Obreiros Evangélicos

CAPÍTULO 8

Uma Lição Para Nosso Tempo

OE - Pag. 51  

A experiência de Enoque e João Batista representa o que deve ser a nossa. Devemos estudar muito mais do que fazemos, a vida desses homens - daquele que foi trasladado para o Céu sem provar a morte; e daquele que, antes do primeiro advento de Cristo, foi chamado a preparar o caminho do Senhor, a endireitar as Suas veredas.

A Experiência de Enoque

A respeito de Enoque está escrito que viveu sessenta e cinco anos, e gerou um filho; depois disso andou com Deus por trezentos anos. Durante aqueles primeiros anos Enoque havia amado e temido a Deus e guardara Seus mandamentos. Após o nascimento do primeiro filho, atingiu uma experiência mais elevada; foi atraído a uma comunhão mais íntima com Deus. Ao ver o amor do filho para com o pai, sua confiança simples na proteção dele; ao sentir a profunda e compassiva ternura de seu coração para com aquele primogênito, aprendeu uma preciosa lição quanto ao maravilhoso amor de Deus para com o homem na dádiva de Seu Filho, e a confiança que os filhos de Deus devem pôr em seu Pai celestial. O infinito, insondável amor de Deus mediante Cristo, tornou-se dia e noite o objeto de suas meditações. Com todo o fervor de alma, procurava revelar esse amor ao povo no meio do qual vivia.

O andar de Enoque com Deus não era em transe ou em visão, mas em todos os deveres da vida diária. Não se tornou eremita, isolando-se inteiramente do mundo; pois tinha no mundo uma obra a fazer para Deus.


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Na família e em suas relações com os homens, como esposo e pai, amigo e cidadão, era o resoluto e inabalável servo do Senhor.

Em meio de uma vida de ativo trabalho, Enoque mantinha firmemente sua comunhão com Deus. Quanto maiores e mais urgentes eram seus trabalhos, mais constantes e fervorosas as suas orações. Ele perseverava em excluir-se a certos períodos, de toda sociedade. Depois de permanecer por certo tempo entre o povo, trabalhando para o beneficiar por meio de instruções e exemplos, costumava retirar-se, a fim de passar um período em solidão, com fome e sede daquele conhecimento divino que só Deus pode transmitir.

Comungando assim com Deus, Enoque chegou a refletir mais e mais a imagem divina. Seu semblante irradiava santa luz; a mesma que brilhava no rosto de Jesus Cristo. Ao sair dessa divina comunhão, os próprios ímpios contemplavam com respeito o cunho celeste estampado em sua fisionomia.

Sua fé tornava-se mais forte, mais ardente o seu amor com o decorrer dos séculos. A oração era-lhe como a respiração da alma. Vivia na atmosfera do Céu.

Ao serem-lhe reveladas as cenas do futuro, Enoque tornou-se um pregador da justiça, levando a mensagem de Deus a todos os que quisessem ouvir as palavras de advertência. Na terra para onde Caim procurara fugir da presença divina, o profeta de Deus tornou conhecidas as maravilhosas cenas que haviam passado perante sua visão. "Eis que é vindo o Senhor", declarou ele, "com milhares de Seus santos, para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade que impiamente cometeram." Jud. 14 e 15.


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O poder de Deus, que operava em Seu servo, era sentido pelos que o escutavam. Alguns davam ouvidos às advertências, e renunciavam a seus pecados; mas as multidões zombavam da solene mensagem. Os servos de Deus devem apresentar ao mundo dos últimos dias mensagem idêntica, que também será pela maioria recebida com incredulidade e zombarias.

À medida que se passavam os anos, mais e mais volumosa se tornava a onda dos crimes, mais e mais sombria as nuvens do juízo divino. Todavia Enoque, a testemunha da fé, perseverava em seu caminho, advertindo, suplicando e ensinando, esforçando-se para rechaçar a maré do crime e deter os raios da vingança.

Os homens daquela geração zombavam da loucura daquele que não buscava juntar ouro nem prata, nem adquirir possessões aqui. Mas o coração de Enoque estava nos tesouros eternos. Ele contemplava a cidade celestial. Vira o Rei em Sua glória no meio de Sião. Quanto maior era a iniqüidade dominante, tanto mais fervoroso seu anelo pelo lar de Deus. Conquanto ainda na Terra, habitava pela fé no reino da luz.

"Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus." Mat. 5:8. Por trezentos anos Enoque buscava a pureza do coração, a fim de poder estar em harmonia com o Céu. Por três séculos andara com Deus. Dia a dia ansiara uma união mais íntima; mais e mais estreita se tornara a comunhão, até que Deus o tomou para Si. Ele se achava no limiar do mundo eterno, mediando apenas um passo entre ele e a Terra abençoada; e agora, a porta abriu-se, o andar com Deus, por tanto tempo prosseguido na Terra, continuou, e ele passou pelas portas da santa cidade - o primeiro dentre os homens a aí penetrar.


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"Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte, ... visto como, antes da sua trasladação, alcançou testemunho de que agradara a Deus." Heb. 11:5.

A tal comunhão o Senhor nos está convidando. Como a de Enoque, assim deve ser a santidade de caráter daqueles que serão resgatados dentre os homens por ocasião da segunda vinda do Senhor.

A Experiência de João Batista

João Batista, em sua vida no deserto, foi ensinado por Deus. Estudou as revelações de Deus na Natureza. Sob a guia do divino Espírito, estudou os rolos dos profetas. Dia e noite Cristo era seu estudo, sua meditação, até que espírito, alma e coração ficaram cheios da gloriosa visão.

Ele contemplou o Rei em Sua beleza, e perdeu de vista o próprio eu. Viu a majestade da santidade, e reconheceu a própria ineficiência e indignidade. Era a mensagem de Deus que ele devia proclamar. Era no poder de Deus e em Sua justiça que se devia manter firme. Estava disposto a ir como mensageiro do Céu, inabalável ante as coisas humanas, pois contemplara o Divino. Podia manter-se destemido perante os reis terrestres, porque se prostrara tremente diante do Rei dos reis.

João não anunciava sua mensagem com elaborados argumentos ou engenhosas teorias. Assustadora e severa, e todavia cheia de esperança, era sua voz ouvida do deserto: "Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos Céus." Mat. 3:2. Com novo e estranho poder movia o povo. Toda a nação foi abalada. Multidões acorriam ao deserto.


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Camponeses e pescadores iletrados dos distritos vizinhos; soldados romanos dos quartéis de Herodes; comandantes, de espada à cinta, dispostos a aniquilar qualquer coisa que cheirasse a rebelião; os mesquinhos cobradores de impostos, de suas coletorias; e do Sinédrio, os sacerdotes em seus filactérios - todos escutavam como presos de fascinação; e todos, mesmo o fariseu e o saduceu, o frio e impassível zombador, saíam calando sua zombaria, e sentindo o coração penetrado do sentimento de seus pecados. Herodes em seu palácio ouviu a mensagem, e o orgulhoso príncipe, endurecido pelo pecado, tremeu ante o convite ao arrependimento.

Neste século, exatamente antes da segunda vinda de Cristo nas nuvens do Céu, tem de ser feita uma obra idêntica à de João. Deus pede homens que preparem um povo para subsistir no grande dia do Senhor. A mensagem que precedeu o ministério público de Cristo, foi: Arrependei-vos, publicanos e pecadores; arrependei-vos fariseus e saduceus; "arrependei-vos, porque é chegado o reino dos Céus". Mat. 3:2. Como um povo que acredita na próxima segunda vinda de Cristo, temos uma mensagem a apresentar - "Prepara-te, ... para te encontrares com o teu Deus". Amós 4:12.

Nossa mensagem precisa ser tão direta como o foi a de João. Ele repreendia reis por sua iniqüidade. Não obstante sua vida estar em perigo, não hesitava em declarar a Palavra de Deus. E nossa obra neste tempo tem de ser feita com igual fidelidade.

A fim de dar uma mensagem tal como a de João, devemos possuir vida espiritual semelhante à sua. A mesma obra deve ser efetuada em nós. Devemos contemplar a Deus e, em assim fazendo, perder de vista o próprio eu.

João tinha por natureza as faltas e fraquezas comuns à humanidade; mas o toque do divino amor o transformara.


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Quando, após o início do ministério de Cristo, os discípulos de João chegaram a ele com a queixa de que todos iam em seguimento do novo Mestre, João mostrou quão claramente compreendia suas relações para com o Messias, e quão alegremente recebia Aquele para quem preparara o caminho.

"O homem não pode receber coisa alguma", disse, "se lhe não for dada do Céu. Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: Eu não sou o Cristo, mas sou enviado adiante dEle. Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do esposo. Assim, pois, já essa minha alegria está cumprida. É necessário que Ele cresça e eu diminua." João 3:27-30.

Olhando com fé ao Redentor, João elevara-se ao ponto da abnegação. Não buscava atrair a si os homens, mas erguer-lhes o pensamento cada vez mais alto, até que pudessem repousar no Cordeiro de Deus. Ele próprio não passara de uma voz, um clamor no deserto. Agora aceitava com alegria o silêncio e a obscuridade, a fim de que os olhos de todos se pudessem volver para a Luz da vida.

Os que são fiéis à sua vocação de mensageiros de Deus, não buscarão honras para si mesmos. O amor próprio será absorvido pelo amor a Cristo. Reconhecerão que sua obra é proclamar, como João Batista: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." João 1:29.

A alma do profeta, esvaziada do próprio eu, foi cheia da luz do Divino. Em palavras que eram quase as mesmas do próprio Cristo, deu testemunho da glória do Salvador. "Aquele que vem de cima",


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disse ele, "é sobre todos, aquele que vem da Terra é da Terra e fala da Terra. Aquele que vem do Céu é sobre todos. Porque Aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus." João 3:31 e 34.

Todos os seguidores de Cristo devem participar dessa Sua glória. O Salvador podia dizer: "Não busco a Minha vontade, mas a vontade do Pai, que Me enviou." João 5:30. E João declarou: "Não Lhe dá Deus o Espírito por medida." João 3:34. O mesmo se dá com os discípulos de Cristo. Só podemos receber da luz do Céu à medida que estamos dispostos a nos esvaziar do próprio eu. Só podemos discernir o caráter de Deus, e aceitar Cristo pela fé, na proporção em que consentimos em sujeitar cada pensamento à obediência de Cristo. E a todos quantos assim fazem, o Espírito Santo é dado sem medida. Em Cristo "habita corporalmente toda a plenitude da divindade. E estais perfeitos nEle". Col. 2:9 e 10.

A vida de João não foi passada na ociosidade, em ascética tristeza, ou isolamento egoísta. De quanto em quando saía a misturar-se com os homens; e era sempre um observador interessado do que se passava no mundo. De seu sossegado retiro, observava o desdobrar dos acontecimentos. Com a visão iluminada pelo Espírito divino, estudava o caráter dos homens, a fim de poder compreender a maneira de chegar-lhes ao coração com a mensagem do Céu. Sentia sobre si a responsabilidade de sua missão. Na solidão, por meio de meditações e orações, procurava preparar a alma para a tarefa de sua vida.

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