Obreiros Evangélicos

CAPÍTULO 106

Disciplina da Igreja

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Tratando com membros que praticam faltas, o povo de Deus deve seguir estritamente as instruções dadas por Jesus no décimo oitavo capítulo de Mateus. Mat. 18:15-18.

Entes humanos são a propriedade de Cristo, resgatados por um preço infinito, e Lhe estão vinculados pelo amor que Ele e o Pai têm manifestado. Quão cuidadosos devemos por isso ser em nosso trato recíproco! O homem não tem direito de suspeitar mal do seu semelhante. Os membros de igreja não têm direito de seguir seus próprios impulsos e inclinações no trato com irmãos que têm cometido faltas. Não devem nem mesmo manifestar qualquer preconceito em relação a eles, porque assim fazendo implantam no espírito de outros o fermento do mal. Relatos desfavoráveis a algum irmão ou irmã são transmitidos entre os irmãos de um para outro e praticam-se erros e injustiças pelo único fato de se não estar disposto a obedecer às instruções do Salvador.

"Se teu irmão pecar contra ti", disse Jesus, "vai e repreende-o entre ti e ele só." Mat. 18:15. Não relates a outros o caso de teu irmão. Confia-se o caso a uma pessoa, a outra e mais outra; e o mal continua crescendo até que toda a igreja vem a sofrer. Resolve o caso "entre ti e ele só". É este o plano de Deus.

"Não te apresses a litigar, para depois, ao fim, não saberes o que hás de fazer, podendo-te confundir o teu próximo.


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Pleiteia a tua causa com o teu próximo mesmo e não descubras o segredo de outro." Prov. 25:8 e 9. Não toleres pecado no teu irmão; mas também não o exponhas ao opróbrio, aumentando assim a dificuldade, de sorte a parecer a repreensão uma vingança. Corrige-o do modo proposto na Palavra de Deus.

Não permitas que teu ressentimento redunde em maldade. Não consintas que a ferida supure abrindo-se em termos impertinentes, que venham a deixar uma nódoa no espírito dos que te ouvem. Não admitas que persistam no teu espírito e no seu, pensamentos amargos. Vai ter com teu irmão e em humildade e sinceridade resolve com ele o problema.

Seja qual for a natureza da ofensa, ela não impede que se adote o mesmo plano divino para redimir mal-entendidos e ofensas pessoais. Falar a sós e no espírito de Cristo com a pessoa que praticou a falta, bastará às vezes para remover as dificuldades. Vai ter com a pessoa que cometeu a ofensa e com um coração cheio do amor e da simpatia de Cristo procura entender-te com ela. Arrazoa com ela com calma e mansidão. Não te exprimas em termos violentos. Fala-lhe num tom que apele para o bom senso. Lembra-te das palavras: "Aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma e cobrirá uma multidão de pecados." Tia. 5:20.

Levai a vossos irmãos o remédio que sare o mal-estar da desavença. Fazei quanto em vós cabe para levantá-lo. Por amor da paz e da unidade da igreja, considerai um privilégio senão um dever o fazer isto. Se ele vos ouvir, tê-lo-eis ganho como amigo.

Todo o Céu toma interesse na entrevista que se efetua entre o ofendido e o ofensor. Se este aceita


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a repreensão aplicada no amor de Cristo, reconhecendo a sua falta e pedindo perdão a Deus e a seu irmão, a luz celestial inundará sua alma. A controvérsia estará terminada; a amizade e confiança são restauradas. O óleo da caridade faz cessar a dor provocada pela injustiça; e o Espírito de Deus une coração a coração e há música no Céu, pela união assim efetuada.

Quando as pessoas deste modo harmonizadas e de novo unificadas na comunhão cristã fizerem então orações a Deus, comprometendo-se a proceder retamente, a fazer misericórdia e andar em humildade diante dEle, receberão grandes bênçãos. Se tiverem feito injustiças a outros, prosseguirão na sua obra de arrependimento, de confissão e de restituição, inteiramente dispostas a praticar mutuamente o bem. Este é o cumprimento da lei de Cristo.

"Se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que, pela boca de duas ou três testemunhas, toda palavra seja confirmada." Mat. 18:16. Toma contigo a irmãos espirituais, e fala com o que estiver em erro acerca de sua falta. É possível que ceda ao apelo desses irmãos. Vendo que há acordo no assunto, talvez se persuada.

"E, se não as escutar", que se deverá fazer então? Deverão alguns poucos numa reunião de comissão tomar a responsabilidade de excluir o irmão? "Se não as escutar", continua dizendo Jesus, "dize-o à igreja". Mat. 18:17. Deixai que a igreja decida o caso de seus membros.

"Se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano." Mat. 18:17. Se ele não escutar a igreja, se recusar os esforços enviados para reconquistá-lo, é a igreja que deve tomar a si a responsabilidade


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de excluí-lo da sua comunhão. Seu nome deverá então ser riscado do livro.

Nenhum oficial de igreja deve aconselhar, nenhuma comissão recomendar, e nenhuma igreja votar que o nome de alguém que haja cometido falta seja eliminado dos livros da igreja, até que as instruções de Cristo a tal respeito tenham sido escrupulosamente cumpridas. Se essas instruções tiverem sido observadas, a igreja está livre diante de Deus. A injustiça tem então de aparecer como é e ser removida, para que não prolifere. O bem-estar e a pureza da igreja devem ser salvaguardados para que possa estar sem mancha diante de Deus, revestida da justiça de Cristo.

Quando a alma que errou se arrepende e se submete à disciplina de Cristo, cumpre dar-lhe outra oportunidade. E mesmo que se não arrependa e venha a ficar colocada fora da igreja, os servos de Deus têm o dever de tentar esforços com ela, buscando induzi-la ao arrependimento. Se se render à influência do Espírito de Deus, dando evidência do seu arrependimento, confessando e renunciando ao pecado, por mais grave que tenha sido, deve merecer o perdão e ser de novo recebida na igreja. Aos seus irmãos compete encaminhá-la pela vereda da justiça, e tratá-la como desejariam ser tratados em seu lugar, olhando por si mesmos para que não sejam do mesmo modo tentados.

"Em verdade vos digo", continua Jesus, "que tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo o que desligardes na Terra será desligado no Céu." Mat. 18:18.

Esta palavra de Cristo conserva a sua autoridade em todos os tempos. À igreja foi conferido o poder de agir em lugar de Cristo.


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Ela é o instrumento de Deus para a conservação da ordem e da disciplina entre o Seu povo. A ela o Senhor delegou poderes para resolver todas as questões concernentes à sua prosperidade, pureza e ordem. Sobre ela impôs a responsabilidade de excluir de sua comunhão aos que são indignos dela, que pela sua conduta anticristã acarretam desonra à causa da verdade. Tudo quanto a igreja fizer de acordo com as orientações dadas na Palavra de Deus será sancionado no Céu.

A Remissão dos Pecados

"Àqueles a quem perdoardes os pecados", disse-lhes Cristo, "são perdoados; e, àqueles a quem os retiverdes, lhes são retidos." João 20:23. Cristo não dá aqui permissão, para qualquer homem julgar a outros. No sermão do monte, proíbe fazê-lo. É a prerrogativa de Deus. Sobre a igreja em sua qualidade de corpo organizado, porém, Ele coloca uma responsabilidade para com os membros individuais. A igreja tem o dever, para com os que caem em pecado, de advertir, instruir e, se possível, restaurar. "Que... redarguas, repreendas, exortes", diz o Senhor, "com toda a longanimidade e doutrina." II Tim. 4:2.

Lidai fielmente com os que fazem mal. Adverti toda alma que se acha em perigo. Não deixeis que ninguém se engane a si mesmo. Chamai o pecado pelo seu verdadeiro nome. Declarai o que Deus disse com relação à mentira, à transgressão do sábado, ao roubo, à idolatria e a todos os outros males. "Os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus." Gál. 5:21. Se eles persistirem no pecado, o juízo que havíeis declarado segundo a Palavra de Deus é sobre eles proferido no Céu. Preferindo pecar, renunciam a Cristo; a igreja deve mostrar que não


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sanciona seus atos, do contrário ela própria desonra ao Senhor. Deve dizer a respeito do pecado o mesmo que declara o Senhor. Deve tratar com ele segundo as instruções divinas, e sua ação é ratificada no Céu. Aquele que desdenha a autoridade da igreja, despreza a do próprio Cristo.

Há, porém, na questão, um aspecto mais positivo. "Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes são perdoados." João 20:23. Seja, acima de tudo, conservado este pensamento. No trabalho em prol dos que se acham em erro, dirigi todo olhar para Cristo. Tenham os pastores terno cuidado pelo rebanho do pastoreio do Senhor. Falem ao extraviado da perdoadora misericórdia do Salvador. Animem o pecador a arrepender-se e a crer nAquele que pode perdoar. Declarem, sobre a autoridade da Palavra de Deus: "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça." I João 1:9. Todos quantos se arrependem têm a afirmação: "Tornará a apiedar-Se de nós, subjugará as nossas iniqüidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar." Miq. 7:19.

Seja o arrependimento do pecador aceito pela igreja com coração agradecido. Conduza-se o arrependido da treva da incredulidade para a luz da fé e da justiça. Coloque-se sua trêmula mão na amorável mão de Jesus. Tal remissão é ratificada no Céu. O Desejado de Todas as Nações, págs. 805 e 806.

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