Testemunhos Seletos - Volume 2

CAPÍTULO 25

A Igreja, a Luz do Mundo

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O Senhor chamou Seu povo Israel e separou-os do mundo a fim de poder-lhes confiar um sagrado legado. Fê-los depositários de Sua lei, e era Seu desígnio conservar por meio deles entre os homens o conhecimento de Deus. Por eles devia a luz do Céu brilhar até aos lugares mais escuros da Terra, e fazer-se ouvir uma voz chamando todos os povos a se voltarem da idolatria para servirem ao Deus vivo e verdadeiro. Houvessem os hebreus sido fiéis a esse legado, e teriam sido uma força no mundo. Deus teria sido sua defesa, e os haveria exaltado acima de todas as outras nações. Sua luz e verdade teriam sido reveladas por meio deles, e eles se haveriam destacado sob Seu sábio e santo governo como um exemplo da superioridade desse governo sobre toda forma de idolatria.

Eles, porém, não mantiveram seu concerto com Deus. Seguiram as práticas idólatras das outras nações, e em vez de tornarem o nome de seu Criador um louvor na Terra, sua conduta levou-o ao desprezo dos pagãos. Todavia o desígnio de Deus tem de cumprir-se. O conhecimento de Sua vontade precisa ser difundido pela Terra. Deus trouxe a mão do opressor sobre Seu povo, e espalhou-os como cativos entre as nações. Na aflição, muitos deles se arrependeram de suas transgressões e buscaram ao Senhor. Dispersos pelos países dos gentios, disseminaram largamente o conhecimento do verdadeiro Deus. Os princípios da lei divina entraram em conflito com os costumes e práticas das nações. Os idólatras buscaram esmagar a fé verdadeira. Em Sua providência, o Senhor pôs Seus servos Daniel, Neemias e Esdras, face a face com reis e


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governadores, para que esses idólatras tivessem oportunidade de receber a luz. Assim a obra que Deus dera a Seu povo na prosperidade, dentro de suas fronteiras, mas que fora negligenciada devido à infidelidade, teve de ser por eles realizada em cativeiro, sob grande provação e dificuldades.

Chamou Deus Sua igreja hoje, como chamara o antigo Israel, a fim de erguer-se como luz na Terra. Pela poderosa espada da verdade, as mensagens do primeiro, segundo e terceiro anjos, separou-os das igrejas e do mundo para trazê-los a uma santa proximidade dele. Fê-los depositários de Sua lei, e confiou-lhes as grandes verdades da profecia para este tempo. Como as Santas Escrituras confiadas ao antigo Israel, estas são um sagrado depósito a ser comunicado ao mundo. Os três anjos de Apocalipse 14 representam o povo que aceita a luz das mensagens de Deus, e vão como agentes Seus fazer soar a advertência por toda a extensão e largura da Terra. Cristo declara a Seus seguidores: "Vós sois a luz do mundo." Mat. 5:14. A toda alma que aceita a Jesus, diz a cruz do Calvário: "Vede o valor da alma. "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura."" Mar. 16:15. Não se deve permitir que coisa alguma impeça esta obra. É a obra todo-importante para este mundo; deve ser de tão vasto alcance como a eternidade. O amor manifestado por Jesus pelas almas dos homens no sacrifício feito por sua redenção, atuará em todos os Seus seguidores.

Repetiremos a Experiência de Israel?

Muito poucos dos que receberam a luz, no entanto, estão fazendo a obra confiada a suas mãos. Poucos são os homens de incondicional fidelidade, que não consideram a comodidade, as conveniências ou a própria vida, que abrem seu caminho para onde quer que possam achar uma porta por onde forcem a luz da verdade e reivindiquem a santa lei de Deus. Mas os pecados que controlam o mundo têm penetrado nas igrejas e no coração daqueles que professam ser o povo peculiar de Deus. Muitos


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dos que receberam a luz exercem sua influência no sentido de aquietar os temores dos professos mundanos e formais.

Há amantes do mundo mesmo entre os que professam estar aguardando o Senhor. Há ambição de riquezas e de honras. Cristo descreve esta classe quando declara que o dia de Deus virá como um laço sobre todos os que habitam na Terra. Este mundo é seu lar. Fazem do adquirir riquezas sua ocupação. Constroem custosas habitações e mobiliam-nas com tudo quanto é bom; comprazem-se no vestuário e na satisfação do apetite. As coisas do mundo são seus ídolos. Estas coisas se interpõem entre a alma e Cristo, e as solenes e assombrosas realidades que se estão adensando sobre nós não são vistas senão muito palidamente e muito fracamente avaliadas. A mesma desobediência e o mesmo fracasso observados na igreja judaica, têm caracterizado em maior grau o povo que recebeu esta grande luz do Céu nas últimas mensagens de advertência. Deixaremos que a história de Israel se repita em nossa experiência? Havemos nós de, à semelhança deles, esbanjar nossas oportunidades e privilégios até que Deus permita nos sobrevirem opressão e perseguição? Será a obra que podia ser efetuada em paz e relativa prosperidade deixada por fazer até que precise ser realizada em dias de trevas, sob a pressão das provas e da perseguição?

Terrível é a quantidade de culpa que pesa sobre a igreja. Por que não estão os que possuem a luz desenvolvendo diligentes esforços para levá-la a outros? Vêem que o fim está perto. Vêem multidões transgredindo diariamente a lei de Deus; e sabem que essas almas não podem salvar-se em transgressão. Têm todavia mais interesse em seu comércio, suas plantações, suas casas, suas mercadorias, seus vestidos, sua mesa, do que nas almas de homens e mulheres que devem encontrar face a face no juízo. O povo que pretende obedecer à verdade acha-se adormecido. Não poderiam estar tão a cômodo como estão, caso estivessem despertos. O amor da verdade está se extinguindo em seu coração. Seu exemplo não é de molde a convencer o


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mundo de que eles possuem uma verdade mais avançada que qualquer outro povo da Terra. No próprio tempo em que deviam ser fortes em Deus, tendo diariamente uma viva experiência, acham-se fracos, hesitantes, descansando nos pregadores como seu ponto de apoio, quando deviam estar ministrando a outros com a mente, a alma, a voz, a pena, o tempo e o dinheiro.

Fracos Por Escolha

Irmãos e irmãs, muitos de vós vos desculpais do trabalho sob pretexto de incapacidade para trabalhar por outros. Mas acaso vos fez Deus assim incapazes? Não foi essa incapacidade produzida por vossa própria inatividade, e perpetuada por vossa própria e deliberada escolha? Não vos deu Deus pelo menos um talento a multiplicar, não para vosso próprio proveito e satisfação, mas para Ele? Tendes vós compreendido a obrigação que sobre vós pesa, como servos assalariados Seus, de trazer-Lhe os juros pelo sábio e hábil emprego desse capital a vós confiados? Não tendes perdido oportunidades de desenvolver vossas faculdades para esse fim? É demasiado verdadeiro que poucos são os que têm experimentado um real sentimento de sua responsabilidade para com Deus. Amor, discernimento, memória, previsão, tato, energia e todas as outras faculdades têm sido consagradas ao próprio eu. Tendes manifestado mais sabedoria no serviço do mal do que na causa de Deus. Tendes pervertido, inutilizado, ainda mais, embrutecido vossas faculdades pela intensa atividade que desenvolveis nos empreendimentos mundanos, com negligência da obra de Deus.

Todavia acalmais a consciência dizendo que não podeis desfazer o passado, e adquirir o vigor, a resistência e habilidade que poderíeis ter tido se houvésseis empregado vossas faculdades como Deus demandava. Lembrai-vos, porém, que Ele vos considera responsáveis pela obra negligentemente feita ou deixada de fazer por causa de vossa infidelidade. Quanto mais exercitardes as faculdades para o Mestre, tanto mais aptos e hábeis vos tornareis. Quanto mais estreitamente vos ligardes com a Fonte da luz e do poder, tanto maior luz será derramada sobre vós, e tanto maior poder tereis para usar para Deus. E por tudo quanto


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poderíeis ter tido, mas deixastes de obter devido a vosso devotamento ao mundo, sois responsáveis. Quando vos tornastes seguidores de Cristo, vos comprometestes a servi-Lo, e a Ele tão-somente, Ele prometeu estar convosco e abençoar-vos, refrigerar-vos com Sua luz, assegurar-vos Sua paz, e tornar-vos alegres em Seu serviço. Acaso deixastes de receber essas bênçãos? Estai certos de que foi o resultado de vosso próprio procedimento.

A fim de escapar ao serviço militar durante a guerra, houve homens que atraíram doenças, outros se aleijaram a fim de serem considerados incapazes para o serviço. Aí está uma ilustração da atitude que muitos têm seguido em relação com a causa de Deus. Têm prejudicado suas faculdades, tanto físicas como mentais, de modo que são incapazes para fazer a obra tão grandemente necessitada.

Sou eu Guardador de meu Irmão?

Suponde que vos fosse posta na mão uma importância de dinheiro para que a empregásseis em determinado desígnio; havíeis de atirá-la fora e declarar que não éreis agora responsáveis pelo emprego da mesma? Sentiríeis haver-vos poupado grande cuidado? Todavia é isto que tendes estado a fazer com os dons de Deus. Deixar de trabalhar por outros sob pretexto de incapacidade, quando estais absorvidos em empreendimentos mundanos, é zombar de Deus. Há multidões descendo à ruína; o povo que tem recebido luz e verdade não passa de uma minoria a conter todo o exército do mal; todavia, esse pequenino grupo está devotando as suas energias a qualquer coisa e a tudo, menos a aprender como salvá-las da morte. Será de admirar que a igreja seja fraca e ineficiente, que pouco possa Deus fazer por Seu povo professo? Eles se colocam em posição onde Lhe é impossível trabalhar com eles e por eles. Ousais acaso continuar a desconsiderar Suas reivindicações? Brincareis ainda com os mais sagrados legados do Céu? Direis porventura como Caim: "Sou eu guardador do meu irmão?" Gên. 4:9.

Lembrai-vos de que vossa responsabilidade não se mede


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por vossos recursos e aptidões atuais, mas pelas faculdades originalmente concedidas e as possibilidades de desenvolvimento. A pergunta que cada um deve fazer-se a si mesmo, não é se ele se encontra agora sem experiência e incapaz para trabalhar na causa de Deus, mas como e por que se encontra nessas condições, e como pode isto ser remediado. Deus não nos dotará sobrenaturalmente das faculdades que nos faltam; mas ao passo que exercitamos as aptidões que temos, Ele operará conosco, para aumentar e fortalecer toda faculdade; nossas energias adormecidas se despertarão, e potencialidades há muito paralisadas receberão nova vida.

Enquanto nos encontramos no mundo, teremos que ver com as coisas do mundo. Haverá sempre necessidade de transação de negócios temporais, seculares; isto, porém, jamais deve tornar-se todo-absorvente. O apóstolo Paulo deu uma regra segura: "Não sejais vagarosos no cuidado: sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor." Rom. 12:11. Os deveres humildes e comuns da vida, devem ser todos cumpridos com fidelidade; "de coração", diz o apóstolo, "como ao Senhor". Col. 3:23. Seja qual for nosso ramo de serviço, seja ele o trabalho doméstico, seja o labor no campo, sejam prossecuções intelectuais, podemos realizá-las para a glória de Deus enquanto dermos a Cristo o primeiro, o último e o melhor lugar em tudo. Além desses empregos mundanos, porém, é dada a todo seguidor de Cristo uma obra especial para a edificação de Seu reino - uma obra que requer esforço pessoal pela salvação de homens. Não é um trabalho a ser feito uma vez por semana apenas, no lugar de culto, mas em todo tempo e em todos os lugares.

Compromisso com o Serviço do Mestre

Todo aquele que se liga com a igreja, faz por esse ato um voto solene de trabalhar pelos interesses da igreja, e de manter esse interesse acima de toda consideração mundana. Sua obra é conservar viva comunhão com Deus, empenhar-se de coração e alma no grande plano da redenção, e mostrar, em sua vida e caráter, a excelência dos mandamentos de Deus em contraste


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com os costumes e preceitos do mundo. Toda pessoa que fez profissão de Cristo, comprometeu-se a ser tudo quanto lhe seja possível ser como um obreiro espiritual, a ser ativo, zeloso e eficiente no serviço de seu Mestre. Cristo espera que cada homem cumpra seu dever; seja esta a senha em todas as fileiras de Seus seguidores.

Não devemos esperar que nos solicitem a comunicar luz, a ser importunados por conselho ou instrução. Toda pessoa que recebe os raios do Sol da Justiça, deve refletir-Lhe o brilho a todos os que a cercam. Sua religião deve exercer positiva e decidida influência. Suas orações e súplicas devem estar tão impregnadas do Espírito Santo, que abrandem e subjuguem a alma. Disse Jesus: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus." Mat. 5:16. Melhor é para um mundano o nunca ter visto um mestre de religião, do que chegar sob a influência de um que seja ignorante do poder da piedade. Se Cristo fosse nosso modelo, Sua vida nossa regra, que zelo se manifestaria, que esforços seriam desenvolvidos, que liberalidade exercida, quanta abnegação praticada! Quão infatigável devia ser o labor, quão fervorosas orações em busca de poder e de sabedoria ascenderiam a Deus! Se todos os professos filhos de Deus sentissem ser a primordial ocupação da vida fazer a obra que Ele lhes mandou realizar, se trabalhassem abnegadamente em Sua causa, que mudança se manifestaria em lares e corações, em igrejas, sim, no próprio mundo!

Em todos os séculos foi reclamado dos seguidores de Cristo vigilância e fidelidade; mas agora que nos achamos no limiar do mundo eterno, possuindo as verdades que temos, de posse de tão grande luz, de uma obra tão importante, cumpre-nos dobrar de diligência. Cada um deve fazer o máximo de suas aptidões. Meu irmão, pondes em risco vossa própria salvação se ficais agora para trás. Deus vos chamará a contas se falhardes na obra que vos designou. Tendes conhecimento da verdade? Dai-a aos outros.

Que posso eu dizer para despertar nossas igrejas? Que


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posso eu dizer aos que têm desempenhado parte preeminente na proclamação da última mensagem? "O Senhor vem", deve ser o testemunho apresentado, não só pelos lábios, mas pela vida e o caráter; porém muitos a quem Deus concedeu luz e conhecimento, talentos de influência e meios, são homens que não amam a verdade e não a praticam. Beberam a tão largos goles da intoxicante taça do egoísmo e da mundanidade, que ficaram embriagados com os cuidados desta vida.

Irmãos, se continuardes a ser tão preguiçosos, tão mundanos, tão egoístas como tendes sido, certamente Deus vos passará por alto e tomará aqueles que cuidam menos de si mesmos. Os menos ambiciosos de honras mundanas não hesitarão em sair, como fez seu Mestre, levando a desonra. A obra será dada àqueles que lançarão mãos dela, que apreciam, que lhe entretecem os princípios na vida diária. Deus escolherá homens humildes que buscam glorificar-Lhe o nome e promover-Lhe a causa de preferência a honrar e prosperarem-se a si mesmos. Ele suscitará homens que não possuem tanta sabedoria do mundo, mas que estão ligados com Ele e buscarão conselho e forças do alto.

No Poder da Verdadeira Piedade

Alguns de nossos dirigentes inclinam-se a condescender com o espírito manifestado pelo apóstolo João quando disse: "Mestre, vimos um que em Teu nome expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue." Mar. 9:38. São essenciais a organização e a disciplina, mas há agora grande risco de apartar-nos da simplicidade do evangelho de Cristo. O que necessitamos, é menos confiança em meras formas e cerimônias, e muito mais poder da verdadeira piedade. Se sua vida e caráter são exemplares, trabalhem todos quantos quiserem, em qualquer atividade. Se bem que não se conformem em tudo com os vossos métodos, não se deve proferir uma palavra para condená-los ou desanimá-los. Quando os fariseus quiseram que Jesus fizesse calar as crianças que Lhe cantavam o louvor, o Salvador disse: "Se estes se calarem, as próprias pedras


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clamarão." Luc. 19:40. A profecia tem de cumprir-se.

Assim, nestes dias, deve a obra ser feita. Há muitos departamentos de trabalho; desempenhe cada um uma parte, da melhor maneira que lhe seja possível. O homem que tem apenas um talento não o deve enterrar na terra. Deus deu a cada um sua obra, segundo as aptidões que possui. Aqueles a quem foram confiados maiores legados e capacidades, não devem procurar reduzir ao silêncio outros de menos capacidade ou experiência. Os homens dotados de um talento podem alcançar uma classe de que os que possuem dois ou cinco talentos não se podem aproximar. Grandes e pequenos são igualmente vasos escolhidos para levar a água da vida às almas sedentas. Não ponham os que pregam a Palavra a mão no mais humilde obreiro, dizendo: "Você deve trabalhar neste ramo ou não trabalhar absolutamente." Não façais isto, irmãos. Trabalhe cada um em sua própria esfera, revestido de sua própria armadura, fazendo seja o que for que possa fazer em sua maneira humilde. Fortalecei-lhe as mãos na obra. Não é tempo de o farisaísmo dominar. Deixai que Deus opere por meio de quem Ele quiser. A mensagem precisa avançar.

Apelo aos Leigos

Todos devem mostrar sua fidelidade para com Deus pelo sábio emprego do capital a ele confiado, não somente em meios, mas em qualquer dote que tenda para a edificação de Seu reino. Satanás empregará todo meio possível para impedir a verdade de chegar aos que se acham imersos no erro; a voz da advertência e do rogo, porém, deve alcançá-los. E ao passo que apenas poucos estão empenhados nesta obra, milhares devem estar tão interessados quanto eles.

Nunca foi desígnio de Deus que os membros leigos da igreja evitassem trabalhar em Sua causa. "Vai trabalhar hoje na Minha vinha" (Mat. 21:28) é a ordem do Mestre a cada um de Seus seguidores. Enquanto houver almas por converter no mundo, deve haver pela sua salvação o mais ativo, zeloso, fervente e determinado esforço. Os que receberam a luz, devem buscar


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esclarecer os que não a têm. Se os membros da igreja não lançarem individualmente mão desta obra, mostrarão assim não estar em viva conexão com Deus. Seu nome está registrado como servos negligentes. Não podeis discernir a razão por que não há mais espiritualidade em nossas igrejas? É porque não sois colaboradores de Cristo.

Deus deu a cada homem sua obra. Esperemos, cada um de nós, em Deus, e Ele nos ensinará a trabalhar, e qual trabalho somos mais aptos para fazer. Todavia ninguém deve começar com espírito independente, a promulgar teorias novas. Os obreiros devem estar em harmonia com a verdade e com seus irmãos. Importa que haja conselho e cooperação. Não devem sentir, porém, que devem a cada passo esperar para perguntar a um obreiro de mais responsabilidade se podem fazer isto ou aquilo. Não olheis ao homem no sentido de receber guia, mas ao Deus de Israel.

O trabalho que a igreja tem deixado de fazer em tempo de paz e prosperidade terá de realizar em terrível crise, sob as circunstâncias mais desanimadoras e difíceis. As advertências que a conformidade com o mundo tem silenciado ou retido, precisam ser dadas sob a mais feroz oposição dos inimigos da fé. E por aquele tempo a classe dos superficiais, conservadores, cuja influência tem retardado decididamente o progresso da obra, renunciará à fé e tomará sua posição com os francos inimigos dela, para os quais havia muito tendiam suas simpatias. Esses apóstatas hão de manifestar então a mais cruel inimizade, fazendo tudo quanto estiver ao seu alcance para oprimir e fazer mal a seus antigos irmãos e incitar indignação contra eles. Esse tempo se acha justamente diante de nós.

Os membros da igreja serão individualmente provados. Serão colocados em circunstâncias em que se verão forçados a dar testemunho da verdade. Muitos serão chamados a falar diante de concílios e em tribunais de justiça, talvez separadamente e sozinhos. A experiência que os haveria ajudado nessa emergência, negligenciaram obter, e sua alma se acha opressa de remorsos pelas oportunidades desperdiçadas e os privilégios que negligenciaram.


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Sem mais Demora

Meu irmão, minha irmã, ponderai estas coisas, eu vos peço. Tendes, cada um de vós, uma obra a fazer. Vossa infidelidade e negligência acham-se registradas contra vós no Livro do Céu. Tendes enfraquecido vossas faculdades e diminuído vossas aptidões. Faltam-vos a experiência e eficiência que poderíeis ter. Antes, porém, que seja para sempre demasiado tarde, insisto convosco para que desperteis. Não vos demoreis mais. O dia é quase passado. O Sol poente está prestes a desaparecer para sempre aos vossos olhos. Todavia enquanto o sangue de Cristo intercede, podeis encontrar perdão. Reuni todas as energias da alma, empregai as poucas horas restantes em diligente labor para Deus e vossos semelhantes.

Meu coração se acha profundamente comovido. As palavras são inadequadas para exprimir meus sentimentos ao interceder eu pelas almas perdidas. Tenho eu de pleitear em vão? Como embaixadora de Cristo, quisera despertar-vos para trabalhar como nunca dantes trabalhastes. Vosso dever não pode ser passado a outro. Ninguém senão vós mesmos pode realizar vossa obra. Caso retenhais a luz que tendes, alguém deve ser deixado em trevas por causa de vossa negligência.

A eternidade estende-se diante de nós. A cortina está a ponto de ser erguida. Nós, que ocupamos esta posição solene, de responsabilidade, que estamos fazendo, em que estamos pensando, que nos apegamos a nosso egoísta amor da comodidade, enquanto almas estão perecendo ao nosso redor? Acaso se tornaram nossos corações de todo calejados? Não podemos nós sentir ou compreender que temos uma obra a efetuar pela salvação dos outros? Irmãos, sois porventura da classe dos que, tendo olhos não vêem, e tendo ouvidos não ouvem? Será em vão que Deus vos deu o conhecimento de Sua vontade? Terá sido em vão que Ele vos tem enviado advertência após advertência? Acreditais nas declarações da verdade eterna quanto ao que está para acontecer na Terra, acreditais que os juízos de Deus estão impendentes sobre o povo, e podeis ainda sentar-vos a gosto, indolentes, descuidosos, amando o prazer?


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Tesouro no Céu

Não é tempo agora de o povo de Deus estar fixando suas afeições ou entesourando neste mundo. Não vem muito distante o tempo em que, como os antigos discípulos, seremos forçados a buscar refúgio em lugares desolados e solitários. Como o cerco de Jerusalém pelos exércitos romanos era o sinal de fuga para os cristãos judeus, assim o arrogar-se nossa nação o poder no decreto que torna obrigatório o dia de repouso papal será uma advertência para nós. Será então tempo de deixar as grandes cidades, passo preparatório ao sair das menores para lares retirados em lugares solitários entre as montanhas. E agora, em vez de buscarmos dispendiosas moradas aqui, devemos estar-nos preparando para mudar-nos para um país melhor, isto é, o celestial. Em vez de gastar nosso dinheiro em nos comprazer a nós mesmos, cumpre-nos estudar a maneira de economizar. Cada talento emprestado por Deus deve ser empregado para glória Sua, em proclamar a advertência ao mundo. Deus tem uma obra para Seus obreiros fazerem nas cidades. Nossas missões precisam ser mantidas; outras novas precisam abrir-se. Para levar avante esta obra com êxito, não será preciso pequeno dispêndio. Necessitam-se casas de culto, onde o povo seja convidado a ouvir as verdades para este tempo. Justamente para esse desígnio confiou Deus capital a Seus mordomos. Não prendais vossos bens em empreendimentos mundanos, de modo que esta obra seja prejudicada. Ponde o dinheiro onde o possais manejar para o benefício da causa de Deus. Mandai vossos tesouros adiante de vós para o Céu.

Os membros da igreja devem-se colocar individualmente a si com todos os seus bens no altar de Deus. Agora, como nunca dantes, aplica-se a admoestação do Salvador: "Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos Céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói. Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração." Luc. 12:33 e 34. Os que estão empregando seus recursos em grandes casas, em


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terra, em empreendimentos mundanos, estão, por suas ações, dizendo: "Deus não os pode ter; quero-os para mim mesmo." Esses atam seu talento em um lenço, e escondem-no na terra. Há motivo para ficarem alarmados. Irmãos, Deus não vos confiou meios para ficarem ociosos, nem serem cobiçosamente retidos ou escondidos, mas para ser empregados no avançamento de Sua causa, para salvar as almas dos perdidos. Agora não é tempo para segurar o dinheiro do Senhor em vossos custosos edifícios e em grandes empreendimentos, ao passo que Sua obra fica prejudicada, deixada a mendigar para ir adiante, com o tesouro suprido pela metade. O Senhor não está nessa maneira de trabalhar. Lembrai-vos de que se aproxima rapidamente o dia em que se dirá: "Presta contas da tua mordomia." Luc. 16:2. Não podeis discernir os sinais dos tempos?

Cada dia que passa nos leva mais perto do último e grande, importante dia. Achamo-nos um ano mais perto do juízo, mais perto da eternidade, do que estávamos no começo de 1884. Estamos também nos aproximando mais de Deus? Estamos vigiando em oração? Outro ano de nosso tempo de labor rolou para a eternidade. Dia a dia temos estado no convívio de homens e mulheres que se encaminham para o juízo. Cada dia pode ter sido a linha divisória de uma alma; alguém pode ter tomado a decisão que lhe determinará o destino futuro. Qual tem sido nossa influência sobre esses companheiros de viagem? Que esforços desenvolvemos a fim de levá-los a Cristo?

É Solene Viver

Solene coisa é morrer, mas muito mais solene é viver. Todo pensamento, palavra e ato de nossa vida será novamente enfrentado. O que fazemos de nós mesmos no tempo da graça, isso nos acompanhará por toda a eternidade. A morte traz a dissolução do corpo, mas não opera mudança no caráter. A vinda de Cristo não nos muda o caráter; fixa-o apenas para sempre, além da possibilidade de qualquer mudança.

Apelo novamente para os membros da igreja, para que sejam cristãos, para que sejam semelhantes a Cristo. Jesus foi


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um obreiro, não para Si mesmo, mas para os outros. Trabalhou a fim de beneficiar e salvar os perdidos. Se sois cristãos, imitar-Lhe-eis o exemplo. Ele pôs o fundamento, e nós somos construtores juntamente com Ele. Que material, porém, estamos nós trazendo para colocar sobre esse fundamento? "A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta, e o fogo provará qual seja a obra de cada um." I Cor. 3:13. Se estais dedicando toda a vossa energia e talento às coisas deste mundo, a obra de vossa vida é representada pela madeira, feno, palha, a serem consumidos pelo fogo do último dia. O abnegado trabalho para Cristo, porém, e para a vida futura, será como o ouro, a prata e as pedras preciosas; é imperecível.

Meus irmãos e irmãs, rogo-vos, despertai do sono da morte. É demasiado tarde para consagrar as forças do cérebro, dos ossos e dos músculos ao serviço do próprio eu. Não permitais que o derradeiro dia vos encontre destituídos do tesouro celeste. Procurai levar avante os triunfos da cruz, buscai esclarecer almas, trabalhar pela salvação de vossos semelhantes, e vosso trabalho resistirá à difícil experiência do fogo.

"Se a obra que alguém edificou... permanecer, esse receberá galardão." I Cor. 3:14. Gloriosa será a recompensa concedida quando os fiéis obreiros estiverem reunidos ao redor do trono de Deus e do Cordeiro. Quando João, em seu estado mortal, contemplou a glória de Deus, caiu como morto; não pôde suportar a visão. Quando, porém, o mortal se houver revestido da imortalidade, os remidos serão semelhantes a Jesus, pois tal como é O verão. Acham-se diante do trono, significando que estão aceitos. Todos os seus pecados estão apagados, tiradas todas as suas transgressões. Agora, podem olhar para a plena glória do trono de Deus. Participaram dos sofrimentos de Cristo, foram coobreiros Seus no plano da redenção, e partilham com Ele da alegria de ver almas salvas mediante sua instrumentalidade a louvarem a Deus por toda a eternidade.


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O terceiro anjo a voar pelo meio do céu, e anunciando os mandamentos de Deus e o testemunho de Jesus, representa nossa obra. A mensagem não perde nada de sua força no vôo progressivo do anjo; pois João o vê crescendo em resistência e poder até que a Terra inteira seja iluminada por sua glória. A carreira do povo que guarda os mandamentos de Deus é para a frente, sempre para a frente. A mensagem de verdade que levamos precisa ir a nações, línguas e povos. Ela irá em breve com grande voz, e a Terra será iluminada com sua glória. Estamos nós nos preparando para este grande derramamento do Espírito de Deus? Testimonies, vol. 5, pág. 383, 1885.

Vi um quadro representando um bezerro entre um arado e um altar, com a inscrição: "Pronto para uma ou outra coisa" disposto a arfar no fatigante sulco, ou a sangrar no altar do sacrifício. Eis a posição em que se deve achar sempre o filho de Deus - voluntário para ir aonde o chamar o dever, a negar a si mesmo, a sacrificar-se por amor da causa da verdade. A igreja cristã foi fundada sobre o princípio do sacrifício. "Se alguém quer vir após Mim", diz Cristo, "negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-Me." Luc. 9:23. Ele requer todo o coração, a afeição inteira. As manifestações de zelo, fervor e desinteressado serviço que Seus dedicados seguidores têm dado ao mundo, devem atear-nos o ardor e levar-nos a imitar seu exemplo. A religião genuína comunica uma sinceridade e firmeza de desígnio que molda o caráter segundo a imagem divina, e nos habilita a reputar todas as coisas como perda pela excelência de Cristo. Este propósito único demonstrar-se-á elemento de tremendo poder. Testimonies, vol. 5, pág. 307, 1885.

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