A Ciência do Bom Viver

CAPÍTULO 2

Dias de Ministério

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No lar do pescador, em Cafarnaum, a mãe da esposa de Pedro "estava enferma com muita febre; e rogaram-Lhe por ela". Luc. 4:38. Jesus "tocou-lhe na mão, e a febre a deixou; e levantou-se e serviu-os" [ao Salvador e a Seus discípulos]. Mat. 8:15.

A notícia se espalhou rapidamente. O milagre fora operado no sábado e, por medo dos rabis, o povo não ousava ir para ser curado antes do pôr-do-sol. Então, das casas, lojas e mercados, os habitantes da cidade dirigiram-se para a humilde habitação que abrigava Jesus. Os enfermos eram levados em padiolas, iam apoiados em bordões ou, amparados por amigos, cambaleavam debilmente até à presença do Salvador.

Hora após hora, entravam e saíam; pois ninguém sabia se no dia seguinte ainda Se encontraria entre eles o Médico divino. Nunca antes testemunhara Cafarnaum um dia semelhante a esse. O ar estava cheio de vozes de triunfo e de exclamações de livramento.

Enquanto o último sofredor não foi socorrido, Jesus não cessou Seu trabalho. Era tarde da noite quando a multidão


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partiu e se fez silêncio em casa de Simão. Findara o longo dia cheio de agitação, e Jesus buscou repouso. Mas, enquanto a cidade se achava imersa no sono, o Salvador "levantando-Se de manhã muito cedo, estando ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava". Mar. 1:35.

De manhã cedo, Pedro e seus companheiros foram ao encontro de Jesus, dizendo que o povo de Cafarnaum já O estava procurando.


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Com surpresa, ouviram as palavras de Cristo: "Também é necessário que Eu anuncie a outras cidades o evangelho do reino de Deus, porque para isso fui enviado." Luc. 4:43.

Na agitação de que Cafarnaum se achava então possuída, havia perigo que se perdesse de vista o objetivo de Sua missão.

Jesus não Se satisfazia em atrair a atenção para Si mesmo unicamente como um operador de maravilhas, ou alguém que curasse as doenças do corpo. Queria atrair as pessoas a Si como seu Salvador. O povo estava ansioso de crer que Ele viera como rei para estabelecer um reino terrestre, mas Ele lhes desejava desviar a mente do terreno para o espiritual. Um êxito meramente mundano Lhe estorvaria a obra.

E a admiração da descuidosa massa era chocante ao Seu espírito. Nenhum egoísmo tinha parte em Sua vida. A homenagem prestada pelo mundo à posição, à riqueza ou ao talento era coisa estranha ao Filho do homem. Jesus não Se servia de nenhum dos meios que os homens empregam para conseguir a lealdade ou atrair homenagem. Séculos antes de Seu nascimento, fora profetizado a Seu respeito: "Não clamará, não Se exaltará, nem fará ouvir a Sua voz

"E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:14 e 15. "E Eu, quando for levantado da Terra, todos atrairei a Mim." João 12:32. "Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, o não trouxer; e Eu o ressuscitarei no último dia." João 6:44.


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na praça. A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega; em verdade, produzirá o juízo." Isa. 42:2 e 3.

Os fariseus procuravam distinção por meio de seu escrupuloso cerimonialismo, e pela ostentação de seu culto e suas caridades. Provavam o zelo que tinham pela religião tornando-a objeto de discussões. As disputas entre as seitas oponentes eram ruidosas e longas, e não raro se ouvia nas ruas o som de irritadas questões entre doutores da lei.

Em notável contraste com tudo isso estava a vida de Jesus. Nessa vida não se via nunca ruidosa disputa, nem ostentoso culto, nem atos que visassem a aplausos. Cristo estava escondido em Deus, e Deus era revelado no caráter de Seu Filho. Era a essa revelação que Jesus desejava dirigir a mente do povo.

O Sol da Justiça não irrompia sobre o mundo em esplendor, para deslumbrar os sentidos com Sua glória. Está escrito de Cristo: "Como a alva, será a Sua saída." Osé. 6:3. Calma e suavemente rompe a luz matinal sobre a terra, dissipando as trevas e despertando o mundo para a vida. Assim surgiu o Sol da Justiça, trazendo salvação "debaixo das Suas asas". Mal. 4:2.

"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. O amor... não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade." I Cor. 13:1, 2, 4-6.


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"Eis aqui o Meu Servo, a quem sustenho,

O Meu Eleito, em quem Se compraz a Minha alma." Isa. 42:1.

"Foste a fortaleza do pobre

E a fortaleza do necessitado na sua angústia;

Refúgio contra a tempestade e sombra contra o calor." Isa. 25:4.

"Assim diz Deus, o Senhor,

Que criou os céus, e os estendeu,

E formou a Terra e a tudo quanto produz,

Que dá a respiração ao povo que nela está

E o espírito, aos que andam nela.

Eu, o Senhor, Te chamei em justiça,

E Te tomarei pela mão,

E Te guardarei, e Te darei por concerto do povo

E para luz dos gentios;

Para abrir os olhos dos cegos,

Para tirar da prisão os presos

E do cárcere, os que jazem em trevas." Isa. 42:5-7.

"E guiarei os cegos por um caminho que nunca conheceram,

Fá-los-ei caminhar por veredas que não conheceram;

Tornarei as trevas em luz perante eles

E as coisas tortas farei direitas.

Essas coisas lhes farei e nunca os desampararei." Isa. 42:16.

"Cantai ao Senhor um cântico novo

E o Seu louvor, desde o fim da Terra,

Vós que navegais pelo mar e tudo quanto há nele;

Vós, ilhas e seus habitantes.

Alcem a voz o deserto e as suas cidades,

Com as aldeias que Quedar habita;

Exultem os que habitam nas rochas

E clamem do cume dos montes.

Dêem glória ao Senhor

E anunciem o Seu louvor nas ilhas." Isa. 42:10-12.

"Cantai alegres, vós, ó céus, porque o Senhor fez isso;

Exultai vós, as partes mais baixas da Terra;

Vós, montes, retumbai com júbilo;

Também vós, bosques e todas as árvores em vós;

Porque o Senhor remiu a Jacó

E glorificou-Se em Israel." Isa. 44:23.


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Da prisão de Herodes, onde em decepção e perplexidade quanto à obra do Salvador, vigiava e esperava, João Batista enviou dois de seus discípulos a Jesus, com a mensagem: "És Tu aquele que havia de vir ou esperamos outro?" Mat. 11:3.

O Salvador não respondeu imediatamente à pergunta dos discípulos. Enquanto ali ficavam, maravilhados de Seu silêncio, os doentes iam chegando aos Seus pés. A voz do poderoso operador de curas penetrava nos ouvidos surdos. Uma palavra, um toque de Sua mão, abria os olhos cegos para a contemplação da luz do dia, das cenas da natureza, do rosto dos amigos e de seu Libertador. Sua voz chegava aos ouvidos do moribundo, e eles se erguiam com saúde e vigor. Paralisados possessos Lhe obedeciam à palavra, abandonava-os a loucura e Lhe rendiam culto. Os pobres camponeses e os trabalhadores, evitados pelos rabis como imundos, reuniam-se ao seu redor,


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e Ele lhes falava as palavras da vida eterna.

Assim se passou o dia, os discípulos de João vendo e ouvindo tudo. Afinal, Jesus os chamou a Si, e pediu-lhes que fossem e dissessem a João o que tinham visto e ouvido, acrescentando: "Bem-aventurado é aquele que se não escandalizar em Mim." Mat. 11:6. Os discípulos levaram a mensagem, e foi suficiente.

João relembrou a profecia relativa ao Messias: "O Senhor Me ungiu para pregar boas novas aos mansos; enviou-Me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do Senhor... a consolar todos os tristes." Isa. 61:1 e 2. Jesus de Nazaré era o prometido. A prova de Sua divindade se revelava em Seu ministério às necessidades da sofredora humanidade. Sua glória se manifestava em Sua condescendência para com nosso estado decaído.

"Bem-aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, tem o seu prazer na lei do Senhor, e na Sua lei medita de dia e de noite. Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cujas folhas não caem, e tudo quanto fizer prosperará." Sal. 1:1-3.


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As obras de Cristo não somente atestavam ser Ele o Messias, como indicavam a maneira por que se havia de estabelecer Seu reino. Foi revelada a João a mesma verdade que se demonstrou a Elias no deserto, quando houve "um grande e forte vento, que fendia os montes e quebrava as penhas diante da face do Senhor; porém o Senhor não estava no vento; e, depois do vento, um terremoto; também o Senhor não estava no terremoto; e, depois do terremoto, um fogo; porém também o Senhor não estava no fogo; e, depois do fogo", Deus falou ao profeta numa "voz mansa e delicada". I Reis 19:11 e 12. Assim Jesus devia fazer Sua obra, não por meio da queda de tronos e reinos, não com pompa e exibição exterior, mas falando ao coração dos homens mediante uma vida de misericórdia e abnegação.

O reino de Deus não vem com aparência exterior. Vem mediante a suavidade da inspiração de Sua Palavra, pela operação interior de Seu Espírito, a comunhão da alma com Ele que é sua vida. A maior manifestação de Seu poder se observa na natureza humana levada à perfeição do caráter de Cristo.

Os seguidores de Cristo devem ser a luz do mundo; mas Deus não lhes manda fazer um esforço para brilhar. Ele não aprova nenhum esforço de satisfação própria para exibir uma bondade superior. Deseja que sua alma esteja imbuída dos princípios do Céu; então, ao se porem em contato com o mundo, revelarão a luz que neles está. Sua firme fidelidade, em todos os atos da vida, será um meio de iluminação.

Riqueza ou elevada posição, caros equipamentos, arquitetura ou mobiliários, não são essenciais ao progresso da causa de Deus; tampouco o são as realizações que atraem o aplauso das pessoas e fomentam a vaidade. As exibições mundanas, conquanto imponentes, são de nenhum valor aos


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olhos de Deus. Acima do que é visível e temporal, aprecia Ele o invisível e eterno. O primeiro só tem valor na medida em que exprime o segundo. As mais belas produções de arte não possuem beleza que se possa comparar à beleza de caráter, que é o fruto da operação do Espírito Santo na alma.

Quando Deus deu Seu Filho ao nosso mundo, dotou os seres humanos com riquezas imperecíveis - riquezas diante das quais as entesouradas fortunas dos homens desde o princípio do mundo nada são. Cristo veio à Terra e esteve perante os filhos dos homens com o acumulado amor da eternidade, e esse é o tesouro que, mediante nossa ligação com Ele, devemos receber, revelar e comunicar.

O esforço humano na obra de Deus terá eficiência proporcional à consagrada devoção do obreiro - revelando o poder da graça de Cristo para transformar a vida. Devemos distinguir-nos do mundo porque Deus pôs Seu selo em nós, porque em nós manifesta Seu caráter de amor. Nosso Redentor nos cobre com Sua justiça.

Ao escolher homens e mulheres para Seu serviço, Deus não indaga se eles possuem riquezas mundanas, saber ou eloqüência. Pergunta: "Andam eles em tanta humildade que lhes possa ensinar o Meu caminho? Posso pôr em seus lábios as Minhas palavras? Representar-Me-ão?"

Deus pode usar cada pessoa exatamente na proporção em que pode introduzir-lhe Seu Espírito no templo da alma. O trabalho que Ele aceita é aquele que Lhe reflete a imagem. Seus seguidores devem levar, como credenciais perante o mundo, as indeléveis características de Seus princípios imortais.


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Atenção às Crianças

Enquanto Jesus ministrava nas ruas das cidades, as mães, levando nos braços os filhinhos, comprimiam-se através da multidão, tentando chegar onde Ele as pudesse ver.

Imaginai essas mães, pálidas, cansadas, quase em desespero, mas decididas e perseverantes. Carregando seu fardo de sofrimentos, buscam o Salvador. Como são repelidas para trás pela multidão revolta, Cristo abre passo a passo caminho para elas, até que lhes fica ao lado. Brota-lhes no coração a esperança. Caem-lhes lágrimas de alegria ao Lhe atraírem a atenção, e fitarem os olhos que tanta piedade e amor exprimem.

Destacando uma do grupo, o Salvador lhe estimula a confiança, dizendo: "Que posso fazer por ti?" Ela soluça sua grande necessidade: "Mestre, cura meu filho." Cristo toma o pequenino nos braços, e a doença foge ao Seu contato. Desaparece a palidez da morte; a corrente comunicadora de vida


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flui através das veias; os músculos são revigorados. Jesus dirige à mãe palavras de conforto e paz; e logo se apresenta outro caso, de urgência igual. Novamente, Cristo exerce Seu poder vivificante, e todos dão louvor e honra Àquele que opera maravilhas.

Detemo-nos muito na grandeza da vida de Cristo. Falamos das coisas maravilhosas por Ele realizadas, dos milagres que


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Ele operava. Mas Sua atenção às coisas consideradas pequeninas é uma prova ainda maior de Sua grandeza.

Entre os judeus era costume levar as crianças a algum rabi para que lhes impusesse as mãos numa bênção; mas os discípulos julgavam o trabalho do Salvador muito importante para ser interrompido daquela maneira. Quando as mães chegaram, desejando que Ele lhes abençoasse os pequeninos, os discípulos as olharam com desagrado. Pensavam que essas crianças eram muito pequenas para receber benefício da visita a Jesus, e concluíram que Ele não apreciaria


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sua presença. Mas o Salvador compreendeu o cuidado e a preocupação das mães que estavam procurando educar seus filhos em harmonia com a Palavra de Deus. Ouvira-lhes as orações. Ele próprio as atraíra a Sua presença.

Uma mãe deixara a casa com o filhinho para ir em busca de Jesus. No caminho, ela disse a uma vizinha o que ia fazer, e esta teve desejo de que Jesus abençoasse seus filhos também. Assim, várias mães ali chegaram juntas, levando seus pequenos. Alguns deles já haviam passado da primeira infância, à meninice e adolescência. Quando as mães explicaram seu desejo, Jesus ouviu com simpatia a tímida e lacrimosa petição. Mas esperou para ver como os discípulos as tratariam. Quando os ouviu reprovar as mães e mandá-las embora, julgando fazer-Lhe um favor, Ele lhes mostrou seu erro, dizendo: "Deixai vir os pequeninos a Mim e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus." Mar. 10:14. Tomou nos braços as crianças. Pôs-lhes as mãos em cima, e deu-lhes as bênçãos que tinham ido buscar.

As mães ficaram confortadas. Voltaram para casa fortalecidas e felizes pelas palavras de Cristo. Foram animadas a retomar suas cargas com redobrado ânimo, e a trabalhar esperançosas em favor de seus filhos.

Se nos fosse revelada a vida posterior daquele pequenino grupo, veríamos as mães recordando aos filhos a cena daquele dia, e repetindo-lhes as amoráveis palavras do Salvador. Veríamos também quantas vezes, nos anos que se sucederam, a lembrança daquelas palavras guardou os filhos de se desviarem do caminho traçado para os remidos do Senhor.

Cristo é hoje o mesmo compassivo Salvador que era quando andava entre os homens. É agora, tão certamente como quando tomava nos braços os pequeninos da Judéia, o


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ajudador das mães. Os filhos de nossa casa, da mesma maneira que as crianças dos tempos antigos, são o preço de Seu sangue.

Jesus conhece o fardo do coração de cada mãe. Aquele que tinha uma mãe que lutava com a pobreza e a privação, simpatiza com cada mãe em seus labores. Aquele que fez uma longa jornada a fim de aliviar o ansioso coração da mulher cananéia fará o mesmo pelas mães de nossos dias. O que restituiu à viúva de Naim seu filho único, e em Sua agonia na cruz lembrou-Se de Sua própria mãe, é hoje tocado pelas dores maternas. Em todo desgosto, em toda necessidade, Ele confortará e socorrerá.

Vão as mães ter com Jesus em suas perplexidades. Acharão graça suficiente para as ajudar no cuidado de seus filhos. As portas acham-se abertas para toda mãe que queira depor seus fardos aos pés do Salvador. Aquele que disse "Deixai vir os pequeninos a Mim e não os impeçais, porque dos tais é o reino de Deus" (Mar. 10:14) convida ainda as mães a levar-Lhe os pequeninos para que os abençoe.

Nas crianças que foram postas em contato com Ele, Jesus viu os homens e as mulheres que deviam ser herdeiros de Sua graça, e súditos de Seu reino, e alguns dos quais se tornariam mártires por amor dEle. Sabia que essas crianças haviam de Lhe dar ouvidos e aceitá-Lo como seu Redentor muito mais prontamente do que o fariam os adultos, alguns dos quais eram os sábios segundo o mundo e endurecidos de coração. Ensinando, Ele descia ao seu nível. Ele, a Majestade do Céu, respondia-lhes às perguntas, e simplificava Suas importantes lições para alcançar-lhes o infantil entendimento. Plantava-lhes no espírito a semente da verdade que, nos anos por vir, brotaria e daria frutos para a vida eterna.

Quando Jesus disse aos discípulos que não impedissem as


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crianças de ir a Ele, estava falando a Seus seguidores de todos os séculos - aos oficiais da igreja, aos pastores, auxiliares, e a todos os cristãos. Jesus está atraindo as crianças, e nos manda: "Deixai-as vir". É como se quisesse dizer: "Elas virão, caso as não impeçais."

Não deixeis que vosso caráter não cristão represente mal a Jesus. Não conserveis os pequeninos afastados dEle pela vossa frieza e aspereza. Nunca lhes deis motivo de pensar que o Céu não seria um lugar aprazível para eles, se lá estivessem.


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Não faleis de religião como de uma coisa que as crianças não possam compreender, nem procedais como se não se esperasse delas que aceitassem a Cristo em sua infância. Não lhes deis a falsa impressão de que a religião de Cristo seja uma religião sombria, e que, indo ao Salvador, elas devem renunciar a tudo quanto faz a vida agradável.

Ao tocar o Espírito Santo o coração das crianças, cooperai com Sua obra. Ensinai-lhes que o Salvador as está chamando, que coisa alguma Lhe poderá causar maior alegria do que se entregarem a Ele na florescência e vigor de seus anos.

Responsabilidade dos Pais

O Salvador considera com infinita ternura as almas que Ele comprou com Seu sangue. São a reivindicação de Seu amor. Ele as olha com inexprimível anelo. Seu coração se dilata, não somente para as mais bem-educadas e mais atrativas crianças, mas para as que, por herança ou negligência, têm objetáveis traços de caráter. Muitos pais não compreendem quão responsáveis são por esses traços em seus filhos. Não possuem a ternura e a sabedoria necessárias para lidar com os faltosos a quem eles próprios fizeram o que são. Mas Jesus olha a essas crianças com piedade. Parte da causa para o efeito.

O obreiro cristão pode ser o instrumento de Cristo em atrair ao Salvador esses faltosos e errantes. Com sabedoria e tato, é-lhe possível prendê-los ao próprio coração, infundir-lhes ânimo e esperança, e mediante a graça de Cristo pode vê-los transformados em caráter, de modo que a seu respeito se possa dizer: "Dos tais é o reino de Deus." Luc. 18:16.


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Cinco Pãezinhos Alimentam a Multidão

O dia inteiro o povo se havia aglomerado em volta de Cristo e dos discípulos, enquanto Ele ensinava à beira-mar. Haviam escutado Suas graciosas palavras, tão simples e tão claras, que eram como o bálsamo de Gileade para sua alma. A cura, de Sua divina mão, trouxera saúde ao enfermo e vida ao moribundo. O dia se lhes afigurara como o Céu na Terra, e haviam ficado inconscientes do tempo que estavam sem comer.

O Sol imergia no ocidente, e o povo ainda permanecia ali. Por fim, os discípulos foram falar com Cristo, insistindo que, por amor dela mesma, a multidão devia ser despedida. Muitos tinham vindo de longe, e nada haviam comido desde cedo. Nas cidades e aldeias vizinhas, poderiam encontrar algum alimento. Mas Jesus lhes disse: "Dai-lhes vós de comer." Mat. 14:16. Depois, voltando-Se para Filipe, perguntou: "Onde compraremos pão, para estes comerem?" João 6:5.

Filipe olhou para o mar de cabeças e pensou como seria impossível prover comida para tão grande ajuntamento. Respondeu que não bastariam duzentas moedas de prata para que cada um tivesse um pouco de pão.

Jesus indagou a quantidade de comida que se poderia encontrar entre a multidão. "Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos", disse André; "mas que é isso para tantos?" João 6:9. Jesus ordenou que os mesmos Lhe fossem levados. Depois pediu que os discípulos fizessem o povo sentar na relva. Feito isso, tomou a comida, "e erguendo


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os olhos ao céu, os abençoou, e, partindo os pães, deu-os aos discípulos, e os discípulos, à multidão. E comeram todos e


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saciaram-se, e levantaram dos pedaços que sobejaram doze cestos cheios." Mat. 14:19 e 20.

Foi por um milagre do divino poder que Cristo alimentou a multidão; todavia, quão humilde foi o mantimento provido - unicamente os peixes e os pães de cevada que eram o sustento diário dos pescadores da Galiléia.

Cristo poderia haver proporcionado ao povo uma rica refeição, mas comida preparada meramente para satisfação do apetite não lhes teria transmitido nenhuma lição para seu benefício. Por meio desse milagre, Cristo desejava ensinar uma lição de simplicidade. Se os homens de hoje fossem de hábitos simples, vivendo em harmonia com as leis da natureza, como viviam Adão e Eva, no princípio, haveria abundante provisão para as necessidades da família humana. Mas o egoísmo e a condescendência com o apetite trouxeram pecado e miséria, por excesso de um lado, e do outro por escassez.

Jesus não procurava atrair o povo a Si pela satisfação do desejo de luxos. Para aquela grande multidão, fatigada e faminta depois do longo e agitado dia, a simples refeição era garantia de Seu poder, ao mesmo tempo que de Seu terno cuidado por eles nas necessidades comuns da vida. O Salvador não prometeu aos Seus seguidores os luxos do mundo; a sorte deles poderá ser limitada à pobreza; mas Sua palavra está

"Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou que beberemos ou com que nos vestiremos? ... Decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; mas buscai primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas." Mat. 6:31-33.


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empenhada quanto à satisfação de suas necessidades, e Ele prometeu o que é melhor que bens terrenos - o permanente conforto de Sua presença.

Depois de a multidão haver sido alimentada, restou ainda abundância de comida. Jesus ordenou aos discípulos: "Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca." João 6:12. Essas palavras queriam dizer mais que pôr o alimento em cestos. Era uma lição dupla. Coisa alguma se deve desperdiçar. Não devemos deixar-se perder nenhuma vantagem temporal. Nada deveríamos negligenciar capaz de beneficiar uma criatura humana. Junte-se tudo quanto possa aliviar as necessidades dos famintos da Terra. Com o mesmo cuidado nos cumpre entesourar o pão do Céu para satisfazer as necessidades da alma. Por toda palavra de Deus havemos de viver. Não se deve perder coisa alguma do que Deus tem falado. Nem uma palavra referente a nossa salvação eterna devemos negligenciar. Nem uma palavra deve cair inutilmente em terra.

O milagre dos pães ensina confiança em Deus. Quando Cristo alimentou os cinco mil, a comida não estava à mão. Aparentemente Ele não tinha meios ao Seu dispor. Ali estava, com cinco mil homens, além de mulheres e crianças, num lugar deserto. Não convidara a multidão a segui-Lo ali. Ansiosos de estar em Sua presença, tinham ido sem ordem ou convite; mas Ele sabia que, depois de escutar o dia todo Suas instruções, estavam com fome e desfalecidos. Achavam-se longe de casa, e a noite estava prestes a chegar. Muitos deles estavam sem recursos para comprar comida. Aquele que por amor deles jejuara quarenta dias no deserto não permitiria que voltassem em jejum para casa.

A providência de Deus colocara Jesus na situação em que Se encontrava; e Ele confiou em Seu Pai celeste quanto aos


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meios para auxiliar os necessitados. Quando somos levados a situações críticas, devemos confiar em Deus. Em toda emergência devemos buscar auxílio dAquele que tem à Sua disposição ilimitados recursos.

Nesse milagre, Cristo recebeu do Pai; transmitiu aos discípulos, estes ao povo, e o povo uns aos outros. Assim todos quantos se acham unidos com Cristo receberão dEle o pão da vida e o transmitirão a outros. Seus discípulos são o instrumento designado para comunicação entre Cristo e o povo.

Quando os discípulos ouviram a ordem do Salvador: "Dai-lhes vós de comer", todas as dificuldades lhes surgiram na mente. Perguntaram: "Iremos nós e compraremos?" Mas que disse Cristo? "Dai-lhes vós de comer." Mar. 6:37. Os discípulos levaram a Jesus tudo quanto tinham; mas Ele não os convidou a comer. Pediu-lhes que servissem o povo. A comida se multiplicou em Suas mãos, e as mãos dos discípulos, estendendo-se para Cristo, nunca ficavam vazias. A pequenina provisão foi suficiente para todos. Quando a multidão tinha sido alimentada, os discípulos comeram com Jesus da preciosa comida proporcionada pelo Céu.

Ao vermos as necessidades dos pobres, dos ignorantes, dos aflitos, quantas vezes nosso coração desfalece! Perguntamos: "Que vale a nossa fraca força, quanto valem nossos escassos recursos, para suprir essa grande necessidade? Não esperaremos por uma pessoa de mais capacidade para dirigir a obra, ou por alguma organização para empreendê-la?" Cristo diz: "Dai-lhes vós de comer." Empregai os meios, o tempo, as aptidões que possuís. Levai a Jesus vossos pães de cevada.

Conquanto vossos recursos talvez não sejam suficientes para alimentar milhares, poderão bastar para dar de comer a um. Nas mãos de Cristo poderão alimentar a muitos. Como os discípulos, dai o que tendes. Cristo multiplicará a dádiva.


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Recompensará a sincera e simples confiança nEle. Aquilo que parece apenas uma escassa provisão se demonstrará um abundante banquete.

"O que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância também ceifará. ... Deus é poderoso para tornar abundante em vós toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, toda suficiência, superabundeis em toda boa obra, conforme está escrito: "Espalhou, deu aos pobres, a Sua justiça permanece para sempre. Ora, Aquele que dá a semente ao que semeia e pão para comer também multiplicará a vossa sementeira e aumentará os frutos da vossa justiça; para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência." II Cor. 9:6, 8-11.

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