

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