Enquanto estávamos em Oswego, Nova Iorque, em princípios de 1850, fomos convidados para visitar Camden, cidade situada mais ou menos sessenta quilômetros mais para o leste. Antes de irmos, foi-me mostrado o pequeno grupo de crentes daquele lugar, e entre ele vi uma mulher que professava muita piedade, mas era hipócrita e estava enganando o povo de Deus.
A Reunião em Camden
Sábado de manhã, um bom grupo se reuniu para o culto, mas a enganadora não estava presente. Indaguei de uma irmã se estavam ali todos os componentes de seu grupo. Ela disse que sim. A mulher que eu vira na visão morava a seis quilômetros de distância, e a irmã não se lembrara dela. Mas logo entrou, e eu a reconheci imediatamente como sendo a mulher cujo verdadeiro caráter o Senhor me havia mostrado.
No decorrer da reunião, ela falou longamente dizendo que tinha perfeito amor e desfrutava santidade de coração, que não tinha provas nem tentações, mas fruía perfeita paz e se submetia à vontade de Deus.
Voltei da reunião para a casa do irmão Preston, sentindo grande tristeza. Naquela noite, sonhei que se abrira diante de mim um compartimento secreto, cheio de lixo, e foi-me dito que eu deveria limpá-lo. À luz de uma lanterna removi o lixo, e disse àqueles que comigo estavam que o quarto poderia ser ocupado com coisas de mais valor.
Domingo de manhã, reunimo-nos com os irmãos, e meu esposo levantou-se para pregar sobre a parábola das dez virgens. Ele não sentia liberdade para falar, e propôs que tivéssemos uns momentos de oração. Curvamo-nos perante o Senhor, e entregamo-nos à oração fervorosa. Removeu-se a nuvem
negra, e fui arrebatada em visão, sendo-me novamente apresentado o caso daquela mulher. Ela me foi mostrada achar-se em trevas completas. Estampava-se no semblante de Jesus Seu desagrado contra ela e seu marido. Aquele temível semblante carregado fez-me tremer. Vi que ela agira hipocritamente, professando santidade ao passo que tinha o coração inteiramente corrompido.
Ao sair eu da visão, relatei, em estado de agitação, mas com fidelidade, o que vira. A mulher disse calmamente: "Estou satisfeita por conhecer o Senhor o meu coração. Ele sabe que O amo. Se tão-somente meu coração pudesse abrir-se para ser esquadrinhado, os senhores veriam que é puro e limpo."
Alguns dos presentes vacilaram. Não sabiam se deveriam crer no que o Senhor me mostrara ou permitir que as aparências pesassem contra o testemunho que eu apresentara.
Não muito tempo depois disso, apoderou-se da mulher um medo terrível. O terror apoderou-se dela, que começou a confessar. Chegou a ir de casa em casa entre seus vizinhos incrédulos, confessando que o homem com quem vivia durante anos não era seu marido, que ela fugira da Inglaterra, deixando um benigno esposo e um filho. Confessou muitos outros atos ímpios. Seu arrependimento parecia ser genuíno, e nalguns casos restituiu o que havia tomado ilicitamente.
Em resultado dessa experiência, nossos irmãos e irmãs em Camden, e seus vizinhos, ficaram plenamente firmados na crença de que Deus me revelara as coisas de que eu falara, e por misericórdia e amor lhes fora dada a mensagem para os salvar do engano e perigoso erro.
Em Vermont
Na primavera de 1850, decidimos visitar Vermont e Maine. Deixei meu pequeno Edson, então com nove meses de idade,
em casa da irmã Bonfoey, enquanto prosseguíamos fazendo a vontade de Deus. Trabalhamos arduamente, sofrendo muitas privações, para conseguir pouco. Encontramos os irmãos e as irmãs em estado de dispersão e confusão. Quase cada um estava contaminado por algum erro, e todos pareciam zelosos de suas próprias opiniões. Freqüentemente sofríamos intensa angústia de espírito, por ver quão poucos se achavam dispostos a escutar as verdades bíblicas, ao passo que avidamente se apegavam ao erro e ao fanatismo. Fomos obrigados a fazer um percurso cansativo de sessenta e cinco quilômetros em diligência para chegarmos a Sutton, que era o lugar determinado.
Reagindo Contra o Desânimo
A primeira noite após nossa chegada ao lugar da reunião, fui presa de desânimo. Procurei vencê-lo, mas parecia impossível dominar meus pensamentos. A lembrança de meus filhinhos oprimia-me o espírito. Deixáramos no Estado de Maine, um com a idade de dois anos e oito meses, e no de Nova Iorque, outro com nove meses. Acabáramos de fazer uma viagem enfadonha com grande sofrimento, e eu pensava naqueles que fruíam a companhia de seus filhos, em lar próprio e tranqüilo. Passei em revista nossa vida anterior, evocando expressões que tinham sido usadas por uma irmã, havia apenas poucos dias, a qual achava que deveria ser muito agradável andar viajando pelo país, sem coisa alguma para me incomodar. Era precisamente a vida que ela gostaria de fruir. Naquela mesma ocasião meu coração ansiava por meus filhos, especialmente o menor que estava em Nova Iorque. Eu acabara de sair de meu quarto de dormir, onde estivera batalhando com meus sentimentos e, com muitas lágrimas, buscara do Senhor forças para conter a murmuração a fim de alegremente negar-me a mim mesma por amor a Jesus. Nesse estado de espírito adormeci, e
sonhei que um anjo alto estava ao meu lado e perguntava-me por que estava triste. Mencionei-lhe os pensamentos que me haviam perturbado, e disse: "Tão pouco bem posso eu fazer; por que não poderemos estar com nossos filhos, e desfrutar sua companhia?" Ele falou: "Deste ao Senhor duas belas flores, cujo aroma é perante Ele como o suave incenso, e à Sua vista é mais precioso do que o ouro e a prata, pois é uma dádiva do coração. Ela faz vibrar cada fibra do coração como nenhum outro sacrifício o faz. Não deves olhar para as aparências do momento,
mas conservar os olhos unicamente em teu dever, tão somente na glória de Deus, e trilhar os caminhos abertos por Sua providência; e tua vereda iluminar-se-á diante de ti. Toda renúncia própria, todo sacrifício, são fielmente registrados e terão o seu galardão."
Trabalhos no Canadá
A bênção do Senhor acompanhou nossa conferência em Sutton, e depois de terminada a reunião, partimos para o este do Canadá. Minha garganta me incomodava muito, e eu não podia falar alto, nem mesmo cochichar, sem sofrimento. Em viagem, orávamos, pedindo forças para resistir à jornada.
Assim fomos até chegar a Melbourne. Esperávamos encontrar oposição ali. Muitos dos que professavam crer na próxima vinda de nosso Senhor, combatiam a lei de Deus. Sentimos a necessidade de forças do alto. Oramos para que o Senhor Se nos manifestasse. Eu orava com fervor para sarar da garganta e recuperar a voz. Tive a prova de que a mão do Senhor me tocara ali. A dificuldade foi instantaneamente removida, e a voz ficou clara. A tocha do Senhor brilhou em redor de nós naquela reunião, e fruímos grande liberdade. Os filhos de Deus foram grandemente fortalecidos e animados.
Reuniões em Johnson
Logo voltamos a Vermont e realizamos uma notável reunião em Johnson. De passagem paramos vários dias em casa do irmão E. P. Butler. Achamos que ele e outros crentes ao norte de Vermont, tinham sido excessivamente perturbados e provados pelos falsos ensinos e desenfreado fanatismo de um grupo de pessoas que se arrogavam completa santificarão e, sob a aparência de grande santidade, seguiam método de vida que redundava em opróbrio para o nome de cristão.
Em sua vida e caráter, os dois homens que eram os líderes do fanatismo, assemelhavam-se muito àqueles que quatro anos antes encontráramos em Claremont, New Hampshire. Ensinavam a doutrina da extrema santificação, pretendendo não poderem pecar e estarem preparados para a trasladação. Praticavam o magnetismo e pretendiam receber iluminação divina ao estarem numa espécie de êxtase.
Não se ocupavam com o trabalho regular, mas em companhia de duas mulheres, que não eram suas esposas, viajavam de um lugar para outro, exigindo hospitalidade do povo. Mediante sua influência sutil e mesmérica conseguiram grande simpatia entre alguns jovens filhos de crentes.
O irmão Butler era homem de toda a integridade. Estava perfeitamente apercebido da má influência das teorias fanáticas, e era ativo na oposição aos falsos ensinos e pretensões arrogantes daqueles homens. Além disso, explicou-nos que não cria em visões de espécie alguma.
Com certa relutância o irmão Butler concordou em assistir à reunião em casa do irmão Lovejoy, em Johnson. Os dois homens dirigentes do fanatismo, e que grandemente haviam enganado e oprimido os filhos de Deus, compareceram à reunião, acompanhados das duas mulheres vestidas de alvo linho e com os longos cabelos negros soltos sobre os ombros. Os vestidos de linho branco deveriam simbolizar a justiça dos santos.
Eu tinha uma mensagem de reprovação para eles, e, enquanto falava, o principal daqueles dois homens mantinha os olhos fixos em mim, como já haviam feito os magnetizadores. Eu, porém, não tinha receio de sua influência magnética. Do Céu me era dada força para sobrepor-me ao seu poder satânico.
Os filhos de Deus que haviam estado em cativeiro, começaram a respirar livremente e a regozijar-se no Senhor.
Durante a reunião, aqueles fanáticos procuraram levantar-se para falar, mas não tiveram oportunidade. Foi explicado a eles que sua presença não era necessária, mas preferiram ficar. Então o irmão Samuel Rhodes agarrou o espaldar da cadeira em que uma das mulheres estava sentada, e arrastou-a para fora da sala, levando-a porta fora até o quintal. Voltando à sala, arrastou da mesma maneira a outra mulher. Os dois homens abandonaram a sala, mas procuraram reingressar.
Enquanto era feita a oração final da reunião, o segundo dos dois homens veio à porta e pôs-se a falar. A porta foi fechada diante dele. Ele a abriu e pôs-se de novo a falar. Então o poder de Deus veio sobre o meu esposo. Tinha o rosto lívido ao levantar-se de sobre os joelhos. Ergueu as mãos diante do homem, exclamando: "O Senhor não necessita de teu testemunho aqui. O Senhor não quer que estejas aqui para perturbar e oprimir Seu povo."
O poder de Deus encheu a sala. O homem pareceu aterrorizar-se e, recuando através do pórtico, penetrou em outra sala. Cambaleou pela sala e caiu de encontro à parede, e recobrando o equilíbrio achou a saída para fora da casa. A presença do Senhor, que foi tão desagradável para os pecadores fanáticos, impressionou com grandíssima solenidade o grupo. Depois, porém, que se foram os filhos das trevas, uma doce paz do Senhor repousou sobre nosso grupo. Depois dessa reunião os falsos e traiçoeiros ensinadores de perfeita santidade nunca mais puderam restabelecer seu poder sobre nossos irmãos.
A experiência dessa reunião fez-nos ganhar a confiança e a solidariedade do irmão Butler.