Testemunhos Seletos - Volume 2

CAPÍTULO 35

A Aparência do Mal

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"A Aparência do Mal"

Sinto-me impelida a falar aos que estão empenhados em dar ao mundo a última mensagem de advertência. Depende muito do obreiro mesmo, que as almas pelas quais ele trabalha reconheçam e abracem a verdade. A injunção de Deus é esta: "Purificai-vos, os que levais os vasos do Senhor" (Isa. 52:11); e Paulo exorta a Timóteo: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina." I Tim. 4:16. A obra tem de começar pelo obreiro; precisa ele de estar unido a Cristo, como a vara à videira. "Eu sou a videira", disse Jesus: "vós as varas." João 15:5. Nesta imagem está figurada a ligação mais íntima possível. Enxertai na videira verde a vara despida de folhagem e tornar-se-á um ramo vivo, que tira seiva e alimento da mesma videira. Fibra com fibra e artéria com artéria se ligam, e a seiva, subindo por elas, faz que na vara brotem folhas e nasçam frutos. A vara destituída de seiva representa o pecador; unido a Cristo, alma se une a alma, o frágil e mortal ao santo e infinito, e o homem se torna um com Cristo.

"Sem Mim", disse Cristo, "nada podereis fazer." João 15:5. Acaso estamos nós, que presumimos ser obreiros de Cristo, unidos a Ele como a vara à videira? Permanecemos nós em Cristo e somos um com Ele? A mensagem que levamos é mundial. Tem de ser levada a toda a nação, tribo, língua e povo. O Senhor não quer que um só de nós se constitua um portador dessa mensagem, sem dar-nos graça e poder a fim de apresentá-la ao povo de modo correspondente à sua importância. A grande questão para nós hoje é: estamos proclamando esta solene mensagem de verdade no mundo, de modo a fazer ressaltar sua gravidade? O Senhor promete cooperar com o obreiro que se puser na inteira dependência de Cristo. Não é Sua vontade


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que os missionários trabalhem sem Sua graça e carecidos de Seu poder.

Cristo nos escolheu do mundo para que fôssemos um povo peculiar e santo. Deu-Se "a Si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade, e purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras". Tito 2:14. Os obreiros de Deus precisam ser homens de oração, estudantes diligentes da Escritura, que tenham sede e fome de justiça, a fim de que possam ser uma luz e conforto para outros. Nosso Deus é Deus zeloso; requer de nós que O adoremos em espírito e verdade, na beleza da santidade. Diz o salmista: "Se eu atender a iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá." Sal. 66:18. Como obreiros devemos ter cuidado dos nossos caminhos. Se o salmista não podia ser ouvido, se atendesse à iniqüidade em sua alma, como poderiam ser agora ouvidas as orações de homens que abrigam a iniqüidade no coração?

Fugir da Menor Aproximação do Mal

Expirando o tempo de expectativa em 1844, o fanatismo penetrou nas fileiras dos adventistas. Deus enviou, pois, mensagens de advertência a fim de afastar o mal que irrompia. Havia exagerada intimidade entre certos homens e mulheres. Apresentei-lhes a norma santa da verdade que nos cumpria seguir e a pureza de conduta que importava observar, a fim de termos a aprovação de Deus e estarmos sem mácula nem ruga diante dele. As mais solenes ameaças vieram dirigidas de Deus a homens e mulheres cujos pensamentos não eram puros e que pretendiam estar sendo particularmente favorecidos pelo Senhor; mas essas mensagens foram desprezadas e rejeitadas. Voltando-se contra mim, diziam: "Porventura falou Deus somente por meio de ti e não também por meio de nós?" Não se emendaram e Deus permitiu que prosseguissem em seu caminho até que o pecado se patenteasse em sua vida.

Também agora não estamos isentos de perigo. Cada alma empenhada em proclamar a mensagem de advertência ao mundo há de ser fortemente tentada a seguir uma conduta que


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seria a negação de sua fé. É o plano premeditado de Satanás tornar os obreiros, em conseqüência de suas deficiências de caráter, fracos na oração, virtude e influência. Nós, como obreiros, devemos unir-nos no propósito de suprimir e condenar tudo que em nossas relações mútuas tenha alguma afinidade com o mal. Nossa fé é santa; nossa obra tem por fim vindicar a honra da lei de Deus e não pode ser de natureza a reduzir o padrão moral das idéias ou do comportamento de quem quer que seja.

Devemos colocar-nos num ponto de vista elevado. Devemos crer e pregar a verdade como é em Cristo. A santidade nunca há de conduzir a atos menos honestos. Se alguém, que pretende ensinar a verdade, se inclina a estar muito na companhia de uma moça ou mesmo de uma senhora casada; se em confiança, chega a pôr-lhe a mão, ou se se entretém a miúdo com ela em conversações íntimas, acautelai-vos contra ele; os princípios puros da verdade não estão arraigados em sua alma. Essas pessoas não estão em Cristo, nem Cristo nelas. Necessitam de uma legítima conversão antes que Deus possa aceitar seu trabalho. A verdade de origem divina jamais degradará ao que a recebe, jamais o induzirá a qualquer intimidade indébita; ao contrário, santifica o crente, educa-lhe o gosto, eleva-o e enobrece-o e põe-no em comunhão íntima com Jesus. Leva-o a atender à exortação do apóstolo, no sentido de evitar a própria aparência do mal, para que "não seja pois blasfemado o vosso bem". Rom. 14:16.

É este um assunto que nos importa considerar; devemos acautelar-nos contra os pecados deste século corrupto. Devemos fugir de tudo que tenha sinais de uma familiaridade suspeita. Deus o condena. É um terreno proibido e há perigo em pôr nele o pé. Cada palavra e ato devem elevar e enobrecer o caráter. É pecado pensar levianamente acerca destas coisas. O apóstolo Paulo exorta Timóteo à diligência e exatidão em seu ministério, e a meditar sobre coisas que são boas e puras para que o seu aproveitamento seja manifesto a todos. Os mesmos


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conselhos muito necessitam os moços do presente tempo. Muita ponderação é o que precisamos. Se os nossos obreiros refletissem mais em vez de se deixarem levar por impulsos de momento, obteriam muito maior êxito em seu trabalho. Estamos tratando com coisas de infinito alcance e não devemos prejudicar a obra com os defeitos de nosso caráter. Devemos representar o caráter de Cristo.

Nobres no Pensamento e na Ação

Temos um grande trabalho a fazer, a fim de elevar homens e ganhá-los para Cristo, induzindo-os a aspirarem diligentemente à participação da natureza divina, depois de haverem escapado às corrupções deste século. Cada pensamento, palavra e ato de nossos obreiros deve ter aquele caráter elevado que está em conformidade com a verdade sagrada que defendem.

É possível que em nossos grandes campos missionários homens e mulheres tenham de trabalhar juntos. Nessa hipótese todo o cuidado será pouco. Que os homens casados sejam circunspectos e recatados, para que nenhuma acusação lhes possa ser justamente feita. Estamos vivendo em um tempo em que a iniqüidade predomina, e uma palavra irrefletida ou ato inconveniente pode prejudicar muito a utilidade daquele que revelar tal fraqueza. Que os obreiros observem as fronteiras do recato, nada deixando acontecer de que o inimigo possa tirar vantagem. Se começarem a dirigir suas afeições um ao outro, tratando com particular atenção aos preferidos e usando palavras lisonjeiras, o Senhor lhes subtrairá Seu Espírito.

Quando homens casados vão para o trabalho, deixando suas esposas presidindo aos cuidados da casa, estas estão fazendo um serviço tão importante como o marido. Enquanto o marido é missionário lá fora, ela não o é menos em casa, excedendo muitas vezes o marido quanto aos cuidados, solicitude e trabalhos com que tem de arcar. Sua obra, que consiste em desenvolver e moldar a inteligência e o caráter dos filhos e educá-los para serem homens úteis aqui e idôneos para a futura


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vida imortal, é uma obra sagrada e importante. O marido, lá fora pode ser cumulado de honras da parte dos homens, ao passo que a fiel obreira em casa ficará privada dessa recompensa. Mas se ela se empenhar pela felicidade da família, esforçando-se por formar caracteres à imagem divina, os anjos arrolarão o seu nome junto ao dos maiores missionários do mundo. Deus não vê as coisas como se apresentam à visão finita do homem. Quão cuidadoso deve ser o marido e pai em manter fidelidade ao voto conjugal! Quão circunspecto deve revelar-se quanto ao caráter, a fim de não despertar nas moças ou mesmo nas senhoras casadas pensamentos que não correspondam à elevada e santa norma - os mandamentos de Deus! Esses mandamentos, como Cristo os expôs, são muitíssimo amplos, atingindo até aos pensamentos e propósitos do coração. É aqui que se prova a delinqüência de muitos. A imaginação de seu coração não é de caráter puro e santo como Deus o requer, e por mais elevada que seja sua vocação, por mais talentoso que sejam, Deus assinalará seu pecado e a Seus olhos serão mais culpados e mais dignos de Sua ira do que os menos prendados, que possuem menos luz e são dotados de menos influência.

Evitar Louvor e Lisonja

Fico contristada ao ver como homens são louvados, lisonjeados e preferidos. Deus me revelou que alguns dos que têm recebido essas atenções não são dignos de tomarem o Seu nome nos lábios; contudo são exaltados até ao Céu na apreciação de seres finitos, que julgam somente pelas aparências. Minhas irmãs, não vos excedais em atenções nem lisonjeeis a pobres homens falíveis e mortais, sejam jovens ou idosos, casados ou solteiros. Não lhes conheceis as fraquezas e não sabeis se porventura essas atenções e excessivo louvor que lhes teceis não venham a determinar sua ruína. Estou alarmada com a estreiteza de vista e a falta de prudência que muitos manifestam a este respeito.

Homens que estão fazendo a obra de Deus e têm a Cristo


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no coração, não amesquinharão o padrão da moralidade cristã, mas procurarão elevá-lo o mais possível. Não acharão prazer nas lisonjas de mulheres ou em ser delas preferidos. Digam todos, solteiros e casados: Alto! Não quero dar o mais ligeiro motivo para que me acusem. Meu bom nome tem para mim maior valor do que o ouro e prata: quero conservá-lo impoluto. Se os homens desfizerem dele, não deve ser porque lhes tenha dado motivo para isso, mas pelo mesmo motivo pelo qual também blasfemaram de Cristo, isto é, porque odiavam a pureza e santidade de Seu caráter, que para eles era constante acusação.

Quisera que me fosse dado inculcar em todo obreiro da causa de Deus a grande necessidade de orar com zelo e persistência. Não poderão estar continuamente de joelhos, mas poderão elevar o coração a Deus. Esta foi a maneira como Enoque andou com Deus. Tende cuidado não suceda que vos domine a idéia da suficiência própria e Cristo seja eliminado de vosso coração, trabalhando vós na vossa própria força em vez de na força e no espírito de vosso Mestre. Não desperdiceis momentos preciosos em conversações frívolas. Quando voltardes de algum trabalho missionário, não deveis louvar vossos esforços e sim exaltar a Jesus; enaltecei a cruz do Calvário.

Não permitais que alguém vos elogie, lisonjeie ou aperte vossa mão como se não quisesse tornar a largá-la. Temei toda a demonstração desse gênero. Quando moços ou mesmo pessoas casadas revelam inclinação para descobrir-vos segredos de família, acautelai-vos! Quando manifestam o desejo de possuir vossa simpatia, deveis saber que é hora de pôr-vos de sobreaviso. Os que estão imbuídos do espírito de Cristo e andam com Deus, não manifestarão desejos não santificados de simpatia. Desfrutam da comunhão de Alguém que satisfaz neles plenamente todo o desejo do espírito e da alma. Homens casados que aceitam as atenções, elogios e lisonjas da parte de mulheres, podem estar certos de que o amor e simpatia dessas pessoas não merecem ser estimados.


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A Firmeza de José

As mulheres são muitas vezes tentadoras. Sob este ou aquele pretexto cativam a atenção dos homens, sejam casados ou solteiros, e continuam seduzindo-os até que tenham transgredido a lei de Deus, tornando-se inaptos para o trabalho, e sua alma esteja em grave risco. A história de José foi relatada para benefício dos que são tentados à sua semelhança. José provou-se inabalável em seus princípios, respondendo à sua sedutora: "Como pois faria eu este tamanho mal, e pecaria contra Deus?" Gên. 39:9. Força moral como a que ele manifestou é de que estamos precisando hoje.

Se as mulheres quisessem corrigir sua conduta e tornar-se cooperadoras de Cristo, sua influência ofereceria menos perigo, mas com a sua real negligência quanto aos deveres domésticos e as exigências que Deus tem a seu respeito, sua influência se exerce com força em prejuízo da orientação legítima, suas faculdades se atrofiam, e sua obra não tem a aprovação divina. Não são missionárias em casa nem fora; e com freqüência seu lar, seu precioso lar, é deixado em completo abandono.

Todo o homem que professa a Cristo deve esforçar-se por vencer tudo que é indigno de um homem, toda fraqueza e leviandade. Alguns jamais chegam até a estatura perfeita de homens em Cristo Jesus. São ingênuos e presumidos; mas a piedade poderia corrigir todos estes defeitos. A verdadeira religião não se caracteriza por uma condescendência ingênua. É em todos os aspectos digna. Oxalá nenhum dos que se alistaram como soldados nas fileiras de Cristo venha a desviar-se no dia da prova. Todos devem reconhecer que têm um trabalho sério a fazer, que é elevar os semelhantes de seu estado decaído. A ninguém assiste o direito de depor as armas em meio da luta que torna mais desejável a virtude e odioso o vício; para o cristão ativo não há descanso aquém das moradas eternas. Obedecer aos mandamentos de Deus é fazer o que é justo e somente o que é justo. Nisto consiste a varonilidade cristã.

Mas muitos necessitam tomar repetidas e freqüentes lições do exemplo de Cristo, que é o autor e consumador de nossa fé.


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"Considerai pois Aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra Si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos. Ainda não resististes até ao sangue, combatendo o pecado." Heb. 12:3 e 4. Deveis crescer na graça cristã. Se nas ofensas revelardes mansidão e vos apartardes de todas as coisas vis da Terra, dareis a prova de que Cristo habita em vós, e com cada pensamento, palavra e ato atraireis os homens para Jesus e não para vós mesmos. Há uma grande soma de trabalho a fazer e pouco tempo resta para fazê-lo. Seja o propósito de vossa vida incutir em todos a idéia de que têm um trabalho a fazer para Cristo. Aceitai quaisquer deveres que outros deixam de reconhecer, por isso que não querem compreender a missão que lhes está confiada, e cumpri-os.

Homens de Reputação Excelente

O padrão da moralidade não tem sido suficientemente exaltado entre o povo de Deus. Muitos dos que professam observar os mandamentos divinos, e se propõem defendê-los, os transgridem. As tentações se apresentam de tal forma que o tentado imagina descobrir uma justificativa para a transgressão. Os que entram para o campo missionário devem ser homens e mulheres que andam e falam com Deus. Os que ocupam o púlpito sagrado como pastores devem ser homens de uma reputação excelente; sua vida deve ser íntegra, superior a tudo que tenha o menor traço de impureza. Não arrisqueis vossa reputação, aventurando-vos no caminho da tentação.

Se uma mulher vos apertar a mão demoradamente, retirai-a prontamente, salvando-a do pecado. Se ela vos manifestar uma afeição indevida, queixando-se de que seu marido não a ama nem simpatiza com ela, não tenteis suprir essa falta. A única maneira sábia e segura de agir em tal hipótese é guardar para vós a vossa simpatia. Tais casos são muito freqüentes.

Apontai essas almas para Aquele que leva nossas aflições, e é o único Conselheiro sábio e verdadeiro. Se ela tiver escolhido a Cristo por seu companheiro, Ele lhe dará graça para suportar esse abandono sem murmuração; por outro lado


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cumpre-lhe fazer diligentemente tudo que lhe for possível para unir a si o marido, votando-lhe a mais estrita fidelidade, e provando-se também solícita em tornar o lar alegre e atrativo. Se todos os seus esforços forem frustrados, deixando de ser apreciados, terá a simpatia e o apoio do Salvador. Ele a ajudará a levar a carga e a consolará nas decepções. Buscando entre os homens o que supra a falta que sente e que Cristo está sempre pronto a preencher, manifesta desconfiança nele. Com sua murmuração peca contra Deus. Seria melhor que fizesse um exame de consciência, a ver se porventura não a está tentando algum pecado. A alma que deste modo busca a simpatia humana e aceita as atenções proibidas de quem quer que seja, não está limpa diante de Deus.

A Bíblia apresenta muitas ilustrações frisantes da poderosa influência exercida pela mulher mal-intencionada. Quando Balaão foi chamado para amaldiçoar a Israel, isto não lhe foi permitido, porquanto o Senhor "não viu iniqüidade em Israel, nem contemplou maldade em Jacó". Núm. 23:21. Mas Balaão, que já se havia rendido à tentação, se constituiu totalmente um instrumento de Satanás, e determinou conseguir indiretamente o que diretamente não lhe foi possível. Ideou imediatamente uma cilada que consistiu em seduzir os israelitas pelo encanto das formosas moabitas a transgredirem os mandamentos divinos. Deste modo neles seria achada iniqüidade, e a bênção divina lhes seria retirada. Suas forças seriam notavelmente reduzidas e os inimigos não teriam mais a temer o seu poder, porque a presença do Senhor não continuaria com os seus exércitos.

Constitui isto um aviso para o povo de Deus nos últimos dias. Se ele seguir a inteira justiça e a santidade, guardando os mandamentos de Deus, Satanás e seus agentes não poderão vencê-lo. Toda oposição de seus mais ferrenhos inimigos será impotente para arrancar ou destruir a vinha que o Senhor plantou. Satanás compreende o que Balaão teve de aprender por uma triste experiência, a saber, que contra Jacó não há encantamento nem adivinhação possível enquanto a iniqüidade nele


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não tiver acolhida. Por tal motivo seu poder e influência se empregam constantemente no sentido de destruir a união do crente com Deus e macular a pureza de seu caráter. Suas ciladas são armadas de mil modos diferentes, a fim de debilitar a eficácia do crente para o bem.

Cultivar a Sociabilidade com um Propósito

Ainda uma vez quero insistir na necessidade de cultivar a pureza de pensamento, palavras e ação. Temos uma responsabilidade individual para com Deus, um trabalho pessoal que ninguém pode fazer por nós: é regenerar o mundo pelo ensino, exemplo e esforço pessoal. Cultivando a sociabilidade, não o façamos simplesmente por passatempo, e sim com um propósito útil. Há almas a salvar. Aproximemo-nos delas pelo esforço pessoal. Franqueemos as nossas portas aos moços que estão expostos a tentações. O mal os solicita por toda parte. Procurai interessá-los. Se têm defeitos, procurai corrigi-los. Não vos afasteis deles, mas buscai seu contato. Introduzi-os no vosso lar, convidai-os para assistir ao culto doméstico. Há milhares que precisam que se faça tal serviço por eles. Cada árvore no jardim de Satanás está carregada de frutos sedutores e venenosos, e maldição é pronunciada sobre cada um que deles colher e comer. Lembremo-nos do que Deus exige de nós: que tornemos o caminho do Céu, claro, brilhante e atraente, para que nos seja dado afastar as almas dos destrutivos encantamentos de Satanás.

Deus nos deu o entendimento para o usarmos para um fim nobre. É este o nosso tempo de prova para a vida futura. É um tempo demasiado solene para andarmos descuidosos e permanecermos na incerteza. Nossas relações com outros devem caracterizar-se pela honestidade e um espírito de piedade. Nossa conversação deve versar sobre as coisas que são de cima. "Então aqueles que temem ao Senhor falam cada um com o seu companheiro; e o Senhor atenta e ouve; e há um memorial escrito diante dele, para os que temem o Senhor, e para os que se lembram do Seu nome. E eles serão Meus, diz o Senhor


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dos Exércitos, naquele dia que farei serão para Mim particular tesouro; poupá-los-ei, como um homem poupa a seu filho, que o serve." Mal. 3:16 e 17.

Que poderia ser mais digno de ocupar nossos pensamentos do que o plano de redenção? É um tema inesgotável. O amor de Jesus, a salvação oferecida ao homem decaído por esse infinito amor, a santidade do coração, a verdade preciosa e salvadora destes últimos dias e a graça de Cristo, são assuntos próprios para animar a alma e fazer que o coração puro experimente a alegria que tiveram os discípulos quando Jesus com eles caminhou ao dirigirem-se para Emaús. Aquele que tiver feito de Jesus o objeto principal de seu amor, terá prazer em Sua santa companhia e de tal comunhão colherá força; o que, porém, não revelar gosto por essa espécie de conversação e preferir falar sobre futilidades sentimentais, afastou-se muito de Deus e é insensível às aspirações nobres e santas. O sensual e o terreno é por ele confundido com o celestial. Quando a conversação é de caráter frívolo, revelando um desejo mal satisfeito de simpatia e reconhecimento humano, procede de um sentimentalismo apaixonado, que faz correr perigo tanto aos jovens como aos idosos. Se a verdade de Deus for um princípio constante da alma, esta será como uma fonte de água viva. Poderão tentar estancá-la, mas irromperá por outro lado; permanece e não pode ser reprimida. A verdade no coração é um manancial de vida, que refrigera ao cansado e abafa os pensamentos e expressões más.

Porventura não ocorrem muitas coisas a nosso redor que nos deveriam prevenir dos perigos que espreitam em nossa vereda? Por toda parte se observam destroços humanos, altares domésticos abandonados, laços de família desfeitos. Nota-se um estranho abandono dos princípios, um rebaixamento das normas de moralidade; predominam cada vez mais os pecados que determinaram os juízos divinos por ocasião do dilúvio e da destruição de Sodoma pelo fogo. Estamos nos avizinhando do fim. Deus suportou bastante tempo a perversidade do


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homem, mas nem por isso o seu castigo é menos certo. Que todos os que professam ser a luz do mundo se apartem da iniqüidade. Vemos hoje, manifestado contra a verdade, o mesmo espírito notado nos dias de Cristo. Por falta de argumentos bíblicos, os que invalidam a lei de Deus forjam mentiras, a fim de macular e difamar os obreiros. Fizeram isto ao Redentor do mundo e fá-lo-ão também a Seus seguidores. Boatos que não têm o menor fundamento serão tidos como fatos.

O Segredo da Força

Deus tem abençoado Seu povo que observa Seus mandamentos, e toda a oposição e mentira que contra ele se levante, contribuirá somente para robustecer os que tomaram a si a defesa da fé "uma vez entregue aos santos". Mas se os que professam ser depositários da lei de Deus se tornarem transgressores dessa mesma lei, Seu cuidado protetor ser-lhes-á retirado e muitos cairão por sua perversidade e licenciosidade. Nessas condições seremos incapazes de manter-nos diante de nossos inimigos. Mas, se o povo de Deus se conservar separado e distinto do mundo, como uma nação justa, Deus será sua defesa, e nenhuma arma usada contra ele poderá prevalecer.

Em vista dos tempos perigosos que atravessamos, não deveríamos, como um povo que guarda os mandamentos de Deus, renunciar todo pecado, iniqüidade e perversidade? Não deviam as mulheres que professam a verdade pôr-se em estrita guarda, a fim de não darem o menor pretexto para qualquer intimidade indébita? Poderão fechar muitas portas à tentação observando perfeito recato e conduta exemplar. Que os homens se inspirem no exemplo de José, sustentando firmemente seus princípios por mais tentados que sejam. Temos de ser homens e mulheres fortes ao lado do direito. Há ao redor de nós muitas pessoas fracas do ponto de vista moral. Estas necessitam da comunhão das que são fortes e cujo coração está estreitamente ligado ao de Cristo. Os princípios


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de cada um hão de ser postos à prova. Mas há pessoas que correm ao encontro da tentação como um louco que se mete a si próprio em cadeias. Convidam o inimigo a tentá-las. Debilitam-se e enfraquecem-se em força moral, e a vergonha e a confusão são a natural conseqüência.

A Igreja e o Mundo

Quão desprezíveis aos olhos de um Deus santo devem ser os que professam vindicar Sua lei, e contudo são violadores dela! Acarretam opróbrio à boa causa e dão aos adversários oportunidades de triunfar. Jamais a linha de separação entre os seguidores de Jesus e os de Satanás deve obliterar-se. Há uma linha divisória distinta, traçada por Deus mesmo, entre a igreja e o mundo, entre os que observam Seus mandamentos e os que quebrantam Seus preceitos. Não se unem uns aos outros. Divergem uns dos outros como o dia da noite pelos seus gostos, aspirações, propósitos e caráter. Cultivando o amor e o temor de Deus, havemos de aborrecer até a coisa mais insignificante que tenha sinais de impureza.

Que o Senhor Se digne atrair as almas e incutir-lhes a consciência de sua sagrada responsabilidade de formar caráter tal que Cristo não Se envergonhe de chamá-las irmãos. Proponde-vos um escopo elevado, e naquele dia, quando cada um for recompensado conforme suas obras, a bênção divina será pronunciada sobre vós. Os obreiros de Deus devem conduzir-se sempre como em Sua presença pessoal e desenvolver continuamente um caráter que se distinga pela virtude e piedade. Seu espírito e coração devem estar de tal forma imbuídos do espírito de Cristo e santificados pela solenidade da mensagem que devem levar, que cada pensamento, ato e motivo de sua alma esteja muito acima de tudo quanto é terreno e sensual. Sua felicidade não consistirá na satisfação de desejos egoístas e proibidos, e sim na comunhão de Jesus e de Seu amor.

Minha prece é esta: "Senhor, unge os olhos de Teus filhos,


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para que possam distinguir entre o pecado e a santidade, entre a contaminação e a pureza, saindo finalmente triunfantes."

Na luta com a corrupção interior e as tentações do exterior, mesmo o sábio e poderoso Salomão foi vencido. Não é seguro permitir o mínimo desvio da mais estrita integridade. "Abstende-vos de toda a aparência do mal." I Tess. 5:22. Se uma mulher relata a outro homem suas dificuldades de família, ou se queixa do esposo, ela transgride seus votos matrimoniais; desonra seu esposo e derriba o muro erguido para preservar a santidade da ligação matrimonial; abre de par em par a porta e convida Satanás a entrar com suas tentações perigosas. Isso é exatamente o que Satanás deseja. Se uma mulher vai ter com um irmão cristão para lhe narrar suas mágoas, decepções e provas, dever-lhe-ia ele aconselhar - se é que ela precisa confiar a alguém suas dificuldades - a escolher irmãs como confidentes suas, e então não haverá aparência do mal, por cujo meio a causa de Deus possa sofrer opróbrio. Testimonies, vol. 2, pág. 306, 1869.

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