Primeiros Escritos

CAPÍTULO 51

Os Mistérios da Iniqüidade

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por Cristo, a quem os judeus crucificaram, acharam que quanto mais sofrimentos levassem sobre eles, mais agradariam a Deus. Muitos dos incrédulos judeus foram portanto mortos, enquanto outros foram expulsos de um para outro lugar, e foram punidos quase de todas as maneiras.

O sangue de Cristo e dos discípulos, a quem haviam levado à morte, estava sobre eles, e eram visitados com terríveis juízos. Seguia-os a maldição de Deus, e eram um provérbio e um escárnio para os pagãos e os chamados cristãos. Foram degredados, enxotados e detestados, como se a marca de Caim estivesse sobre eles. Todavia vi que Deus tinha maravilhosamente preservado este povo e o espalhado sobre o mundo, a fim de que pudessem ser olhados como um povo especialmente visitado pela maldição de Deus. Vi que Deus havia abandonado os judeus como nação; mas os indivíduos entre eles seriam contudo convertidos e habilitados a rasgar o véu dos seus corações e ver que a profecia com relação a eles tinha-se cumprido; eles receberão a Jesus como Salvador do mundo e verão o grande pecado de sua nação em O haver rejeitado e crucificado.

O Mistério da Iniqüidade

Sempre tem sido o desígnio de Satanás afastar a mente do povo, de Jesus para o homem, e destruir a responsabilidade individual. Satanás fracassou em seu desígnio quando tentou o Filho de Deus; porém, foi mais bem-sucedido quando veio ao homem decaído. O cristianismo se corrompeu. Papas e sacerdotes presumiam assumir uma posição exaltada, e ensinavam o povo a esperar deles o perdão de seus pecados, em vez de por si mesmos olharem para Cristo.


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O povo ficou completamente enganado. Ensinou-se-lhes que os papas e sacerdotes eram representantes de Cristo, quando de fato o eram de Satanás; e aqueles que a eles se curvavam, adoravam Satanás. O povo pedia a Bíblia, mas os sacerdotes consideravam perigoso deixá-los tê-la, a fim de a lerem por si mesmos, receosos de que ficassem esclarecidos, e lançassem em rosto os pecados de seus dirigentes. Ensinava-se o povo a receber toda a palavra desses dirigentes como provinda da boca de Deus. Pretendiam ter sobre a mente aquele poder que somente Deus poderia ter. Se ousassem seguir suas próprias convicções, o mesmo ódio que Satanás e os judeus manifestaram para com Jesus se acenderia contra eles, e os que estivessem em autoridade clamariam o seu sangue.

Foi-me mostrado o tempo em que Satanás de maneira especial triunfou. Multidões de cristãos foram mortos da maneira mais terrível, porque preservavam a pureza de sua religião. A Bíblia era odiada, e faziam-se esforços para eliminá-la da Terra. Proibia-se ao povo lê-la, sob pena de morte; e todos os exemplares que se poderiam encontrar eram queimados. Deus, porém, tinha um cuidado especial de Sua Palavra. Ele a protegia. Em diversas ocasiões não existiam senão poucos exemplares da Bíblia; contudo Ele não permitiria que Sua Palavra se perdesse, pois nos últimos dias deveriam multiplicar-se os exemplares da mesma, de tal maneira que cada família a pudesse possuir. Vi que, quando havia apenas poucos exemplares da Bíblia, era ela preciosa e consoladora aos perseguidos seguidores de Jesus. Era lida da maneira mais secreta, e aqueles que tinham este exaltado privilégio, sentiam que haviam tido uma entrevista com Deus, com Seu Filho Jesus, e com Seus discípulos. Mas este bendito privilégio custou a vida a muitos deles. Sendo descobertos, eram levados ao cepo do carrasco, à tortura, ou à masmorra para morrer a fome.


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Satanás não pôde impedir o plano da salvação. Jesus foi crucificado e ressuscitou no terceiro dia. Mas Satanás disse a seus anjos que ele faria mesmo a crucifixão e ressurreição servirem a seus intuitos. Concordava com que aqueles que professavam fé em Jesus cressem que as leis que regulavam os sacrifícios e ofertas judaicos cessaram por ocasião da morte de Cristo, caso pudesse levá-los mais longe e fazê-los crer que a lei dos Dez Mandamentos também morrera com Cristo.

Vi que muitos se deixaram facilmente levar por este ardil de Satanás. Todo o Céu moveu-se de indignação vendo a santa lei de Deus pisada a pés. Jesus e todo o exército celestial conheciam a natureza da lei de Deus; sabiam que Ele não a mudaria ou anularia. A desesperançada condição do homem depois da queda determinou a mais profunda tristeza no Céu, e levou Jesus a oferecer-Se para morrer pelos transgressores da santa lei de Deus. Mas, se aquela lei pudesse ser anulada, o homem poderia ter sido salvo sem a morte de Jesus. Conseqüentemente sua morte não destruiu a lei de Seu Pai, mas engrandeceu-a, honrou-a, e encareceu a obediência a todos os seus santos preceitos.

Houvesse a igreja permanecido pura e constante, Satanás não a poderia ter enganado e tê-la levado a espezinhar a lei de Deus. Neste ousado plano Satanás ataca diretamente o fundamento do governo de Deus, no Céu e na Terra. Sua rebelião determinou sua expulsão do Céu. Depois de rebelar-se desejou ele, a fim de salvar-se, que Deus mudasse Sua lei; mas foi declarado perante todo o exército celestial que a lei de Deus é inalterável. Satanás sabe que, se ele pode fazer outros violarem a lei de Deus, tê-los-á ganho para a sua causa; pois cada transgressor daquela lei deve morrer.

Satanás se decidiu a ir ainda mais longe. Disse a seus anjos que alguns seriam tão zelosos da lei de Deus que não poderiam


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ser apanhados neste ardil; os Dez Mandamentos eram tão claros que muitos creriam que ainda vigoravam, e, portanto, deveria procurar corromper apenas um dos mandamentos. Levou então seus representantes a tentar a mudança do quarto mandamento, ou do sábado, alterando assim o único dos dez, que apresenta o verdadeiro Deus, o Criador dos Céus e da Terra. Satanás apresentou perante eles a gloriosa ressurreição de Jesus e lhe disse que, por haver Ele ressuscitado no primeiro dia da semana, mudara o sábado do sétimo para o primeiro dia da semana.

Assim Satanás fez uso da ressurreição para servir a seus propósitos. Ele e seus anjos se regozijaram de que os erros que haviam preparado, fossem aceitos tão facilmente pelos professos amigos de Cristo. Aquilo que um olhava horrorizado, levado por um sentimento religioso, outro recebia. Deste modo diferentes erros foram recebidos e defendidos com zelo. A vontade de Deus, tão claramente revelada em Sua Palavra, ficou coberta de erros e tradições, que têm sido ensinados como sendo mandamentos de Deus. Posto que a este engano, que desafia aos Céus, seja permitido manter-se até o segundo aparecimento de Jesus, todavia durante todo este tempo de erro e engano não ficou Deus sem testemunhas. Por entre as trevas e perseguição da igreja tem sempre havido verdadeiras e fiéis criaturas que guardaram todos os mandamentos de Deus.

Vi que a multidão de anjos encheu-se de espanto, contemplando os sofrimentos e morte do Rei da glória. Mas não foi para eles maravilha que o Senhor da vida e glória; Aquele que enchera o Céu todo com alegria e esplendor, rompesse as cadeias da morte e saísse de Sua prisão, como um vencedor triunfante. Portanto, se algum destes dois acontecimentos devesse ser comemorado por um dia de descanso, deveria ser a crucifixão.


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Vi, porém, que nenhum destes acontecimentos se destinava a alterar ou anular a lei de Deus; pelo contrário, dão a mais forte prova de sua imutabilidade.

Ambos estes importantes fatos têm seus memoriais. Participando da ceia do Senhor, do pão que é partido e do fruto da vide, apresentamos a morte do Senhor até que Ele venha. As cenas de Seus sofrimentos e morte são assim avivadas em nossa mente. A ressurreição de Cristo é comemorada ao sermos sepultados com Ele pelo batismo, e ressuscitados daquele como túmulo líquido, à semelhança de Sua ressurreição, a fim de vivermos em novidade de vida.

Mostrou-se-me que a lei de Deus permaneceria firme para sempre, e existiria na nova Terra por toda a eternidade. Na criação, quando foram firmados os fundamentos da Terra, os filhos de Deus olhavam com admiração para a obra do Criador, e todo o exército celestial aclamava de alegria. Então foi que se lançara o fundamento do sábado. No fim dos seis, dias da criação, Deus repousou no sétimo dia de toda a obra que fizera; e abençoou o sétimo dia e o santificou, porque nele repousara de toda a Sua obra. O sábado foi instituído no Éden, antes da queda, e foi observado por Adão e Eva e todo o exército celestial. Deus repousou no sétimo dia, e o abençoou e santificou. Eu vi que o sábado nunca será anulado; antes, por toda a eternidade, os santos remidos e todo o exército celestial o observarão em honra ao grande Criador.

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