A Ciência do Bom Viver

CAPÍTULO 18

A Cura Mental

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Muito íntima é a relação que existe entre a mente e o corpo. Quando um é afetado, o outro se ressente. O estado da mente atua muito mais na saúde do que muitos julgam. Muitas das doenças sofridas pelos homens são resultado de depressão mental. Desgosto, ansiedade, descontentamento, remorso, culpa, desconfiança, todos tendem a consumir as forças vitais, e a convidar a decadência e a morte.

A doença é muitas vezes produzida, e com freqüência grandemente agravada pela imaginação. Muitos que atravessam a vida como inválidos poderiam ser sãos, se tão-somente assim o pensassem. Muitos julgam que a mais leve exposição lhes ocasionará doença, e produzem-se os maus efeitos exatamente porque são esperados. Muitos morrem de doença de origem inteiramente imaginária.

O ânimo, a esperança, a fé, a simpatia e o amor promovem a saúde e prolongam a vida. Um espírito contente, animoso, é saúde para o corpo e força para a alma. "O coração alegre serve de bom remédio." Prov. 17:22.

No tratamento do enfermo não se deveria esquecer o efeito da influência mental. Devidamente usada, essa influência proporciona um dos mais eficazes meios de combater a doença.


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O Domínio da Mente

Uma forma de cura mental existe, entretanto, que é um dos mais eficazes meios para o mal. Mediante essa chamada ciência, a mente de uns é submetida ao domínio de uma outra, de modo que a individualidade do mais fraco imerge na do espírito mais forte. Uma pessoa executa a vontade de outra. Pretende-se assim poder mudar o curso dos pensamentos, comunicar impulsos que promovem a saúde, e habilitar o doente a resistir e vencer a doença.

Esse método de cura tem sido empregado por pessoas que ignoravam sua natureza e tendências reais, e que acreditavam ser ele um modo de beneficiar os doentes. Mas a assim chamada ciência baseia-se em falsos princípios. É estranha à natureza e princípios de Cristo. Ela não conduz Àquele que é vida e salvação. Aquele que atrai as mentes para si leva-as a separar-se da verdadeira Fonte de sua força.

Não é desígnio de Deus que nenhuma criatura humana submeta a mente e a vontade ao domínio de outra, tornando-se um instrumento passivo em suas mãos. Ninguém deve fundir sua individualidade na de outrem. Não deve considerar nenhum ser humano como fonte de cura. Sua confiança deve estar em Deus. Na dignidade da varonilidade que lhe foi dada pelo Senhor, deve ser por Ele próprio dirigido, e não por nenhuma inteligência humana.

Deus deseja pôr os homens em direta relação com Ele. Em todo o Seu trato com as criaturas, reconhece o princípio da responsabilidade individual. Busca estimular o senso da dependência pessoal, e impressioná-los com a necessidade de direção própria, isto é, individual. Deseja pôr o humano em ligação com o divino, a fim de que os homens sejam transformados à divina semelhança. Satanás trabalha para impedir este desígnio. Procura fomentar a confiança nos homens. Quando a mente é


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desviada de Deus, o tentador pode colocá-la sob seu domínio. Pode governar a humanidade.

A teoria de uma mente reger outra teve origem em Satanás, a fim de se introduzir como o obreiro principal, para pôr a filosofia humana onde se devia encontrar a divina. De todos os erros que estão encontrando aceitação entre cristãos professos, não há engano mais perigoso, nenhum mais propício a separar infalivelmente o homem de Deus do que esse. Por inocente que pareça, ao ser exercido sobre os pacientes, tende para sua destruição, e não para seu restabelecimento. Abre uma porta através da qual Satanás entrará para tomar posse tanto da mente que se entrega ao domínio de outra como da que a domina.

Terrível é o poder assim entregue a homens e mulheres maldosos. Que oportunidade proporciona isso aos que vivem de se aproveitar das fraquezas e tolices dos outros! Quantos, por meio do poder exercido sobre mentes fracas ou enfermas, encontrarão meio de satisfazer cobiçosas paixões ou ganâncias de lucro!

Existe alguma coisa melhor a fazermos do que dominar a humanidade pela humanidade. O médico deve educar o povo a volver o olhar do humano para o divino. Em lugar de ensinar o enfermo a confiar em criaturas humanas quanto à cura da alma e do corpo, deve dirigi-lo Àquele que é capaz de salvar perfeitamente a todos quantos a Ele se chegam. Aquele que fez a mente do homem sabe o que ela necessita. Unicamente Deus é quem pode curar. Aqueles que se acham

"O Senhor é a minha força e o meu escudo; nEle confiou o meu coração, e fui socorrido; pelo que o meu coração salta de prazer, e com o meu canto O louvarei." Sal. 28:7.


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doentes da mente e do corpo têm de ver em Cristo o restaurador. "Porque Eu vivo", diz Ele, "vós vivereis." João 14:19. Esta é a vida que nos cumpre apresentar aos doentes, dizendo-lhes que, se tiverem fé em Cristo como restaurador, se com Ele cooperarem, obedecendo às leis da saúde, e se esforçando por aperfeiçoar a santidade em Seu temor, Ele lhes comunicará Sua vida. Quando por essa maneira lhes apresentamos a Cristo, estamos transmitindo um poder e uma força de valor, porquanto vêm de cima. Esta é a verdadeira ciência da cura do corpo e da alma.

Simpatia

Grande sabedoria é necessária no trato das doenças produzidas pela mente. Um coração dolorido, enfermo, um espírito desalentado, requerem um brando tratamento. Muitas vezes um problema doméstico está, como um câncer, corroendo até à própria alma, e enfraquecendo as forças vitais. Outras ocasiões é o caso do remorso pelo pecado minando o organismo e desequilibrando a mente. É mediante uma terna simpatia que esta classe de doentes pode ser beneficiada. O médico deve conquistar-lhes primeiro a confiança, encaminhando-os depois ao grande Restaurador. Se sua fé pode ser dirigida para o verdadeiro médico, e são capazes de confiar em que lhes tomou o caso nas mãos, isso trará alívio ao espírito, dando muitas vezes saúde ao corpo.

A simpatia e o tato se demonstrarão freqüentemente um maior benefício ao enfermo do que o mais hábil tratamento executado de modo frio, indiferente. Quando um médico se aproxima do leito de um doente com uma maneira desatenta e negligente, olha para o aflito com pouco interesse, dando por palavras ou atos a impressão de que o caso não requer muito cuidado, para deixar em seguida o paciente entregue a suas reflexões, esse médico causou ao doente positivo dano.

A dúvida e o desânimo produzidos por sua indiferença neutralizarão muitas vezes o bom efeito dos remédios por ele prescritos.


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Se os médicos se colocassem no lugar daquele cujo espírito se acha humilhado e cuja vontade está enfraquecida pelo sofrimento, que anela palavras de simpatia e segurança, estariam mais preparados para apreciar seus sentimentos. Quando o amor e a compaixão manifestados por Cristo para com o enfermo se misturam aos conhecimentos do médico, a própria presença deste será uma bênção.

A franqueza no trato com o doente lhe inspira confiança, demonstrando-se assim importante auxílio no restabelecimento. Médicos há que consideram sábia a medida de ocultar ao doente a natureza e causa da doença de que ele está sofrendo. Muitos, temendo chocar ou desanimar um paciente com a declaração da verdade, dão-lhe falsas esperanças de cura, permitindo mesmo que desça ao túmulo sem o advertir do perigo. Tudo isso é falta de sabedoria. Talvez nem sempre seja seguro, nem o melhor a fazer, explicar ao doente toda a extensão de seu perigo. Isso poderia alarmá-lo e viria a retardar ou mesmo impedir o restabelecimento. Nem pode toda a verdade ser dita àqueles cujos males são em grande parte imaginários. Muitas dessas pessoas são irrazoáveis, e não se habituaram a exercer o domínio de si mesmas. Têm fantasias peculiares, e imaginam muitas coisas irreais quanto a si mesmas e a outros. Para elas, essas coisas são verdadeiras, e os que delas cuidam devem manifestar constante bondade, paciência e tato incansáveis. Se fosse dita a esses doentes a verdade quanto a si mesmos, alguns se ofenderiam, e outros ficariam desanimados. Cristo disse a Seus discípulos: "Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora." João 16:12. Mas, embora a verdade não possa ser dita inteiramente em todas as ocasiões, nunca é necessário nem justificável enganar. Nunca o médico ou a enfermeira devem descer à mentira. Aquele que assim faz coloca-se em posição em que Deus não pode com ele cooperar; e, perdendo a confiança de seus clientes, está desperdiçando um dos mais eficazes auxílios para a restauração.


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O poder da vontade não é estimado como devia ser. Permaneça a vontade desperta e devidamente dirigida, e ela comunicará energia a todo o ser, sendo maravilhoso auxiliar na manutenção da saúde. Também é uma potência no tratar a doença. Exercida na devida direção, dominaria a imaginação, e seria poderoso meio de resistir e vencer tanto a doença da mente como a do corpo. Pelo exercício da força de vontade no se colocar na justa relação para com a existência, o enfermo muito pode fazer para cooperar com os esforços médicos em favor de seu restabelecimento. Há milhares que, se quiserem, poderão recuperar a saúde. O Senhor não quer que estejam doentes. Deseja que sejam sadios e felizes, e devem dirigir a mente no sentido de ficar bons. Muitas vezes, os inválidos podem resistir à doença, simplesmente recusando entregar-se às doenças e deixar-se ficar num estado de inatividade. Erguendo-se acima de suas dores e incômodos, empenhem-se em útil ocupação, adequada a suas forças. Por tal ocupação e o livre uso do ar e da luz do sol, muito inválido enfraquecido haveria de recuperar a saúde e as forças.

Princípios Bíblicos de Cura

Há para os que desejam reconquistar ou manter a saúde uma lição nas palavras da Escritura: "Não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito." Efés. 5:18. Não mediante a excitação ou o esquecimento produzido por estimulantes contrários à natureza e à saúde, não por meio da satisfação dos apetites inferiores e das paixões, se encontrará verdadeira cura ou refrigério para o corpo e a alma. Entre os enfermos muitos existem que estão sem Deus e sem esperança. Sofrem de desejos insatisfeitos, desordenadas paixões, e a condenação da própria consciência; estão-se desprendendo desta vida, e não têm nenhuma perspectiva quanto à por vir. Não esperem os assistentes dos enfermos beneficiá-los


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com o conceder-lhes frívolas e excitantes satisfações. Estas têm sido a ruína de sua vida. A alma faminta e sedenta continuará a ter fome e sede enquanto buscar encontrar aqui satisfações. Os que bebem da fonte do prazer egoísta estão enganados. Confundem o riso com a força, e uma vez passada a euforia, a inspiração termina, e são deixados entregues ao descontentamento e desânimo.

A permanente paz, o verdadeiro descanso do espírito, não têm senão uma Fonte. Foi desta que Cristo falou quando disse: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei." Mat. 11:28. "Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize." João 14:27. Essa paz não é qualquer coisa que Ele dê à parte de Si mesmo. Ela está em Cristo, e só a podemos receber recebendo a Cristo.

Cristo é a fonte da vida. O que muitos necessitam é possuir dEle mais clara compreensão; precisam ser paciente, bondosa e fervorosamente ensinados quanto à maneira em que podem abrir inteiramente o ser às curativas forças celestes. Quando a luz solar do amor de Deus ilumina as mais escuras câmaras da alma, cessam o desassossego, a fadiga e o descontentamento, e satisfatórias alegrias virão dar vigor à mente, saúde e energia ao corpo.

Achamo-nos num mundo de sofrimento. Dificuldades, provações e dores nos aguardam em todo o percurso para o lar celeste. Muitos existem, porém, que tornam duplamente pesados os fardos da vida por estarem continuamente antecipando aflições. Se têm de enfrentar adversidade ou decepção,

"Vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus... com ação de graças." Filip. 4:6.


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pensam que tudo se encaminha para a ruína, que sua sorte é a mais dura de todas, que vão por certo cair em necessidade. Trazem assim sobre si o infortúnio, e lançam sombras sobre todos os que os rodeiam. A própria vida se lhes torna um fardo. Mas não precisa ser assim. Custará um decidido esforço o mudar a corrente de seus pensamentos. Mas a mudança se pode operar. Sua felicidade, tanto nesta vida como na futura, depende de que fixem a mente em coisas animadoras. Desviem-se eles do sombrio quadro, que é imaginário, voltando-se para os benefícios que Deus lhes tem espargido na estrada, e para além destes, aos invisíveis e eternos.

Para toda aprovação proveu Deus auxílio. Quando Israel, no deserto, chegou às águas amargas de Mara, Moisés clamou ao Senhor. Este não proveu nenhum remédio novo; chamou a atenção para o que lhes estava ao alcance. Um arbusto por Ele criado devia ser lançado na fonte para tornar a água pura e doce. Isto feito, o povo bebeu dela e refrigerou-se. Em toda provação, se O buscarmos, Cristo nos dará auxílio. Nossos olhos se abrirão para discernir as restauradoras promessas registradas em Sua Palavra. O Espírito Santo nos ensinará a apoderar-nos de toda bênção, que servirá de antídoto para o desgosto. Para toda amarga experiência havemos de encontrar um ramo restaurador.

Não devemos permitir que o futuro, com seus difíceis problemas, suas não satisfatórias perspectivas, façam nosso coração desfalecer, tremer-nos os joelhos, pender-nos as mãos. "... Se apodere da Minha força", diz o Poderoso, "e faça paz comigo; sim, que faça paz comigo." Isa. 27:5. Os que submetem a vida a Sua direção e a Seu serviço, jamais se verão colocados numa posição para a qual Ele não haja tomado providências. Seja qual for nossa situação, se somos cumpridores de Sua Palavra, temos um Guia a nos dirigir o caminho, seja


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qual for nossa perplexidade, temos um seguro Conselheiro; seja qual for nossa tristeza, perda ou solidão, possuímos um Amigo cheio de compassivo interesse.

Se, em nossa ignorância, damos passos em falso, nosso Salvador não nos abandona. Nunca precisamos sentir que nos achamos sós. Temos anjos por companheiros. O Consolador que Cristo nos prometeu enviar em Seu nome permanece conosco. No caminho que conduz à cidade de Deus não há dificuldades que os que nEle confiam não possam vencer. Não existem perigos de que não lhes seja possível escapar. Não há uma tristeza, uma ofensa, uma fraqueza humana para a qual não haja Ele provido o remédio.

Ninguém tem necessidade de se abandonar ao desânimo e desespero. Satanás poderá se achegar a vós com a cruel sugestão: "Teu caso é desesperado. És irremissível." Mas há para vós esperança em Cristo. Deus não nos manda vencer em nossas próprias forças. Pede-nos que nos acheguemos bem estreitamente a Ele. Sejam quais forem as dificuldades sob que labutemos, que nos façam vergar o corpo e a alma, Ele está à espera de nos libertar.

Aquele que tomou sobre Si a humanidade sabe compadecer-Se dos sofrimentos dela. Cristo não só conhece cada alma, suas necessidades e provações particulares, mas também sabe todas as circunstâncias que atritam e desconcertam o espírito. Sua mão se estende em piedosa ternura a todo filho em sofrimento. Os que mais sofrem, mais simpatia e piedade dEle recebem. Comove-Se com o sentimento de nossas enfermidades, e deseja que Lhe lancemos aos pés as perplexidades e aflições, deixando-as ali.

Não é sábio olhar-nos a nós mesmos, e estudar nossas emoções. Se assim fazemos, o inimigo apresentará dificuldades e tentações que enfraquecerão a fé e destruirão o ânimo. Estudar atentamente nossas emoções e dar curso aos sentimentos é entreter a dúvida, e enredar-nos em perplexidades. Devemos desviar os olhos do próprio eu para Jesus.


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"E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós abundantemente. ... E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus." Col. 3:15-17.

Quando sois assaltados pelas tentações, quando o cuidado, a perplexidade e as trevas parecem circundar vossa alma, olhai para o lugar em que pela última vez vistes a luz. Descansai no amor de Cristo, e sob Seu protetor cuidado. Quando o pecado luta pelo predomínio no coração, quando a culpa oprime a alma e sobrecarrega a consciência, quando a incredulidade obscurece a mente - lembrai-vos de que a graça de Cristo é suficiente para subjugar o pecado e banir a escuridão. Entrando em comunhão com o Salvador, penetramos na região da paz.

As Promessas de Restauração

"O Senhor resgata a alma dos Seus servos,

E nenhum dos que nEle confiam será condenado." Sal. 34:22.

"No temor do Senhor, há firme confiança,

E Ele será um refúgio para Seus filhos." Prov. 14:26.

"Sião diz: Já me desamparou o Senhor;

O Senhor Se esqueceu de mim.

Pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria,

Que se não compadeça dele, do filho do seu ventre?

Mas, ainda que esta se esquecesse, Eu, todavia, Me não esquecerei de ti.

Eis que, na palma das Minhas mãos, te tenho gravado." Isa. 49:14-16.


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"Não temas, porque Eu sou contigo;

Não te assombres, porque Eu sou o teu Deus;

Eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da Minha justiça." Isa. 41:10.

"Vós, a quem trouxe nos braços desde o ventre

E levei desde a madre.

E até à velhice Eu serei o mesmo

E ainda até às cãs Eu vos trarei;

Eu o fiz, e Eu vos levarei,

E Eu vos trarei e vos guardarei." Isa. 46:3 e 4.

Coisa alguma tende mais a promover a saúde do corpo e da alma do que um espírito de gratidão e louvor. É um positivo dever resistir à melancolia, às idéias e sentimentos de descontentamento - dever tão grande como é orar. Se nos destinamos ao Céu, como poderemos ir qual bando de lamentadores, gemendo e queixando-nos por todo o caminho da casa de nosso Pai?

Os professos cristãos que se estão sempre queixando, e que parecem julgar que a alegria e a felicidade sejam um pecado, não possuem genuína religião. Os que encontram um funesto prazer em tudo que é melancolia no mundo natural; que preferem olhar às folhas mortas em vez de colher as belas flores vivas; que não vêem beleza nas elevações das grandes montanhas e nos vales revestidos de luxuriante verdor; que fecham os sentidos à jubilosa voz que lhes fala na natureza e é doce e harmoniosa ao ouvido atento - estes não estão em Cristo. Estão colhendo para si mesmos tristezas e sombras, quando poderiam ter esplendor, o próprio Sol da Justiça surgindo-lhes no coração e trazendo saúde em Seus raios.

Freqüentemente vosso espírito se poderá nublar por causa do sofrimento. Não busqueis pensar então. Sabeis que Jesus vos ama. Ele compreende vossa fraqueza. Podeis fazer Sua vontade com o simples repousar em Seus braços.

É uma lei da natureza que nossas idéias e sentimentos sejam animados e fortalecidos ao lhes darmos expressão. Ao


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passo que as palavras exprimem pensamentos, é também verdade que estes seguem aquelas. Se exprimíssemos mais a nossa fé, mais nos regozijássemos nas bênçãos que sabemos possuir - a grande misericórdia e o amor de Deus - teríamos mais fé


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e maior alegria. Língua alguma pode traduzir, nenhuma mente conceber a bênção que resulta de apreciar a bondade e o amor de Deus. Mesmo na Terra podemos fruir alegria como uma fonte inesgotável, porque se nutre das correntes que emanam do trono de Deus.

Eduquemos, pois, o coração e os lábios a entoar o louvor de Deus por Seu incomparável amor. Eduquemos a alma a ser esperançosa, e a permanecer na luz que irradia da cruz do Calvário. Nunca devemos nos esquecer de que somos filhos do celeste Rei, filhos e filhas do Senhor dos Exércitos. É nosso privilégio manter um calmo repouso em Deus.

"E a paz de Deus, ... domine em vossos corações; e sede agradecidos." Col. 3:15. Esquecendo nossas próprias dificuldades e aflições, louvemos a Deus pela oportunidade de viver para glória de Seu nome. Que as novas bênçãos de cada dia nos despertem no coração louvor por esses testemunhos de Seu amoroso cuidado. Quando abris os olhos pela manhã, dai graças a Deus por vos haver guardado durante a noite. Agradecei-Lhe pela paz que tendes no coração. De manhã, ao meio-dia e à noite, qual suave perfume, ascenda ao Céu a vossa gratidão.

Quando alguém vos pergunta como vos sentis, não penseis em qualquer coisa triste para contar a fim de atrair simpatia. Não faleis de vossa falta de fé e de vossas aflições e sofrimentos. O tentador se deleita em ouvir palavras assim. Quando falais em assuntos sombrios, estais a glorificá-lo. Não nos devemos demorar no grande poder de Satanás para nos vencer. Entregamo-nos muitas vezes em suas mãos por falar no poder dele. Falemos ao contrário no grande poder de Deus para ligar aos Seus todos os nossos interesses. Falai do incomparável poder de Cristo, e de Sua glória. Todo o Céu está interessado em nossa salvação. Os anjos de Deus, milhares de milhares, e miríades de miríades, são comissionados a ministrar aos que hão de herdar a salvação. Eles nos guardam do mal, e repelem os poderes das trevas que nos estão procurando


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destruir. Não temos nós motivo de ser a todo momento agradecidos, mesmo quando existem aparentes dificuldades em nosso caminho?

Cantar Louvores

Que o louvor e ações de graças sejam expressos em cânticos. Quando tentados, em lugar de dar expressão a nossos sentimentos, ergamos pela fé um hino de graças a Deus.

Louvamos-Te, ó Deus, pelo dom de Jesus,

Que por nós, pecadores, foi morto na cruz.

Coro

Aleluia! Toda a glória Te rendemos sem fim.

Aleluia! Tua graça imploramos. Amém.

Louvamos-Te, ó Deus, pelo Espírito, luz

Que nos tira das trevas e a Cristo conduz.

Ó, vem nos encher de celeste fervor,

De esperança e bondade, de fé, zelo e amor.

O canto é uma arma que podemos empregar sempre contra o desânimo. Ao abrirmos assim o coração à luz da presença do Salvador, teremos saúde e Sua bênção.

"Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós. Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize." João 14:18 e 27.


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"Louvai ao Senhor, porque Ele é bom,

Porque a Sua benignidade é para sempre.

Digam-no os remidos do Senhor,

Os que remiu da mão do inimigo." Sal. 107:1 e 2.

"Cantai-Lhe, cantai-Lhe salmos;

Falai de todas as Suas maravilhas.

Gloriai-vos no Seu santo nome;

Alegre-se o coração daqueles que buscam ao Senhor." Sal. 105:2 e 3.

"Pois fartou a alma sedenta

E encheu de bens a alma faminta,

Tal como a que se assenta nas trevas e sombra da morte,

Presa em aflição e em ferro.

Então, clamaram ao Senhor na sua angústia,

E Ele os livrou das suas necessidades.

Tirou-o das trevas e sombra da morte

E quebrou as suas prisões.

Louvem ao Senhor pela Sua bondade

E pelas Suas maravilhas para com os filhos dos homens."

Sal. 107:9, 10, 13-15.

"Por que estás abatida, ó minha alma,

E por que te perturbas dentro de mim?

Espera em Deus,

Pois ainda O louvarei.

Ele é a salvação da minha face

E o meu Deus." Sal. 42:11.

"Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco." I Tess. 5:18. Esta ordem é uma certeza de que mesmo as coisas que nos parecem ser adversas contribuirão para o nosso bem. Deus não nos mandaria ser agradecidos por aquilo que nos causasse dano.

"O Senhor é a minha luz e a minha salvação;

A quem temerei?

O Senhor é a força da minha vida;

De quem me recearei? Sal. 27:1.

"No dia da adversidade me esconderá no Seu pavilhão;

No oculto do Seu tabernáculo me esconderá. ...

Pelo que oferecerei sacrifício de júbilo no Seu tabernáculo;

Cantarei, sim, cantarei louvores ao Senhor." Sal. 27:5 e 6.


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"Esperei com paciência no Senhor,

E Ele Se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor.

Tirou-me de um lago horrível, de um charco de lodo;

Pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos;

E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus."

Sal. 40:1-3.

"O Senhor é a minha força e o meu escudo;

NEle confiou o meu coração, e fui socorrido;

Pelo que o meu coração salta de prazer,

E com o meu canto O louvarei." Sal. 28:7.

Um dos mais seguros impedimentos à restauração dos enfermos é o concentrarem a atenção em si mesmos. Muitos inválidos acham que todo o mundo lhes devia mostrar simpatia e dar auxílio, quando o que eles precisam é desviar a atenção de si mesmos e pensar nos outros, e deles cuidar.

Muitas vezes são solicitadas orações pelos aflitos, os tristes e desanimados, e isso é correto. Devemos rogar que Deus derrame luz na mente obscurecida, e conforte o coração magoado. Mas Deus só atende às orações em favor dos que se colocam no rumo de Suas bênçãos. Ao mesmo tempo que pedimos por esses aflitos, devemos estimulá-los a se esforçar por ajudar aos que se acham mais necessitados que eles. Dissipar-se-ão as trevas de seu próprio coração enquanto buscam auxiliar a outros. Ao buscarmos confortar nosso semelhante com o conforto com que nós mesmos somos confortados, a bênção nos é devolvida.

O capítulo 58 de Isaías é uma prescrição tanto para as doenças do corpo como para as da alma. Se desejamos saúde e a verdadeira alegria da vida, devemos pôr em prática as regras dadas nesta escritura. Diz o Senhor quanto ao serviço que Lhe é aceitável e a suas bênçãos:

"Não é também que repartas o teu pão com o faminto

E recolhas em casa os pobres desterrados?

E, vendo o nu, o cubras

E não te escondas daquele que é da tua carne?


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Então, romperá a tua luz como a alva,

E a tua cura apressadamente brotará,

E a tua justiça irá adiante da tua face,

E a glória do Senhor será a tua retaguarda.

Então, clamarás, e o Senhor te responderá;

Gritarás, e Ele dirá: Eis-me aqui;

Acontecerá isso se tirares do meio de ti o jugo,

O estender do dedo e o falar vaidade;

E, se abrires a tua alma ao faminto

E fartares a alma aflita,

Então, a tua luz nascerá nas trevas,

E a tua escuridão será como o meio-dia.

E o Senhor te guiará continuamente,

E fartará a tua alma em lugares secos,

E fortificará teus ossos;

E serás como um jardim regado

E como um manancial cujas águas nunca faltam." Isa. 58:7-11.

As boas ações são bênçãos duplas, beneficiando tanto o que pratica como o que é objeto da bondade. A consciência de proceder bem é um dos melhores medicamentos para corpos e mentes enfermos. Quando a mente está livre e satisfeita por um sentimento de dever cumprido e o prazer de proporcionar felicidade a outros, a animadora influência traz vida nova a todo o ser.

Que o inválido, em lugar de exigir constantemente simpatia, procure comunicá-la a outros. Que o fardo de vossa própria fraqueza, dor e aflição seja lançado sobre o compassivo Salvador. Abri o coração ao Seu amor, e deixai que este flua para os outros. Lembrai-vos de que todos têm provações duras de suportar, tentações difíceis de resistir, e está em vossas mãos fazer qualquer coisa para aliviar esses fardos. Exprimi gratidão pelas bênçãos que tendes; mostrai apreciação pelas atenções de que sois objeto. Mantende o coração cheio das preciosas promessas de Deus, a fim de que possais tirar desse tesouro palavras que sejam um conforto e vigor para outros. Isso vos circundará de uma atmosfera que será benéfica e enobrecedora. Seja vossa aspiração beneficiar os que vos rodeiam,


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e encontrareis sempre ocasião de ser úteis, tanto aos membros de vossa própria família, como aos outros.

Se os que estão padecendo má saúde esquecessem o próprio eu em seu interesse pelos demais; se cumprissem o mandamento do Senhor de ajudar aos mais necessitados que eles, haveriam de compreender a veracidade da profética promessa: "Então, romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará." Isa. 58:8.

Mara e ElimHoje é Elim com suas palmeiras e fontes,

E sombra feliz para a fadiga do deserto.

Ontem foi Mara, somente rocha e sal,

Solidão sem fim e penosa canseira.

Contudo, o mesmo deserto encerra ambas,

A mesma brisa sobre ambas sopra;

O mesmo vale abriga uma e outra,

E as mesmas montanhas as envolvem.

Assim é conosco sobre a Terra, e assim,

Quanto eu saiba, sempre foi.

O amargo e o doce, a dor e a alegria,

Jazem lado a lado, à parte apenas um dia.

Por vezes Deus converte o amargo em doce,

Por vezes nos abriga na concha de Sua mão.

Por vezes nos guia a fontes aprazíveis;

Por vezes nos traz a um oásis de palmeiras.

Que importa? A prova não será longa.

De igual modo passam Mara e Elim.

Fontes e palmeiras ficam para trás,

Chegamos à cidade de nosso Deus enfim.

Oh! terra feliz! além destes montes solitários,

Onde jorram cantando as fontes eternas.

Oh! santo paraíso! Oh! bendita mansão!

Onde breve finda nossa peregrinação.

Horácio Bonar

Tradução livre de J. S. Schwantes


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Bendita Segurança

Que segurança! Sou de Jesus!

Eu já desfruto bênçãos da luz!

Sei que herdeiro sou de meu Deus;

Ele me leva à glória dos Céus!

Coro

Canta, minh"alma! Canta ao Senhor!

Rende-Lhe sempre honra e louvor!

Canta, minh"alma! Canta ao Senhor!

Rende-Lhe sempre honra e louvor!

Sendo submisso sempre ao bem,

Sinto os enlevos puros do além;

Anjos, descendo, trazem do alvor

Ecos da graça, bênçãos do amor.

Sempre vivendo em Seu grande amor,

Me regozijo em meu Salvador;

Esperançoso, vivo na luz;

Quanta bondade tem meu Jesus!

Fanny J. Crosby

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