Testemunhos Seletos - Volume 1

CAPÍTULO 100

A Santidade dos Votos

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A breve mas terrível história de Ananias e Safira foi traçada pela pena da inspiração para benefício de todos quantos professam ser seguidores de Cristo. Essa importante lição não tem penetrado suficientemente no espírito de nosso povo. Seria proveitoso para todos considerarem refletidamente a natureza da séria ofensa pela qual esses culpados foram postos como exemplo. Essa assinalada demonstração da justiça retribuidora de Deus, é terrível, e deve levar todos a temerem e tremerem de repetir pecados que trouxeram tal punição. O egoísmo, eis o grande pecado que deformara o caráter desse culpado casal.

Juntamente com outros, Ananias e sua esposa Safira haviam tido o privilégio de ouvir o evangelho pregado pelos apóstolos. O poder de Deus apoiava a palavra falada, apoderando-se de todos os presentes profunda convicção. A enternecedora influência da graça de Deus tivera sobre o coração deles o efeito de libertá-los do seu apego egoísta às posses terrenas. Enquanto se achavam sob a direta influência do Espírito de Deus, fizeram o voto de dar ao Senhor certas terras; ao dissipar-se, porém, essa influência celeste, a impressão era menos forte, e eles começaram a duvidar e a recuar do cumprimento do voto que haviam feito. Pensaram que haviam sido muito precipitados, e queriam reconsiderar o assunto. Abriu-se assim uma porta pela qual Satanás entrou imediatamente, tomando-lhes posse da mente.

Esse caso deve ser uma advertência a todos para que se guardem da primeira aproximação de Satanás. Primeiro, foi nutrida a cobiça; depois, envergonhados de que os irmãos soubessem que sua alma egoísta tinha má vontade de dar aquilo


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que haviam solenemente consagrado e prometido a Deus, foi praticado o engano. Consideraram o assunto juntos, e decidiram deliberadamente reter parte do preço da herdade. Quando convictos de sua falsidade, o castigo deles foi morte instantânea. Sabiam que o Senhor, a quem haviam defraudado, havia-os achado; pois Pedro disse: "Por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus." Atos 5:3 e 4.

Era necessário um exemplo especial a fim de guardar a jovem igreja de ficar desmoralizada; pois seu número crescia rapidamente. Era assim dada a todos os que professavam a Cristo naquele tempo, e a todos os que houvessem de professar-Lhe o nome posteriormente, a advertência de que Deus exige fidelidade no cumprimento dos votos. Não obstante esse assinalado castigo do engano e da mentira, no entanto, os mesmos pecados têm sido muitas vezes repetidos na igreja cristã, e se acham largamente disseminados em nossos dias. Foi-me mostrado que Deus deu esse exemplo como advertência a todos os que fossem tentados a proceder semelhantemente. O egoísmo e a fraude são diariamente praticados na igreja no reter de Deus aquilo que Ele reclama, roubando-O assim, e entravando Suas disposições para difundir a luz e o conhecimento da verdade pela extensão e largura da Terra.

Manter a Obra de Deus

Em Seus sábios planos, Deus fez com que o progresso de Sua obra fosse dependente dos esforços pessoais de Seu povo, e de suas ofertas voluntárias. Aceitando a cooperação do homem no grande plano da salvação, conferiu-lhe insigne honra. O pastor não pode pregar a menos que seja enviado. A obra de comunicar a luz não depende unicamente do pastor. Toda pessoa, ao tornar-se membro da igreja, compromete-se a ser representante de Cristo mediante o viver a verdade que


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professa. Os seguidores de Cristo devem levar avante a obra que Ele lhes deixou a fazer quando ascendeu ao Céu.

Importa que se apóiem as instituições que são instrumentos de Deus no promover Sua obra na Terra. Devem-se construir igrejas, estabelecer escolas, e aparelhar as casas editoras com os meios necessários à realização de uma grande obra na publicação da verdade a ser propagada por todas as partes do mundo. Essas instituições são ordenadas por Deus, e devem ser mantidas com dízimos e ofertas liberais. À medida que a obra se dilata, necessitar-se-ão de meios para que ela avance em todos os seus ramos. Os que se converteram à verdade e se fizeram participantes de Sua graça, podem tornar-se coobreiros de Cristo mediante sacrifícios e ofertas a Ele feitos voluntariamente. E quando os membros da igreja desejam, em seu coração, que não haja mais pedidos de meios, estão na realidade dizendo que ficam satisfeitos com a falta de progresso da causa de Deus.

O Caso de Jacó

"E Jacó votou um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestidos para vestir, e eu em paz tornar à casa de meu pai, o Senhor será o meu Deus; e esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente Te darei o dízimo." Gên. 28:20-22. As circunstâncias que moveram Jacó a fazer este voto ao Senhor eram idênticas às que levam homens e mulheres a fazerem votos a Deus em nossos dias. Por meio de uma ação pecaminosa, obtivera a bênção que, ele sabia, lhe fora prometida pela firme palavra de Deus. Assim fazendo, manifestara grande falta de fé no poder de Deus para realizar Seus desígnios, por mais desanimadoras que fossem as aparências no momento. Em vez de colocar-se na posição que ambicionara, viu-se obrigado a fugir para salvar a vida da ira de Esaú. Levando consigo apenas um cajado, devia atravessar centenas de quilômetros por uma região deserta. Desfaleceu-lhe o ânimo, e sentiu-se tomado de remorsos


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e timidez, buscando evitar os homens, a fim de que o irmão irado não lhe viesse a descobrir a pista. Não possuía a paz de Deus a confortá-lo; pois atormentava-o a idéia de haver perdido a proteção divina.

Vai declinando o segundo dia de sua jornada. Jacó sente-se fatigado, com fome, sem lar, e julga-se desamparado por Deus. Sabia haver trazido isto sobre si mesmo em conseqüência de seu errado procedimento. Envolvem-no as sombras do desespero, e sente-se como um rejeitado. O coração é-lhe invadido de indizível terror, e mal ousa fazer sua oração. Está, porém, tão solitário, que sente, como nunca dantes, a necessidade da proteção divina. Chora, e confessa diante de Deus o seu pecado, e roga uma prova de que Ele o não tenha desamparado por completo. O coração opresso, no entanto, não encontra alívio. Perdera toda a confiança em si mesmo, e teme que o Deus de seus pais o haja rejeitado. Mas Deus, o misericordioso Deus, Se compadece daquele homem desolado, tomado de dor, que faz das pedras seu travesseiro, e não tem por cobertura senão a abóbada celeste.

Numa visão da noite, viu ele uma escada mística, cuja base descansava na Terra, e cujo topo tocava o Céu, para além das estrelas. Anjos mensageiros subiam e desciam por essa escada de brilho refulgente, indicando-lhe o meio de comunicação entre a Terra e o Céu. E aos seus ouvidos chega uma voz que lhe renova a promessa de misericórdia e proteção e de bênçãos futuras. Quando Jacó despertou desse sonho, disse: "Na verdade o Senhor está neste lugar; e eu não o sabia." Gên. 28:16. Olhou em volta de si como se esperasse ver os mensageiros celestes; mas seu olhar ansioso, errante, não divisou senão o indeciso contorno dos objetos terrestres, e em cima o céu repleto de estrelas cintilantes. A escada e os luminosos mensageiros haviam desaparecido, e só com a imaginação podia ele ver a gloriosa Majestade do alto.

Jacó ficou tomado de respeito diante do profundo silêncio da noite, e sentiu a vívida impressão de que se achava na imediata presença de Deus. O coração encheu-se-lhe de gratidão


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por não haver sido destruído. Não pôde mais conciliar o sono aquela noite; um profundo e fervoroso reconhecimento, impregnado de santa alegria, invadiu-lhe a alma. "Então levantou-se Jacó pela manhã de madrugada, e tomou a pedra que tinha posto por sua cabeceira, e a pôs por coluna, e derramou azeite em cima dela." Gên. 28:18. E ali fez ele seu voto solene a Deus.

A Manutenção do Voto

Jacó fez seu voto enquanto se achava refrigerado pelos orvalhos da graça, e revigorado pela presença e afirmação da promessa de Deus. Após haver-se dissipado a glória divina, teve tentações, como os homens de nossos tempos; foi no entanto fiel ao voto que fizera, e não abrigou pensamentos quanto à possibilidade de ser libertado do que prometera. Poderia haver raciocinado em grande parte como o fazem hoje os homens, que aquela revelação fora apenas um sonho, que ele estava indevidamente emocionado quando fizera o voto, e que portanto não era necessário guardá-lo; mas assim não fez.

Longos foram os anos transcorridos até que Jacó ousasse volver a seu país; ao fazê-lo, porém, desempenhou-se fielmente de sua dívida para com o Senhor. Tornara-se rico, e grande soma de seus bens passou ao tesouro de Deus.

Muitos falham hoje no ponto em que Jacó teve êxito. Aqueles a quem Deus tem dado mais, têm mais forte inclinação de reter o que possuem, visto deverem dar importância proporcional a seus bens. Jacó deu o dízimo de tudo quanto possuía, e depois calculou o dízimo que usara, e deu ao Senhor o benefício daquilo que estivera usando para o próprio proveito durante o tempo em que estivera em terra pagã, e não pudera pagar seu voto. Isto representava uma grande soma; no entanto ele não hesitou; o que votara ao Senhor, não considerava como seu, mas do Senhor.

Segundo Deus Havia Prosperado

Segundo a importância concedida, será a soma requerida.


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Quanto maior o capital confiado, tanto maior a dádiva que Deus requer Lhe seja devolvida. Caso um cristão possua dez ou vinte mil dólares, os direitos de Deus sobre ele são imperativos no sentido de dar, não somente a proporção relativa ao sistema dizimal, mas de apresentar-Lhe as ofertas pelo pecado e as ofertas de gratidão. A dispensação levítica se caracterizava notadamente pela santificação da propriedade.

Quando falamos do dízimo como a norma de contribuição dos judeus para fins religiosos, não falamos com compreensão. O Senhor colocava Seus direitos como o primeiro dever, e em quase todos os artigos era-lhes lembrado o Doador mediante o preceito de fazer-Lhe devoluções. Exigia-se-lhes que pagassem o resgate dos primogênitos, das primícias dos rebanhos e das colheitas. Cumpria-lhes deixar os cantos de suas searas para os destituídos de bens. Qualquer coisa que lhes caísse das mãos ao fazerem a sega, era deixado para os pobres, e a cada sete anos, as terras deviam ser deixadas livres, ficando para os necessitados o que elas produzissem espontaneamente. Além disso havia as ofertas sacrificais, ofertas por ofensas, ofertas pelo pecado, e a remissão, a cada sete anos, de todas as dívidas. Havia também numerosas despesas com hospitalidades e dádivas aos pobres, e havia impostos sobre suas propriedades.

A determinados períodos, a fim de conservar a integridade da lei, o povo era entrevistado quanto a sua fidelidade no cumprimento dos votos que haviam feito. Uma conscienciosa minoria devolvia a Deus cerca de um terço de toda a sua renda para benefício dos interesses religiosos e dos pobres. Essas exigências não se limitavam a uma classe particular do povo, tocavam a todos, sendo proporcionais às posses da pessoa. Além de todos esses donativos sistemáticos e regulares, havia objetivos especiais que pediam ofertas voluntárias, como para o tabernáculo construído no deserto, e o templo erigido em Jerusalém. Esses pedidos vinham de Deus até o povo, e tanto serviam para a manutenção de Seu serviço quanto para o próprio bem deles.


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Despertamento Para o Dever

Importa que haja entre nós, como um povo, um despertamento nessa questão. Poucos são os homens que sentem doer a consciência se negligenciarem o dever quanto à beneficência. Poucos, apenas, são possuídos de remorso por roubarem diariamente a Deus. Caso um cristão deliberada ou acidentalmente pague menos do que é devido a seu próximo, ou se recuse a liqüidar uma dívida honesta, sua consciência, a menos que se ache cauterizada, há de perturbá-lo; ele não pode sossegar, ainda que ninguém seja sabedor do fato senão ele próprio. Há muitos votos negligenciados e promessas por pagar, e no entanto quão poucos sentem a consciência turbada por causa disso! Quão poucos experimentam o sentimento de culpa por essa violação do dever! Precisamos sentir novas e mais profundas convicções a esse respeito. A consciência precisa ser despertada, e examinar-se o assunto com diligente atenção; pois no último dia ter-se-á de prestar contas a Deus, e Seus direitos serão apurados.

As responsabilidades do comerciante cristão, seja grande ou pequeno seu capital, estarão em exata proporção aos dons por ele recebidos de Deus. O engano das riquezas tem arruinado a milhares e dezenas de milhares. Esses ricos se esquecem de que são mordomos, e que se aproxima rapidamente o dia em que lhe será dito: "Dá contas da tua mordomia." Luc. 16:2. Como nos é mostrado pela parábola dos talentos, todo homem é responsável pelo sábio emprego dos dons que lhe foram concedidos. O pobre homem da parábola, por ter o dom menor, sentiu ser menor a responsabilidade e não pôs em uso o talento que lhe fora confiado; portanto foi lançado nas trevas exteriores.

Disse Cristo: "Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!" Mar. 10:23. E os discípulos pasmaram de Sua doutrina. Quando um pastor que tem trabalhado com êxito no ganhar almas para Jesus Cristo abandona sua sagrada obra a fim de adquirir lucro temporal, é chamado apóstata, e será responsável diante de Deus pelos talentos que


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aplicou mal. Quando homens de negócios, fazendeiros, mecânicos, comerciantes, advogados, etc., tornam-se membros da igreja, passam a ser servos de Cristo; e embora seus talentos sejam inteiramente diversos, a responsabilidade que lhes cabe de promover a obra de Deus mediante o esforço pessoal e com seus meios, não é inferior à do pastor. O ai que cairá sobre o pastor caso ele não pregue o evangelho, cairá sobre o comerciante tão seguramente como sobre o pastor, se ele, com seus diversos talentos, não for um cooperador de Cristo em produzir os mesmos resultados. Ao ser isto acentuado individualmente, alguns dirão: "Duro é esse discurso"; no entanto é verdadeiro, se bem que de contínuo contrariado pela prática de pessoas que professam ser seguidoras de Cristo.

A Igualdade da Doação Sistemática

Deus proveu pão para Seu povo no deserto mediante um milagre de misericórdia, e poderia haver provido tudo quanto era necessário para a cerimônia religiosa; não o fez, porém, porque em Sua infinita sabedoria, viu que a disciplina moral de Seu povo dependia de eles cooperarem com Ele, cada um fazendo alguma coisa. Enquanto a verdade for progressiva, vigoram sobre os homens as reivindicações de Deus, no que respeita a dar daquilo que Ele lhes concedeu para esse fim. Deus, o Criador do homem, instituindo o plano da doação sistemática, fez com que a obra pesasse igualmente sobre todos, segundo as diversas aptidões que possuem.

Cada um tem de decidir suas próprias contribuições, sendo deixado na liberdade de dar segundo se propôs em seu coração. Existem, porém, pessoas culpadas do mesmo pecado de Ananias e Safira, pensando que, se eles retêm uma parte daquilo que Deus lhes requer no sistema do dízimo, os irmãos nunca o virão a saber. Isto pensou o culpado casal cujo exemplo nos é dado como advertência. Nesse caso, Deus prova que Ele sonda o coração. Os motivos e desígnios do homem não se Lhe podem encobrir. Ele deixou perpétua advertência aos


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cristãos de todas as épocas a fim de estarem alerta contra o pecado a que o coração humano está sempre inclinado.

Embora não sejam notadas hoje as demonstrações do desagrado de Deus às repetições do pecado de Ananias e Safira, o mesmo pecado é tão odioso aos olhos de Deus como então, e será com a mesma certeza cobrado do transgressor no dia do juízo; e muitos sentirão a maldição de Deus mesmo nesta vida. Quando se faz uma promessa à causa, isso é um voto feito a Deus, e deve ser mantido como sagrado. À vista de Deus não é nada menos que sacrilégio aproveitar-nos para o próprio uso, daquilo que foi uma vez votado para promover Sua sagrada obra.

A Santidade dos Compromissos

Quando um compromisso verbal ou escrito foi tomado em presença de nossos irmãos, de dar determinada importância, eles são as testemunhas visíveis de um contrato feito entre nós e Deus. A promessa não foi feita ao homem, mas a Deus, e é como uma nota escrita dada a um próximo. Nenhuma letra legal é mais obrigatória para um cristão quanto ao pagamento do dinheiro, do que uma promessa feita ao Senhor.

As pessoas que assim se comprometem com seus semelhantes, não pensam em geral em pedir libertação dos compromissos. Um voto feito a Deus, doador de todas as dádivas, é ainda de maior importância; então, por que havemos nós de buscar ser dispensados de nossos votos a Deus? Considerará o homem seu voto menos obrigatório pelo fato de ser feito ao Senhor? Por que esse voto não será levado a juízo nos tribunais de justiça, é ele menos válido? Há de um homem que professa estar salvo pelo sangue do infinito sacrifício de Jesus Cristo "roubar a Deus"? Não são seus votos e suas ações pesados nas balanças da justiça nas cortes celestes?

Cada um de nós tem um caso pendente no tribunal do Céu. Há de a direção de nossa vida contrabalançar as provas que nos são contrárias? O caso de Ananias e Safira foi do mais


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agravante caráter. Guardando parte do preço, mentiram ao Espírito Santo. Da mesma maneira, pesam culpas sobre todo indivíduo, proporcionalmente às ofensas dessa natureza.

Quando o coração dos homens é abrandado pela presença do Espírito de Deus, eles são mais susceptíveis às impressões do Espírito Santo, e tomam resoluções no sentido de negar ao próprio eu e sacrificar-se pela causa de Deus. É quando a luz divina ilumina o mais íntimo do espírito com clareza e poder incomuns, que os sentimentos do homem natural são vencidos, que o egoísmo perde sua força sobre o coração, e despertam-se desejos de imitar o Modelo, Jesus Cristo, no exercer beneficência e abnegação. A disposição do homem naturalmente egoísta, torna-se assim bondosa e compassiva para com os pecadores perdidos, e ele faz um voto solene a Deus, como fizeram Abraão e Jacó. Nessas ocasiões acham-se presentes anjos celestes. O amor para com Deus e as almas triunfa sobre o egoísmo e sobre o amor do mundo. Isso, especialmente, quando o pregador, no Espírito e poder de Deus, apresenta o plano da redenção, estabelecido pela Majestade do Céu no sacrifício da cruz. Podemos ver, pelos textos seguintes, como o Senhor considera a questão dos votos:

"E falou Moisés aos cabeças das tribos dos filhos de Israel, dizendo: Esta é a palavra que o Senhor tem ordenado: Quando um homem fizer voto ao Senhor, ou fizer juramento, ligando a sua alma com obrigação, não violará a sua palavra; segundo tudo o que saiu da sua boca, fará." Núm. 30:1 e 2. "Não consintas que a tua boca faça pecar a tua carne, nem digas diante do anjo que foi erro; por que razão Se iraria Deus contra a tua voz, de sorte que destruísse a obra das tuas mãos?" Ecl. 5:6. "Entrarei em Tua casa com holocaustos; pagar-Te-ei os meus votos, que haviam pronunciado os meus lábios, e dissera a minha boca, quando eu estava na angústia." Sal. 66:13 e 14. "Laço é para o homem dizer precipitadamente: É santo; e, feitos os votos, então inquirir." Prov. 20:25. "Quando votares algum voto ao Senhor teu Deus, não tardarás em pagá-lo; porque o


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Senhor teu Deus certamente o requererá de ti, e em ti haverá pecado. Porém, abstendo-te de votar, não haverá pecado em ti. O que saiu da tua boca guardarás, e o farás; mesmo a oferta voluntária, assim como votaste ao Senhor teu Deus, e o declaraste pela tua boca." Deut. 23:21-23.

"Fazei votos, e pagai ao Senhor, vosso Deus; tragam presentes, os que estão em redor dele, Àquele que é tremendo." Sal. 76:11. "Mas vós o profanais, quando dizeis: A mesa do Senhor é impura, e o seu produto, a sua comida, é desprezível. E dizeis: Eis aqui, que canseira! e o lançastes ao desprezo, diz o Senhor dos Exércitos; vós ofereceis o roubado, e o coxo e o enfermo; assim fazeis a oferta. Ser-Me-á aceito isto de vossa mão? diz o Senhor. Pois maldito seja o enganador que, tendo animal no seu rebanho, promete e oferece ao Senhor uma coisa vil; porque Eu sou grande Rei, diz o Senhor dos Exércitos, o Meu nome será tremendo entre as nações." Mal. 1:12-14.

"Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não Se agrada de tolos. O que votares, paga-o. Melhor é que não votes do que votes e não pagues." Ecl. 5:4 e 5.

Deus deu ao homem uma parte em efetuar a salvação de seus semelhantes. Ele pode operar em ligação com Cristo, mediante o praticar atos de misericórdia e beneficência. Não os pode redimir, porém, pois não é apto a satisfazer os reclamos da justiça ofendida. Isto, unicamente o Filho de Deus pode fazer, pondo de parte Sua honra e glória, revestindo Sua divindade com a humanidade, e vindo à Terra para Se humilhar a Si mesmo, e derramar o próprio sangue em favor da raça humana.

Ao comissionar os discípulos a irem "por todo o mundo" e pregarem "o evangelho a toda a criatura" Mar. 16:15), Cristo designou aos homens a obra de propagarem o evangelho. Enquanto, porém, alguns vão a pregar, Ele pede a outros que Lhe atendam às reivindicações quanto aos dízimos e ofertas com que se possa sustentar o ministério e disseminar a verdade impressa pela Terra inteira. Isto é o meio pelo qual Deus quer exaltar o


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homem. É justamente a obra de que Ele necessita; pois moverá as mais profundas simpatias de seu coração, chamando à ação as mais elevadas faculdades do espírito.

O Homem, Instrumento de Deus

Tudo quanto na Terra existe de bom, foi aqui colocado pela generosa mão de Deus, como expressão do amor que vota ao homem. Os pobres são Seus, e Sua é a causa da religião. Ele pôs meios nas mãos dos homens, para que Seus divinos dons manem por intermédio de condutos humanos no realizar a obra a nós designada em salvar nossos semelhantes. Cada um tem uma tarefa assinalada no grande campo; e todavia ninguém devia conceber a idéia de que o Senhor depende do homem. Ele poderia proferir a palavra, e todo filho da pobreza ser enriquecido. Num momento poderia Ele curar a raça humana de todas as suas doenças. Poderia dispensar todos os pastores, e tornar os anjos embaixadores de Sua verdade. Poderia haver escrito a verdade no firmamento, ou impresso nas folhas das árvores e nas flores do campo; ou poderia, com voz audível, havê-la proclamado do Céu. O onisciente Deus, no entanto, não escolheu nenhum desses meios. Sabia que o homem precisava de ter algo a fazer de modo a que a vida lhe fosse uma bênção. O ouro e a prata pertencem ao Senhor, e ser-Lhe-ia possível fazer chover os mesmos do Céu, se assim quisesse; em lugar disto, no entanto, Ele fez o homem Seu mordomo, confiando-lhe meios, não para serem amontoados, mas empregados em beneficio dos outros. Assim torna Ele o homem o instrumento pelo qual distribui Suas bênçãos na Terra. Deus planejou o sistema de beneficência a fim de que o homem se tornasse como seu Criador, benfazejo e de caráter altruísta, vindo a ser afinal participante com Ele da recompensa eterna e gloriosa.

Deus opera por meio de instrumentos humanos; e quem quer que desperte a consciência dos homens, induzindo-os às boas obras e ao real interesse no avançamento da causa da verdade, não o faz por si mesmo, mas pelo Espírito de Deus a


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operar nele. As promessas feitas em tais circunstâncias são de um caráter sagrado, sendo o fruto da operação do Espírito do Senhor. Ao serem esses compromissos satisfeitos, o Céu aceita a oferta, e esses obreiros liberais são creditados pela importância investida no banco celeste. Os que assim procedem estão pondo um bom fundamento contra o tempo por vir, de modo a lançarem mão da vida eterna.

Quando, porém, a imediata presença do Espírito de Deus não é tão vividamente sentida, e a mente fica exercitada nos interesses temporais da vida, eles são tentados a duvidar da validade da obrigação que voluntariamente assumiram; e, cedendo às sugestões de Satanás, raciocinam que houve sobre eles indevida pressão, e que agiram sob a agitação do momento; que as necessidades de meios para uso da causa de Deus foram exageradas; e que foram induzidos a comprometer-se movidos por falsos motivos, sem compreenderem bem o assunto, e portanto desejam ser dispensados. Têm os pastores poder para aceitar suas desculpas, e dizer: "O irmão não ficará preso a sua promessa; está livre de seu voto"? Caso ousem fazer isso, tornam-se participantes do pecado daquele que retém o que prometeu. ...

A igreja é responsável pelos compromissos de seus membros individuais. Uma vez que vejam que um irmão está negligenciando cumprir seus votos, devem trabalhar bondosa e claramente com ele. Caso o irmão não esteja em condições de pagar seu voto, e seja um membro digno e de coração voluntário, ajude-o então a igreja compassivamente. Assim poderão transpor a dificuldade, e receber eles próprios uma bênção.

Deus quer que os membros de Sua igreja considerem seus compromissos para com Ele tão obrigatórios como as dívidas que tenham no comércio. Que todos passem em revista sua vida passada, e vejam se não há quaisquer compromissos por pagar e redimir, os quais foram negligenciados, fazendo então especiais esforços para pagar até "ao último ceitil" (Mat. 5:26); pois havemos todos de enfrentar e suportar a decisão final de um tribunal a cuja prova só poderão resistir a integridade e a veracidade.

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