Atos dos Apóstolos

CAPÍTULO 51

Um Fiel Subpastor

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V. O Ministério de Pedro

Um Fiel Subpastor

Pouca menção se faz no livro de Atos quanto ao último trabalho do apóstolo Pedro. Durante os ativos anos de ministério que se seguiram ao derramamento do Espírito no dia do Pentecoste, ele se encontrava entre os que se empenhavam incansavelmente para entrar em contato com os judeus que vinham a Jerusalém para adorar por ocasião das festividades anuais.

Aumentando o número de crentes em Jerusalém e outros lugares visitados pelos mensageiros da cruz, os talentos do apóstolo Pedro se provaram de inestimável valor para a primitiva igreja cristã. A influência de seu testemunho referente a Jesus de Nazaré se estendia amplamente. Sobre ele havia sido posta dupla responsabilidade. Dava ele perante os incrédulos positivo testemunho com respeito ao Messias, trabalhando fervorosamente para a conversão deles, fazendo ao mesmo tempo trabalho especial pelos crentes, fortalecendo-os na fé em Cristo.


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Foi depois de haver sido levado à renúncia do eu e à inteira confiança no poder divino, que Pedro recebeu o chamado para agir como um subpastor. Cristo havia dito a Pedro, antes de este O haver negado: "Quando te converteres, confirma teus irmãos." Luc. 22:32. Essas palavras denotavam a ampla e eficiente obra que este apóstolo devia fazer no futuro pelos que viessem para a fé. Para esta obra a própria experiência do pecado, do sofrimento e arrependimento de Pedro o havia preparado. Não antes que tivesse ele reconhecido sua fraqueza, poderia conhecer a necessidade que tem o crente de confiar em Cristo. Em meio à tormenta da tentação ele compreendeu que o homem só pode andar seguramente quando, em absoluta desconfiança própria, confia no Salvador.

Na última reunião de Cristo com Seus discípulos junto ao mar, Pedro, provado pela pergunta três vezes repetida: "Amas-Me?" (João 21:15-17) tinha sido reabilitado em seu lugar entre os doze. Sua obra tinha-lhe sido indicada - alimentar o rebanho do Senhor. Agora, convertido e aceito, devia ele não somente buscar salvar os que estavam fora do redil, mas devia ser um pastor do rebanho.

Cristo fez menção a Pedro de uma única condição de serviço - "Amas-Me?" João 21:17. Esta é a qualificação essencial. Mesmo que Pedro possuísse todas as outras, sem o amor de Cristo ele não seria um fiel pastor do rebanho de Deus. Conhecimento, benevolência, eloqüência, zelo - tudo isto é essencial para um bom trabalho; mas sem o amor de Cristo no coração, a obra do ministro cristão é um fracasso.


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O amor de Cristo não é um sentimento volúvel, mas um princípio vivo, o qual se manifesta como um poder permanente no coração. Se o caráter e a conduta do pastor são um exemplo da verdade que advoga, o Senhor porá em sua obra o selo de Sua aprovação. O pastor e o rebanho serão um, unidos pela comum esperança em Cristo.

A maneira do Salvador tratar com Pedro tinha uma lição para ele e para seus irmãos. Conquanto tivesse Pedro negado a seu Senhor, o amor de Jesus por ele jamais vacilara. E ao assumir o apóstolo o encargo de ministrar a outros, devia tratar o transgressor com paciência, simpatia e compassivo amor. Lembrando sua própria fraqueza e queda, devia tratar as ovelhas e cordeiros entregues a seu cuidado com a mesma ternura que Cristo tivera com ele.

Os seres humanos, dados eles próprios ao mal, são inclinados a tratar duramente com os tentados e os que erram. Eles não podem ler o coração; não conhecem suas lutas e pesares. Necessitam aprender a respeito da repreensão que é amor, do golpe que fere para curar, da advertência que fala de esperança.

Durante seu ministério, Pedro vigiou fielmente o rebanho que lhe fora confiado, tornando-se assim digno do encargo e responsabilidades que lhe foram outorgados pelo Salvador. Exaltou sempre a Jesus de Nazaré como a Esperança de Israel, o Salvador da humanidade. Mantinha sua própria vida sob a disciplina do Mestre por excelência. Buscava, por todos os meios ao seu alcance, educar os crentes para o serviço ativo. Seu piedoso exemplo e incansável atividade inspiravam muitos


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jovens promissores a se entregarem inteiramente à obra do ministério. Com o passar do tempo a influência do apóstolo como educador e líder cresceu; e conquanto jamais perdesse de vista sua preocupação de trabalhar especialmente pelos judeus, levou contudo seu testemunho a muitas terras, e fortaleceu a fé de multidões no evangelho.

Nos últimos anos de seu ministério, Pedro foi inspirado a escrever aos crentes "dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia". I Ped. 1:11. Suas epístolas foram o meio de reavivar o ânimo e fortalecer a fé daqueles que estavam sofrendo provas e aflições, e de renovar as boas obras dos que, assediados por tentações de toda ordem, estavam em perigo de perder seu apego a Deus. Essas cartas levam a impressão de terem sido escritas por alguém em quem os sofrimentos de Cristo, bem como Sua consolação, tinham sido abundantes; alguém cujo ser todo tinha sido transformado pela graça, e cuja esperança de vida eterna era certa e firme.

No início de sua primeira carta, o encanecido servo de Deus rende a seu Senhor tributo de louvor e graças. "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo", exclama, "que, segundo a Sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável, e que se não pode murchar, guardada nos Céus para vós, que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo." I Ped. 1:3-5.

Nesta esperança de uma herança segura na Terra


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renovada rejubilavam-se os primeiros cristãos, mesmo em tempos de severa prova e aflição. "Em que vós grandemente vos alegrais", escreveu Pedro, "ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações. Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; ao qual, não O havendo visto, amais; no qual, não O vendo agora... vos alegrais com gozo inefável e glorioso; alcançando o fim da vossa fé, a salvação das almas." I Ped. 1:6-9.

As palavras do apóstolo foram escritas com o objetivo de instruir os crentes de todas as épocas, e têm significado especial para os que vivem no tempo em que "já está próximo o fim de todas as coisas". Suas exortações e advertências, bem como suas palavras de fé e de ânimo, são de necessidade para todas as almas que desejem conservar sua fé "firmemente" "até ao fim". Heb. 3:14.

O apóstolo procurou ensinar aos crentes quão importante é guardar a mente de vagar por temas proibidos, ou de gastar sua energia em assuntos triviais. Os que não querem cair presa dos enganos de Satanás, devem guardar bem as vias de acesso à alma; devem-se esquivar de ler, ver ou ouvir tudo quanto sugira pensamentos impuros. Não devem permitir que a mente se demore ao acaso em cada assunto que o inimigo das almas possa sugerir. O coração deve ser fielmente guardado, pois de outra maneira os males externos despertarão os internos, e a alma vagará em trevas. "Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento", escreveu Pedro, "sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na


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revelação de Jesus Cristo; ... não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo Aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; porquanto escrito está: Sede santos, porque Eu sou santo." I Ped. 1:13-16.

"Andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação; sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um Cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós; e por Ele credes em Deus, que O ressuscitou dos mortos, e Lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus." I Ped. 1:17-21.

Se a prata e o ouro fossem suficientes para a compra da salvação do homem, quão fácil isto teria sido para Aquele que diz: "Minha é a prata, e Meu é o ouro." Ageu 2:8. Mas só pelo precioso sangue do Filho de Deus podia o transgressor ser redimido. O plano da salvação foi elaborado em sacrifício. O apóstolo Paulo escreveu: "Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, por amor de vós Se fez pobre; para que pela Sua pobreza enriquecêsseis." II Cor. 8:9. Cristo Se deu por nós para nos redimir de toda a iniqüidade. E como a sobre excelente bênção da salvação, "o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor". Rom. 6:23.

"Purificando as vossas almas na obediência à verdade, para caridade fraternal, não fingida", continua


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Pedro, "amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro." A Palavra de Deus - a verdade - é o conduto pelo qual o Senhor manifesta Seu Espírito e poder. A obediência à Palavra produz o fruto da qualidade requerida - "caridade fraternal, não fingida". I Ped. 1:22. Este amor tem a sua origem no Céu, e conduz aos mais altos motivos e ações altruístas.

Quando a verdade se torna um princípio dominante na vida, a alma é gerada, "não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela Palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre". I Ped. 1:23. Este novo nascimento é o resultado de receber Cristo como a Palavra de Deus. Quando, mediante o Espírito Santo, as verdades divinas são impressas no coração, surgem novas concepções, e as energias outrora dormentes despertam para cooperar com Deus.

Assim foi com Pedro e seus condiscípulos. Cristo foi o revelador da verdade ao mundo. Por Ele a incorruptível semente - a Palavra de Deus - foi semeada nos corações humanos. Muitas, porém, das mais preciosas lições do grande Ensinador foram ditas aos que então não as entenderam. Quando, depois de Sua ascensão, o Espírito Santo levou Seus ensinos à lembrança dos discípulos, seus dormentes sentidos despertaram. O significado dessas verdades brilhou-lhes no espírito como nova revelação, e a verdade, inalterada e pura, encontrou lugar para si. Então a maravilhosa experiência da vida do Salvador tornou-se deles. A Palavra testificou por intermédio deles, homens por Ele escolhidos, e eles proclamaram a poderosa verdade: "O Verbo Se fez carne, e habitou entre


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nós... cheio de graça e de verdade." "E todos nós recebemos também da Sua plenitude, e graça por graça." João 1:14 e 16.

O apóstolo exortou os crentes a estudar as Escrituras, por cuja compreensão adequada poderiam eles fazer obra segura para a eternidade. Pedro sabia que na experiência de cada alma finalmente vitoriosa haveria cenas de perplexidade e prova; mas sabia também que a compreensão das Escrituras capacitaria o tentado a relembrar promessas que lhe confortariam o coração e fortaleceriam a fé no Onipotente.

"Porque toda a carne é como erva", declarou o apóstolo, "e toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; mas a Palavra do Senhor permanece para sempre; e esta é a Palavra que entre vós foi evangelizada. Deixando pois toda a malícia, e todo o engano, e fingimentos, e invejas, e todas as murmurações, desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo; se é que já provastes que o Senhor é benigno." I Ped. 1:24 e 25. I Ped. 2:1-3.

Muitos dos crentes a quem Pedro dirigiu suas cartas estavam vivendo no meio do paganismo, e muito dependia de permanecerem eles fiéis à alta vocação de sua profissão. O apóstolo insistia em seus privilégios como seguidores de Cristo Jesus. "Vós sois a geração eleita", escreveu, "o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido para que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz; vós, que em outro tempo não éreis povo, mas agora sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia." I Ped. 2:9 e 10.


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"Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma; tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação." I Ped. 2:11 e 12.

O apóstolo esboça com clareza a atitude que deveriam os crentes sustentar em relação às autoridades civis: "Sujeitai-vos pois a toda a ordenação humana por amor do Senhor: quer ao rei, como superior; quer aos governadores, como por Ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo bem, tapeis a boca à ignorância dos homens loucos; como livres, e não tendo a liberdade por cobertura da malícia, mas como servos de Deus. Honrai a todos. Amai a fraternidade. Temei a Deus. Honrai o rei."

Os que eram servos, foram aconselhados a permanecer sujeitos "com todo temor aos senhores, não somente aos bons e humanos, mas também aos maus". "Porque", continua o apóstolo, "é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Por que, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? mas se, fazendo bem, sois afligidos, e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as Suas pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na Sua boca se achou engano. O qual, quando O


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injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se Àquele que julga justamente; levando Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas Suas feridas fostes sarados. Porque éreis como ovelhas desgarradas; mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo das vossas almas."

O apóstolo exorta as mulheres cristãs a manterem vida pura e serem modestas no traje e no comportamento. "O enfeite delas", aconselhou, "não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro; na compostura de vestidos; mas o homem encoberto no coração; no incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus."

A lição se aplica aos crentes em todas as eras. "Pelos seus frutos os conhecereis." Mat. 7:20. O adorno interior de um espírito manso e quieto é inestimável. Na vida do verdadeiro cristão o adorno externo está sempre em harmonia com a paz e a santidade internas. "Se alguém quiser vir após Mim", disse Jesus, "renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-Me." Mat. 16:24. O sacrifício e a negação do eu assinalarão a vida do cristão. E a evidência de que o gosto está mudado será vista no vestuário de todo aquele que anda na vereda aberta para os redimidos do Senhor.

É justo amar o belo e desejá-lo; mas Deus deseja que primeiro amemos e busquemos a beleza do alto, que é imperecível. Nenhum adorno externo se compara em valor ou amabilidade com "um espírito manso e quieto", o


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"linho fino, branco e puro" (Apoc. 19:14), que todos os santos da Terra usarão. Essa os fará belos e amados aqui, e será depois sua senha para admissão ao palácio do Rei. Sua promessa é: "Comigo andarão de branco; porquanto são dignas disso." Apoc. 3:4.

Olhando com visão profética para os perigosos tempos em que a igreja de Cristo estava para entrar, o apóstolo exortou os crentes a permanecerem firmes em face das provas e sofrimentos. "Amados", escreveu ele, "não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse."

As provas são parte da educação recebida na escola de Cristo, para purificar os filhos de Deus da escória do que é terreno. É porque Deus está guiando Seus filhos que lhes sobrevêm experiências probantes. Provas e obstáculos são Seus métodos escolhidos de disciplina, e as condições por Ele indicadas para o êxito. Aquele que lê os corações humanos conhece-lhes as fraquezas melhor do que eles mesmos as poderiam conhecer. Ele vê que alguns têm qualificações que, se apropriadamente dirigidas, poderiam ser usadas no avançamento de Sua obra. Em Sua providência Ele leva essas almas a diferentes posições e variadas circunstâncias, para que possam descobrir os defeitos que estão ocultos ao seu próprio conhecimento. Dá-lhes oportunidades de vencer esses defeitos, habilitando-se para o serviço. Não raro permite que o fogo da aflição os abrase, a fim de serem purificados.

O cuidado de Deus por Sua herança é incessante. Ele não permite que sobrevenha a Seus filhos nenhuma aflição que não seja essencial ao seu bem presente e eterno.


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Deseja purificar Sua igreja da mesma maneira como Cristo purificou o templo durante Seu ministério terrestre. Tudo quanto Ele faz recair sobre Seu povo como provas, vem para que alcancem mais profunda piedade e maior força para levar avante os triunfos da Cruz.

Houve um tempo na experiência de Pedro em que ele não se dispunha a ver a cruz na obra de Cristo. Quando o Salvador deu a conhecer aos discípulos os sofrimentos e morte que O esperavam, Pedro exclamou: "Senhor, tem compaixão de Ti; de modo nenhum Te acontecerá isso." Mat. 16:22. A compaixão própria, que se esquivava de seguir a Cristo no sofrimento, preparou as razões de Pedro. Foi para o discípulo uma amarga lição, que ele não aprendeu senão vagarosamente, a de que a senda de Cristo na Terra é feita de sofrimento e humilhação. Porém na fornalha de fogo ardente devia ele aprender essa lição. Agora, quando seu corpo outrora ativo estava curvado ao peso dos anos e trabalhos, pôde ele escrever: "Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo; para que também na revelação da Sua glória vos regozijeis e alegreis."

Dirigindo-se aos anciãos da igreja, no tocante a suas responsabilidades como subpastores do rebanho de Cristo, o apóstolo escreve: "Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. E,


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quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória."

Os que ocupam a posição de subpastores devem exercer atento cuidado sobre o rebanho do Senhor. Isto não quer dizer vigilância ditatorial, mas que propenda a encorajar, fortalecer e a levantar. Ministrar significa mais que pregar sermões; significa trabalho zeloso e pessoal. A igreja na Terra é composta de homens e mulheres falíveis, que necessitam de esforços laboriosos e pacientes para que sejam disciplinados e educados para trabalhar de forma aceitável nesta vida, e serem na futura coroados de glória e imortalidade. Necessita-se de pastores - pastores fiéis - que não lisonjeiem o povo de Deus, nem o tratem com dureza, mas alimentem-no com o pão da vida - homens que sintam diariamente na vida o poder convertedor do Espírito Santo, e que cultivem amor forte e altruísta por aqueles por quem trabalham.

Há para o subpastor fazer uma obra que requer tato, quando é ele chamado a enfrentar a apostasia, descontentamento, inveja e ciúmes na igreja, e ele terá que trabalhar no espírito de Cristo para pôr as coisas em ordem. Fielmente devem ser advertidos, repreendido o pecado, endireitados os erros, não apenas pela obra do ministro no púlpito, mas por trabalho pessoal. O coração contumaz pode objetar à verdade e o servo de Deus está sujeito a ser malcompreendido e criticado. Lembre-se ele portanto que "a sabedoria que do alto vem é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem


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hipocrisia. Ora o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz". Tia. 3:17 e 18.

A obra do ministro do evangelho é "demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus". Efés. 3:9. Se alguém ao entrar nesta obra escolhe a parte que demanda o menor sacrifício, contentando-se com pregar, e deixa a obra de ministério pessoal para outro, seu trabalho não será aceito por Deus. Almas por quem Cristo morreu estão perecendo por falta de trabalho pessoal bem dirigido; e tem malcompreendido o seu chamado quem, ao entrar para o ministério, não se dispõe ao trabalho pessoal que o cuidado do rebanho requer.

O espírito do verdadeiro pastor é de inteiro esquecimento de si mesmo. Ele perde de vista o eu para que possa fazer as obras de Deus. Pela pregação da Palavra e pelo ministério pessoal nos lares do povo, toma conhecimento de suas necessidades, tristeza e provas; e, cooperando com Aquele que leva o maior fardo, participa das aflições deles, conforta-os em seus dissabores, farta-lhes a alma faminta e salva-lhes o coração para Deus. Nesta obra é o ministro assistido pelos anjos do Céu, sendo ele próprio instruído e iluminado na verdade que o torna sábio para a salvação.

Em relação com as instruções que dá aos que ocupam posições de responsabilidade na igreja, o apóstolo esboça alguns princípios gerais que deviam ser seguidos por todos que estivessem incluídos na comunhão da igreja. Os membros mais novos do rebanho eram exortados a seguir o exemplo dos mais velhos na prática da humildade


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cristã. "Semelhantemente vós, mancebos, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos pois debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar. Ao qual resisti firmes na fé." I Ped. 5:5-9.

Assim escreveu Pedro aos crentes num tempo de peculiar provação para a igreja. Muitos tinham já experimentado a participação nos sofrimentos de Cristo, e logo a igreja devia passar por um período de terrível perseguição. Dentro de breves anos muitos dos que tinham sido mestres e líderes na igreja deviam depor a vida pelo evangelho. Logo se levantariam lobos devoradores que não poupariam o rebanho. Mas nada disto devia desencorajar aqueles cujas esperanças estavam centralizadas em Cristo. Com palavras de encorajamento e ânimo Pedro dirigiu o pensamento dos crentes das presentes provas e futuras cenas de sofrimento "para uma herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar". I Ped. 1:4. "E o Deus de toda graça", orou ele com fervor, "que em Cristo Jesus vos chamou à Sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, Ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá. A Ele seja a glória e o poderio para todo o sempre. Amém." I Ped. 5:10 e 11.

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